SóProvas


ID
5296210
Banca
NC-UFPR
Órgão
CBM-PR
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O texto a seguir é referência para a questão.


'Speed watching’: o que você perde quando acelera a velocidade do filme?


    Com a pandemia de coronavírus, uma legião de confinados passou a sentir o tempo de forma diferente. Um exemplo disso é o crescente hábito de consumir produções audiovisuais em velocidade acelerada. Cada vez mais plataformas de streaming têm oferecido ferramentas de speed watching, que permitem alterar o ritmo do que se assiste ou se escuta. Na Netflix, é possível ver um filme ou série com até o dobro da velocidade original. As possibilidades são as mesmas no Youtube e no Spotify. Isso estende a funcionalidade para podcasts, palestras e até aulas online.

    Especialistas entendem que essa tendência é uma resposta ao atual momento: mais do que nunca, a tecnologia é a principal interface das pessoas com o mundo ao redor. Isso interfere no ritmo com o qual se vive e se consomem conteúdos. O psiquiatra Adriano Aguiar lembra que, durante muito tempo, a rotina das pessoas era ditada pela natureza. Depois, com a chegada da televisão, os programas passaram a interferir no dia a dia das famílias. “Algumas iam dormir só depois da novela ou do programa do Jô Soares”, exemplifica o médico. Hoje, em meio à explosão do mercado de streaming, que dá a possibilidade de se assistir ao que se quer e quando se quer, esses limites se dissolveram. “Estamos jogados no ilimitado da informação e submetidos ao funcionamento de algoritmos que deliberadamente trabalham para gerar uma adição”, defende Aguiar.

    É diante desse fluxo frenético que as pessoas se veem impelidas a consumir em pouco tempo a maior quantidade de conteúdo possível. Isso pode levar à chamada síndrome de FOMO, sigla do inglês “fear of missing out”: aquele medo desesperado de perder alguma coisa frente a uma avalanche de dados. O “speed watching” se insere nesse contexto.

    Assistir a um filme em velocidade acelerada ajuda a ganhar tempo. Por outro lado, um hábito que serviria para descansar a mente acaba alimentando a ansiedade, conforme explica a psiquiatra e professora da Universidade Positivo, Raquel Heep. O cérebro do ansioso pode operar em um sistema de recompensa: consumindo mais em menos tempo e sentindo os ganhos disso, terá dificuldade em desfrutar de uma obra no ritmo original. Para Heep, há uma confusão entre absorver fatos e ter um momento de contemplação. O cineasta Alexandre Rafael Garcia concorda. Ele argumenta que receber informações é diferente de assimilálas mediante a reflexão que um filme ou série promovem sob um ritmo determinado. “Eu sei que o homem de ferro morre, mas ver o homem de ferro morrendo é outra coisa. E a nossa sociedade está muito centrada no volume do que se consegue absorver”, diz Garcia, que é também professor de cinema da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

    Embora acelerar um filme atrapalhe a experiência de assistir a um grande clássico, cineastas e neurocientistas concordam que o cérebro humano pode estar ficando mais rápido e, com isso, os filmes também. O premiado diretor de cinema Fernando Meirelles está entre os que enxergam esse movimento. Para ele, o fato de nossa cabeça estar ficando mais veloz impacta a recepção das produções cinematográficas agora. “A quantidade do que processamos hoje é muitas vezes maior do que o que recebíamos há 40 anos”, diz.

    O neurocientista Marcelo de Meira Santos Lima, da Universidade Federal do Paraná, explica que, embora não haja estudos comprovando a influência do “speed watching” no cérebro, esse órgão pode, sim, sofrer impactos de longo prazo, a começar pelas sinapses. Coletivamente, a formação de novas redes neurais poderia originar cérebros mais eficientes e rápidos, embora com uma demanda de energia atípica e capaz de impulsionar quadros de ansiedade, insônia, distúrbios de atenção e depressão.

    Enquanto a ciência não decifra esse mistério, muitos seguirão acelerando conteúdos. Ao menos de vez em quando, como faz o próprio Fernando Meirelles. Ele confessa que em alguns casos, quando um filme lhe parece previsível ou desinteressante, opta por escaneá-lo, na expectativa de que alguma cena para frente o prenda. “Acelerar para mim é o estágio que vem antes de abandonar”.

(Lívia Inácio, 14/03/2021. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-56368238.)

Com base no texto, considere as seguintes inferências:


1. O cineasta Fernando Meireles é uma das pessoas que se rendeu ao speed watching.

2. A chegada da televisão alterou a rotina das pessoas, mas ainda assim manteve uma certa disciplina no ritmo de vida das famílias.

3. O speed watching passou de opção a regra, perdendo sua função prática.


É(São) inferência(s) que pode(m) ser feita(s) a partir da leitura do texto:

Alternativas
Comentários
  • Discordei do gabarito, mas bora lá.

    1. O cineasta Fernando Meireles é uma das pessoas que se rendeu ao speed watching.

    R.: Falso pra banca, mas correto pra mim. Veja o que fala o 2º período do último parágrafo: "Enquanto a ciência não decifra esse mistério, muitos seguirão acelerando conteúdos. Ao menos de vez em quando, como faz o próprio Fernando Meirelles.".

    2. A chegada da televisão alterou a rotina das pessoas, mas ainda assim manteve uma certa disciplina no ritmo de vida das famílias.

    R.: Correto. Vejamos o seguinte trecho:

    • "O psiquiatra Adriano Aguiar lembra que, durante muito tempo, a rotina das pessoas era ditada pela natureza. Depois, com a chegada da televisão, os programas passaram a interferir no dia a dia das famílias. “Algumas iam dormir só depois da novela ou do programa do Jô Soares”, exemplifica o médico."

    Ou seja, ocorreu uma mudança de rotina, mas ainda assim se manteve alguma rotina. No exemplo dado pelo médico, das pessoas irem dormir após determinado programa de televisão.

    3. O speed watching passou de opção a regra, perdendo sua função prática.

    R.: Correto pra banca, mas falso pra mim. O 2º parágrafo inicia-se assim: "Especialistas entendem que essa tendência é uma resposta ao atual momento(...)". Aqui houve uma interpretação por parte do avaliador. Particularmente vejo "uma tendência" como uma possibilidade de vir a se tornar uma regra, mas não de, necessariamente, ser uma regra em si.

    Gabarito da banca (D)

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    Sintam-se à vontade para argumentar e refutar minha opinião. Não fico ofendido, muito pelo contrário, isso me ajuda nos estudos.

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    Boa sorte e bons estudos.

  • PENsei igual a você, q coisa isso! não consigo conformar com o gabarito

  • Inferência é uma dedução feita com base em informações ou um raciocínio que usa dados disponíveis para se chegar a uma conclusão.

    Podemos chegar em algum conclusão (errada ou certa) com base no texto apresentado, para as frases acima citada?

    sim, podemos pois as três frases estão no texto, por isso gabarito letra D

  • Essa banca é LOUCAAAAAAAAAAA!

  • essa banca é malucaaaaaaaa, affffff, como estuda desse jeito ?????

  • Para mim, essa e outras questões de interpretação de texto não fazem sentido. E foi bom ler os comentários, porque percebi que não estou sozinha hehe

  • 3. O speed watching passou de opção a regra, perdendo sua função prática. (CERTO)

    " É diante desse fluxo frenético que as pessoas se veem impelidas a consumir em pouco tempo a maior quantidade de conteúdo possível. "

    ou seja, speed watching passou de opção a regra

  • 1. O cineasta Fernando Meireles é uma das pessoas que se rendeu ao speed watching. - Vamos lá. Parece sim estar correta, porém ela está errada realmente. Veja que fala sobre se "render" e no texto fica claro que se " render" é usar como regra, que o seu uso passa a ser uma regra e não ao de fato para oq ele foi criado, e Fernando Meireles de vez em quando, acaba usando essa ferramenta na qual ela foi criada, para ser usada em algumas situações e não como regra. Estamos juntos, foco. UFPR!