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Cigarreira
Ainda existe cigarro de chocolate? Quando eu era
criança, não lembro mais em que século, compravam-se
cigarros iguais aos de verdade, em maços, com chocolate
dentro em vez de fumo. Eles também serviam para a gente
brincar de adulto. Antes de comê-los, “fumávamos” os
cigarros, gesticulando com eles como gente grande.
Tinha um ritual de fumantes que me fascinava. O homem
tirava uma cigarreira do bolso de dentro do paletó, abria a
cigarreira, escolhia um dos cigarros enfileirados, fechava a
cigarreira com um sofisticado clic, depois batia com a ponta
do cigarro no tampo da cigarreira, antes de guardá-la. No
dia em que eu pudesse fazer aquele pequeno teatro com
naturalidade, eu seria um homem.
Um dia, decidi que não ia esperar crescer para ficar
adulto. Roubei um cigarro da minha mãe, peguei fósforos e
fui para o fundo do quintal. Bati com a ponta do cigarro na
caixa de fósforos. Acendi o cigarro. Traguei. Me sentia um
ator de cinema (naquele tempo se fumava muito nos filmes).
Mas a pose não durou muito. Foi interrompida por um acesso
de tosse. Era horrível encher a boca de fumaça daquele jeito.
Nunca mais botei um cigarro na boca. Nem de chocolate.
(Luis Fernando Verissimo.
Gaúcha ZH. https://gauchazh.clicrbs.com.br. Adaptado)
Ao dizer “Quando eu era criança, não lembro mais em que século...”, o narrador sugere que