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ID
5361559
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Ilhabela - SP
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto de Ruy Castro para responder à questão.


Beijos proibidos 


    Manier Sael, um imigrante haitiano em São Paulo, por meio de tocante entrevista ao jornal, contou que, ao chegar ao Brasil, e ao começar a namorar a brasileira que se tornaria sua mulher e mãe de sua filha, disse-lhe que tinha um desejo: beijá-la em público, na rua. “No Haiti, isso não existe”, ele explicou. “É uma coisa que eu nunca tinha visto na vida real, só na televisão. Ela falou que tudo bem. Como eu me senti nessa hora [ao beijá-la]? Me senti brasileiro”.
    É interessante como, às vezes, precisamos de que alguém de fora venha nos revelar quem somos ou como somos. Haverá coisa mais corriqueira no Brasil do que beijar em público? Pelo menos, é o que pensamos e – considerando quantas vezes fizemos isso sem o menor problema – será preciso um exercício intelectual para nos lembrar de que pode ter havido exceções à regra.
    Duas cidades do interior de São Paulo já tiveram juízes que proibiram beijos em praça pública. E isso não foi no século 19, mas nos anos loucos de 1980 e 1981. Até a proibição ser revogada por ridícula, vários casais foram parar na cadeia.
    Um dos restaurantes mais antigos do Rio, a Adega Flor de Coimbra, até hoje ostenta na parede um quadro dos velhos tempos: “Proibido beijos ousados”. O quadro continua lá pelo folclore, claro – mesmo porque, tendo pedido sua farta e deliciosa feijoada à Souza Pinto, quem pensará em dar beijos, mesmo ousados?
    E uma querida senhora que conheci, ao ver um casal se beijando na novela da TV, deu um profundo suspiro e, do alto de seus 90 anos, exclamou, talvez sem se dar conta de que todos na sala podiam escutá-la: “Eu nunca fui beijada!”. Ali, naquele momento, todos nos conscientizamos da nossa tremenda fragilidade.

(www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2019/10/beijos-proibidos.shtml
Publicado em 28.10.2019. Adaptado)

Leia o texto de Luis Fernando Verissimo para responder à questão.

2020

E lá fomos nós para o ano vinte-vinte, na esperança de que a repetição dos números significasse alguma coisa... Vivemos sempre com a expectativa que uma anomalia ou qualquer ruptura com o normal – como um ano com números reincidentes – seja um sinal. E há pessoas que procuram nos astros esse sinal de que algo guia seus passos e orienta sua vida.

Quando comecei a trabalhar na imprensa, há 200 anos, fazia de tudo na redação, depois de passar o dia no meu outro emprego de redator de publicidade. Um dia me pediram para fazer o horóscopo, já que o astrólogo profissional insistia em ganhar um aumento, uma reivindicação irrealista, dadas as condições do jornal. Como eu já fazia de tudo na redação, comecei a fazer o horóscopo também. Todos os dias inventava o destino das pessoas e distribuía as previsões e os conselhos pelos 12 signos do zodíaco.

O horóscopo era a última coisa que eu fazia no jornal antes de ir me encontrar com a Lucia e, se tivéssemos sorte, ir a um cinema, de modo que meu horóscopo era sempre feito às pressas, e com a escassa energia que sobrava depois de um dia fazendo de tudo. E então bolei uma solução genial para liquidar o horóscopo em pouco tempo e ir embora. Como era óbvio que as pessoas só querem saber o texto do seu próprio signo, comecei a fazer um rodízio: mudava os textos de signo e de lugar. O que um dia era o texto para libra no dia seguinte era para sagitário, etc. Ninguém iria notar a trapaça sideral, os deuses me perdoariam.

Não demorou para que o editor do jornal me chamasse. Tinha muita gente reclamando do horóscopo. O que eu pensava que era óbvio não era. Minha pseudoesperteza tinha sido descoberta, aparentemente todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias. Minha breve carreira de astrólogo terminou ali. Mas eu só queria dizer que, mesmo quando era eu que escrevia os textos, nunca deixava de ler o que libra reservava para meu futuro. Fazer o quê? Precisamos de uma direção na vida, venha ela de onde vier.

(O Estado de São Paulo, 05.01.2020. Adaptado)

Uma semelhança entre os dois textos da prova, 2020 e Beijos proibidos, está no fato de os autores

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: a.

    Comprovado por frases como: " E uma querida senhora que conheci(...)" (texto Beijos Proibidos) e "(...) Fazer o quê? Precisamos de uma direção na vida, venha ela de onde vier." (texto 2020)

  • Fiquei com dúvida na D, devido ao termo jocoso: que provoca o riso; engraçado, divertido, cômico.

    Vunesp esta inovando com as interpretação de texto.

  • Alguém consegue explicar o erro da letra D?

  • Acho que o erro da D está no fato de que o texto do Veríssimo não associa as características humanas descritas por ele a SER BRASILEIRO.

  • Acredito que o erro do item D está na abrangência. Enquanto o texto de "beijos proibidos" descreve uma conduta cultural do brasileiro (beijar em público), o segundo não indica que "ler horóscopo" seja coisa de brasileiro, mas sim dos leitores daquele jornal, apenas.

  • hahhahahahahah eu amo os textos da Vunesp, mas esse eu me matei de rir, ainda bem que não fiz essa prova, senão seria expulsa da sala!

  •  Vivemos sempre com a expectativa que uma anomalia ou qualquer ruptura com o normal – como um ano com números reincidentes – seja um sinal.

    E assim começou o ano da pandemia.

  • Na alternativa "D", embora utilize termos jocosos, o autor não descreve comportamentos culturais que são tipicamente brasileiros. Ocorre aqui uma extrapolação. Veríssimo leva o texto para o universal "aparentemente todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias."

  • -Você vai passar nessa prova, sem estudar.

    -De onde você tirou isso?

    -Eu vi no horóscopo, confia!

  • Meu Deus Vunesp, Pedir para os candidatos interpretar dois textos? Tá querendo nos torturar? KKKKKKK medo de vier uma dessa no TJSP!

  • "Ninguém iria notar a trapaça sideral, os deuses me perdoariam." Termos jocosos significa engraçado.