Formação humana e técnica:
uma aproximação inadiável
De acordo com Blainey,
[m]uitos sabiamente hesitavam em tornar público
o que haviam descoberto, enquanto descobridores
de hoje se entregam à tentação de logo recorrer à
imprensa. Copérnico passou um terço de século
cuidando de sua ideia fundamental antes de ser
persuadido a confiá-la a um livro. Dizem que Newton
vislumbrou sua principal descoberta em física ao
ver uma maçã cair de uma árvore num pomar da
Inglaterra em 1666, mas vinte e um anos se passaram até que ele expusesse sua teoria na forma
impressa. (Blainey, 2008, p. 214).
A publicização das produções humanas cria a ilusão
da necessidade e da utilidade, e faz com que as ideias
ali divulgadas pertençam a todos (Marx; Engels, 1965).
A partir daí, independentemente dos efeitos na natureza e na sociedade, alguns se sentem úteis porque
produziram artigos científicos, artefatos tecnológicos
etc., e outros sentem que esses produtos são necessários para a sua sobrevivência e felicidade. A atitude
acrítica gera tanto o trabalhador alienado quanto o
consumidor passivo.
No debate sobre a interdisciplinaridade dos diversos
cursos tecnológicos atuais, a questão cultural que traz
consigo fortes reflexões filosóficas ganha seu contorno de dispensabilidade nos herméticos currículos
das escolas que lidam com tecnologia. Isso ocasiona
um acentuado prejuízo formativo para os alunos na
sua vida profissional. A dificuldade por novos pensamentos na área humana, e também na tecnológica,
move algumas questões em torno dos diversos campos de saberes. Entrelaçá-los e buscar pela concretude das dimensões essencialmente humanas são
requisitos fundamentais para iniciarmos o processo de
mudança. Com Bauman (2006), as nossas afirmações
se fortalecem:
Uma vez que o que fazemos com os poderes acrescidos da tecnologia tem efeito ainda mais poderoso
sobre as pessoas e sobre mais pessoas do que nunca
antes – o significado ético de nossas ações atinge
agora alturas sem precedentes. […] A moralidade,
que sempre nos guiou e ainda nos guia hoje, tem
mãos poderosas, mas curtas. Ela precisa agora de
mãos longas, muito longas. Qual a oportunidade de
fazê-las crescer? (Bauman, 2006, p. 248-249)
A vida. Sempre a vida em primeiro lugar. Não são poucos os autores contemporâneos que fazem coro nessa
premissa basilar. É deles que fazemos uso na defesa
da aproximação inadiável entre os campos de conhecimento das áreas humanas e científico-tecnológicas dentro da educação em engenharia. É preciso, sim,
uma educação que liberte os seres humanos dos processos opressores, que os transformam em consumistas passivos e alienados.
BAZZO, W. A.; PEREIRA, L. T. V.; BAZZO, J. L. S. Conversando sobre
educação tecnológica. 2. ed. Florianópolis: Ed. da Ufsc, 2016. p. 188-191. [Adaptado.]
A ideia principal do texto é: