SóProvas


ID
5365918
Banca
CEV-URCA
Órgão
Prefeitura de Crato - CE
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O caso da borboleta


"Ninguém nasce borboleta", pensou Breno. Depois disse baixinho: "A borboleta é um presente do tempo". Lá fora, ela, a borboleta, não pensava nada disso. Ocupava-se em voar pela noite de árvore em árvore. Era azul e sem dúvida um dia havia sido lagarta. Breno tem nove anos e é uma criança, a lagarta é como se fosse uma borboleta criança, mas quando Breno for adulto vira homem e não borboleta, e homens não voam. Sonho de Breno é voar, seja como piloto de avião ou jogador de futebol. Como borboleta, Breno nunca chegou a pensar, tem nove anos, mas sabe que é menino e não lagarta. A avó de Breno sempre diz: "Lagarta queima o dedinho e come planta, mas vira borboleta. Ninguém nasce borboleta". Agora o menino pensa e olha a borboleta na janela. "De manhã vi um monte de buraquinhos nas folhas"; explicaram a ele: "É coisa de lagarta". Os buracos nas acerolas e goiabas eram coisa dos passarinhos. Isso ninguém precisou explicar, porque ele sempre viu os passarinhos indo bicar as frutas, menos o beija-flor, que só ia bicar a água no copo de flor pendurado na goiabeira. "O que será que borboleta come? Será que beija-flor só bebe água? "Pensou muito nisso e sentiu fome. Saiu em direção à cozinha.


A avó cochilava de frente para a novela das sete. Justamente aquela durante a qual ela mais gostava de cochilar. Breno sabia disso e não quis acordá-la pra pedir comida. Na cozinha a janela estava aberta. Era uma janela enorme e dava de frente pro quintal da casa. Algumas vezes Breno ouviu gente falando como era engraçado aquela janela na cozinha. A avó sempre explicava que, antes de cozinha, ali havia sido quarto, e por isso a tal janela. Breno achava normal. Desde que tem lembrança, ali é cozinha e tem janela e ele adora. Enquanto sua avó faz o almoço, ele olha para o mundo. O azar é daqueles que não têm janela na cozinha. Breno decidiu que a melhor coisa pra comer naquele momento era biscoito. "Tomara que tenha. Se não tiver, seria muito bom comer uns ovos."Sabe como fazer: é só acender o fogo apertando o botão, colocar a frigideira em cima do fogo, quebrar o ovo em cima da frigideira e ficar mexendo com o garfo. Agora que já tem nove anos nem precisa mais de cadeira pra mexer no fogão. Abre a geladeira e tem três ovos. Fecha a geladeira e vai procurar o biscoito. Entra uma borboleta na cozinha. É maior e mais bonita que a outra. Parece desesperada, bate nas paredes uma a uma até ficar presa pela porta encostada. Breno vai até a porta e a puxa para que saia, de lá voa direto pro outro lado da cozinha, onde ficam a janela e o fogão. Breno acompanha com o olhar e espera que consiga sair logo pela janela. Em cima do fogão tem uma panela destampada cheia de óleo (no almoço teve batata frita), a borboleta voa na direção do fogão e, assim que chega em cima da panela, cai no óleo como se tivesse sido atraída pra lá igual quando Breno atrai moedas com seu ímã.


Ele correu pra ver a borboleta, ela nadava pelo óleo lentamente. Quis tirá-la de lá, mas nunca colocou a mão no óleo antes. Só queima se estiver de fogo aceso, tinha quase certeza. Correu até o papel-toalha e tirou a borboleta de dentro da panela. Olhou-a com atenção: toda coberta de óleo. Todas as partes do seu corpo de inseto. As asas pingavam óleo pela cozinha. Agora tinha certeza: só queimava se tivesse ligado o fogo. A borboleta se mexia muito. Tratou de colocá-la em cima da janela. Pegou o biscoito e foi para o quarto. Começou a comer, era de chocolate e era bom.


Ainda assim, não conseguia esquecer a borboleta nadando no óleo. Seu corpo inteiro afundado no óleo. Logo começou a imaginar como seria se fosse ele, mergulhado no óleo numa panela gigante que cabe criança. Imaginou seu cabelo cheio de óleo, seus olhos, ouvidos, nariz, boca. Comia o biscoito e imaginava. Lambeu o dedo que havia colocado na panela pra imaginar melhor seu corpo no óleo. Não gostava de imaginar, mas não conseguia evitar. Era igual cheirar a mão quando está fedendo, ou alguma coisa assim. Lambeu, e o gosto era péssimo. Muito pior que o gosto do biscoito de chocolate. Lembrou de sua avó que dizia que o pozinho da borboleta, se batesse no olho, deixava cego. Ficou com medo de passar mal. O dedo que lambeu, além de óleo devia ter o tal pozinho. Correu até a cozinha para ver a borboleta. Estava dura, morta. Teve pena e quis enterrar. Decidiu que a borboleta seria seu bicho preferido, caso não passasse mal por conta daquela lambidinha no dedo. Precisava avisar a avó pra não fritar mais batata naquela panela. Enquanto não amanhecia, deixaria a borboleta na janela da cozinha. No caminho de volta pro quarto viu que a avó ainda cochilava. Deitou na cama, sua cabeça realizou os últimos mergulhos no óleo.


Começou a pensar apenas em não passar mal por conta do pozinho da borboleta. Ninguém nasce borboleta. Sentiu medo e uns trecos no estômago, se apavorou achando que era consequência do pozinho que cega quando cai no olho, e depois dormiu.


(FONTE: Geovani Martins. O sol na cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 2018)

A palavra "crase"é de origem grega e significa "fusão", "mistura". Na língua portuguesa, é o nome que se dá à "junção"de duas vogais idênticas.


Assinale a ÚNICA alternativa em o uso da crase foi feito de maneira INCORRETA

Alternativas
Comentários
  • Gabarito na alternativa E

    Solicita-se construção com incorreto uso de crase.

    A crase é a simples aglutinação da preposição "a" com artigo definido feminino, ou, em alguns casos, a vogal "a" inicial de algumas formas pronominais demonstrativas.

    A) Joana disse: "Vou à igreja".

    Correto. Há aglutinação da preposição exigida pelo verbo com o artigo definido feminino que antecede o substantivo.

    "Vou a+a igreja."

    B) Refiro-me à aluna que esteve aqui semana passada.

    Correto. Há aglutinação da preposição exigida pelo verbo com o artigo definido feminino que antecede o substantivo.

    "Refiro-me a+a aluna..."

    Aqui poderia o termo ser grafado sem crase se "aluna" fosse uma referência genérica e não determinada por artigo.

    C) Aquela aluna nunca está atenta à aula.

    Correto. Há aglutinação da preposição exigida pelo adjetivo com o artigo definido feminino que antecede o substantivo.

    "Ela nunca está atenta a+a aula."

    D) Ligo-te hoje à noite

    Correto. Há aglutinação da preposição exigida pelo adjunto adverbial com o artigo definido feminino que antecede o substantivo.

    "Ligo-te hoje a+a noite."

    E) Escreve à lápis, assim podemos apagar o que for preciso.

    Incorreto. A construção "a lápis" é locução adverbial, inexistindo artigo feminino ligado ao substantivo masculino "lápis" e marcação de crase.

    Via de regra, locuções adverbiais com núcleo feminino levam crase, evitando uma possível confusão entre preposição e artigo feminino.

  • A questão é sobre crase e quer que identifiquemos a ÚNICA alternativa em que o uso da crase foi feito de maneira INCORRETA. Vejamos:

     . .

    A) Joana disse: "Vou à igreja"

    Certo. Aqui ocorre a fusão da preposição "a" (quem vai, vai A algum lugar) com o artigo feminino "a" de "A igreja": A + A = À.

     .

    B) Refiro-me à aluna que esteve aqui semana passada

    Certo. Aqui ocorre a fusão da preposição "a" (quem se refere, refere-se A alguém) com o artigo feminino "a" de "A aluna": A + A = À.

     .

    C) Aquela aluna nunca está atenta à aula

    Certo. Aqui ocorre a fusão da preposição "a" (quem está atento, está atento A alguma coisa) com o artigo feminino "a" de "A aula": A + A = À.

     .

    D) Ligo-te hoje à noite

    Certo. Aqui a crase foi usada pelo fato de "à noite" ser uma locução adverbial.

    • SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza adverbial, formadas com palavra feminina. Ex.: À vontade, à noite, à tarde, às pressas, às vezes, à toa, às claras, às escondidas, à direita, à esquerda, à milanesa (= à moda milanesa), ...

     .

    E) Escreve à lápis, assim podemos apagar o que for preciso

    Errado. Não se usa crase antes de palavra masculina. O certo seria "escreve A lápis, assim..."

    • NUNCA ocorre crase diante de palavras masculinas. Ex.: Assisto a filme de comédia.

    . .

    Para complementar:

    CRASE ocorre mediante a fusão da preposição "a" com:

     

    a) o artigo feminino "a" ou "as"

    Ex.: Fui à faculdade. (Fui A + A faculdade)

    b) o “a” dos pronomes demonstrativos “aquele (s), aquela (s), aquilo"

    Ex.: Você compareceu àquele cursinho? (Compareceu A + Aquele cursinho)

    c) o “a” dos pronomes relativos “a qual / as quais”

    Ex.: A aluna à qual me referi passou em primeiro lugar. (Quem se refere, refere-se A alguma coisa, A alguém + A qual)

    d) o pronome demonstrativo “a / as” (= aquela, aquelas)

    Ex.: Esta gramática é semelhante à que me deste. (Semelhante A + A que me deste)

    . .

    Gabarito: Letra E 

  • Palavra masculina ---> lápis--->o lápis.

    Crase----->preposição A+ artigo A=Acento grave " ` ".

  • Lembrem da regra do cachorrinho, se latir tem CRASE. (AO)

    Ex: Substitua a palavra feminina por outra masculina correlata; e surgindo a combinação (AO), haverá crase.

    Eles foram à praia./ Eles foram AO litoral

    Sou indiferente às criticas./ Sou indiferente AOS elogios.

    Joana disse: "Vou à igreja"/ Joana disse: "Vou AO culto"

    Aquela aluna nunca está atenta à aula/ Aquela aluna nunca está atenta AOS estudos.

  • Gabarito E

    Crase antes de masculino no plural, crase passa mal

  • Sem crase antes de substantivo masculino.

  • GABA A

    Se liga, federal!

    regras básicas sobre onde NÃO USAR CRASE!

    1. DIANTE DE VERBOS NO INFINITIVO (AR, ER, IR)
    2. DIANTE DE PALAVRAS NO MASCULINO
    3. DIANTE DE PALAVRAS NO PLURAL E ''A''' NO SINGULAR
    4. DIANTE DE PRONOMES INDEFINIDOS (NINGUÉM, ALGUÉM ETC..)
    5. DIANTE DE NUMERAIS (UMA, TRÊS, UM, DOIS ETC.)

    lápis é palavra masculina. O LÁPIS!

    isso é o básico! Sabendo isso tu matava a questão.

    senado federal - pertencelemos!

  • o lapis

    GABARITO E

  • A- Joana disse, vou ao culto

    tem crase pois da para trocar A por AO

    B- Mesma coisa da A, da para trocar para o masculino e fica AO.

    C- Mesma coisa da A e B, aquela aluna nunca está atenta AOS estudos.

    D- Mesmo da A, B e C, ligo-te hoje ao anoitecer.

    E- GABARITO pois, "A" no singular palavra no plural crase nem a pa*!