SóProvas


ID
5384002
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Pitangueiras - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Fazer nada

Como a visita de um pássaro nos fez pensar no tempo.

    Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro. No hotel, em Itatiba, deram-nos o quarto 37, que se abre para um mar de morros verdes, com plantações, pastos, florestas. Fica no piso superior, tem pé-direito alto e uma varanda abraçada por árvores repletas de pássaros. À noite, entrou pela janela um passarinho. Minúsculo, branco no peito e na parte inferior da face, preto no dorso e na metade de cima da cabeça. Entrou pelo quarto, acelerado. Voava junto ao teto e não conseguia baixar até a altura da porta por onde havia entrado. Temíamos que se machucasse. Apagamos as luzes. Ele se acalmou e parou para descansar no toucador. Pulou em pé, no chão. Caminhou um pouco, ofegante. Usamos um chapéu para levá-lo à varanda, onde ficou ainda um tempo, refazendo-se. 
    Depois, vimos que deixou de lembrança um cocozinho na nossa cama. De onde teria vindo essa ave? Qual o significado do carimbo de passarinho sobre o lençol? Resisti à ideia de lembrar que excremento de pássaro é sinal de boa fortuna em antigas tradições. Augúrio? Sinal? Ali não havia mistério. Era apenas um bichinho assustado, acelerado demais. Talvez apenas apavorado por haver entrado em um lugar de onde parecia impossível sair. Mais do que um significado oculto, sua visita pode é nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem não se debate, na ilusão de que está acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que está saturado por estímulos que ele próprio foi buscar? A sensação de que seu tempo é estrangulado, sem se dar conta de que é ele quem cultiva desassossego para si. Um amigo, sobrinho de um sábio do interior, costuma usar a imagem da trajetória errática e vã das formigas para ilustrar a ilusão que acomete o homem em movimentos inócuos e sem sentido, o esforço inútil. Não é à toa que se fale tanto na necessidade de ir com mais calma. 
    Afinal, nós nunca aceleramos tanto. Na ilusão de anteciparmos o futuro, roubamos o momento seguinte e deixamos de vivê-lo. Convivemos sem prestar atenção no outro, respiramos com sofreguidão, comemos sem sentir o sabor. Fugimos do presente, o único tempo que existe e sobre o qual criamos a referência para um passado reconstruído na memória e um futuro sonhado. Como parar e fazer nada? Como apenas ser, sem se debater por ter entrado em uma porta estranha? Há quem não consiga relaxar e, simplesmente, fazer nada. Alguém já disse que fazer nada não é a completa falta de ação, mas a ação feita com desapego, sem visar resultado para si mesmo. Há algo de bom em atingir esse momento em que só se é parte da paisagem e não um observador separado. Se ainda quiséssemos procurar um significado para a visita da pequena ave, poderíamos dizer que ela veio trazer o tema para estas linhas que você lê agora. Como se nos dissesse: que bom que vocês conseguiram uns dias de folga e vieram aqui, cuidar um do outro. Sejam bem-vindos a este momento e esqueçam o resto. Fui.

(NOGUEIRA, Paulo. Vida Simples, ed. 37. São Paulo: Abril, 2006.
Disponível em http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/. Edições/037/caminho/conteúdo_237474.shtml. Acesso em:
13/07/2019.)

No trecho “À noite, entrou pela janela um passarinho.” (1º§), o acento indicativo de crase foi adequadamente empregado. Assinale, a seguir, a afirmativa em que o seu uso é facultativo.

Alternativas
Comentários
  • CASOS FACULTATIVO S DE CRASE 1. Depois da preposição “até”; 2. Antes dos nomes próprios femininos; 3. Antes dos pronomes possessivos.
  • Casos facultativos:

    # Antes de pronomes possessivos femininos;

    Desejei boa viagem à (a) minha prima.

    # Depois da preposição “até”;

    Devemos ir até a (à) secretaria para pegar a transferência.

    # Antes de nomes próprios femininos (de pessoas).

    Dirigi-me a (à) Paula no sentido de lhe dar a boa notícia

    Observação: Nos casos em que o nome próprio vier especificado, determinado, haverá o uso da crase:

    Dirigi-me à bela Paula no sentido de lhe dar a boa notícia.

    https://mundoeducacao.uol.com.br/gramatica/casos-especiais-facultativos-uso-crase.htm

  • Crase é facultativa depois da proposição ATÉ.

  • Para responder a esta questão, exige-se conhecimento em crase. Vejamos o conceito:

    Crase é a fusão de A + A, sendo que o primeiro é sempre a preposição, o segundo pode ser artigo definido "a" ou pronome "aquela, aquele, aquilo..."

    O candidato deve encontrar uma assertiva que a crase ocorre de forma facultativa. Vejamos:

    a) Incorreta.

    "Às vezes é necessário fugir do presente."

    O acento indicativo de crase foi empregado, porque "à noite" é uma locução adverbial de núcleo feminino iniciado por A. Dessa forma, emprega-se a crase de forma obrigatória.

    b) Incorreta.

    "Estamos à espera de simplesmente fazer nada."

    O acento indicativo de crase foi empregado, porque "à espera de" é uma locução prepositiva de núcleo feminino iniciado por A. Dessa forma, emprega-se a crase de forma obrigatória.

    c) Correta.

    "Voou até à varanda do hotel que é abraçada por árvores."

    A crase é facultativa, pois temos a preposição "até" antecedendo uma expressão adverbial feminina "varanda do hotel'. A preposição "até" é uma preposição especial no que diz respeito à crase, pois torna a crase opcional desde que o substantivo seguinte seja feminino e aceite o artigo definido A.

    d) Incorreta.

    "À tarde, os passarinhos entraram acelerados nas plantações."

    O acento indicativo de crase foi empregado, porque "à tarde" é uma locução adverbial de núcleo feminino iniciado por A. Dessa forma, emprega-se a crase de forma obrigatória.

    Gabarito: C