A substituição do haver por ter em
construções existenciais, no português
do Brasil, corresponde a um dos
processos mais característicos da
história da língua portuguesa, paralelo
ao que já ocorrera em relação à
aplicação do domínio de ter na área
semântica de “posse”, no final da fase
arcaica.
Mattos e Silva (2001:136) analisa as
vitórias de ter sobre haver e discute a
emergência de ter existencial, tomando
por base a obra pedagógica de João de
Barros. Em textos escritos nos anos
quarenta e cinquenta do século XVI,
encontram-se evidências, embora
raras, tanto de ter “existencial”, não
mencionado pelos clássicos estudos de
sintaxe histórica, quanto de haver como
verbo existencial com concordância,
lembrado por Ivo Castro, e anotado
como “novidade” no século XVIII por
Said Ali.
Como se vê, nada é categórico e um
purismo estreito só revela um
conhecimento deficiente da língua. Há
mais perguntas que respostas. Pode-se
conceber uma norma única e
prescritiva? É válido confundir o bom
uso e a norma com a própria língua e
dessa forma fazer uma avaliação crítica
e hierarquizante de outros usos e,
através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra?
Para a autora, a substituição de
“haver” por “ter” em diferentes
contextos evidencia que: