SóProvas


ID
5393212
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PC-DF
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

 Nesta sala atulhada de mesas, máquinas e papéis, onde invejáveis escreventes dividiram entre si o bom senso do mundo, aplicando-se em ideias claras apesar do ruído e do mormaço, seguros ao se pronunciarem sobre problemas que afligem o homem moderno (espécie da qual você, milenarmente cansado, talvez se sinta um tanto excluído), largue tudo de repente sob os olhares à sua volta, componha uma cara de louco quieto e perigoso, faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo ciao ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como-se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pelo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assoma depois com sua nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances. Desça, sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto (coitados!) dos pobres familiares, que cobrem a boca com a mão enquanto se comprimem ao pé da escada. Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço. Largue-se nela como quem se larga na vida, e vá fundo nesse mergulho: cerre as abas da rede sobre os olhos e, com um impulso do pé (já não importa em que apoio), goze a fantasia de se sentir embalado pelo mundo.

Raduan Nassar. Aí pelas três da tarde. In: Ítalo Moriconi (Org.). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (com adaptações). 

No que se refere às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item a seguir. 

A sequência de ações do texto se organiza a partir de uma lógica imperativa de que os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes, desarrazoados.

Alternativas
Comentários
  • CERTO. O modo imperativo predomina na narrativa e, segundo a voz da narrativa, para que as ações sejam possíveis, é necessário que se assuma uma postura ou se faça cara de louco

  • GABARITO PRELIMINAR: CERTO

    COMENTÁRIO: as noções de “extravagante” e “desarrazoados” denominam algo que “está fora do uso geral, habitual ou comum” ou “não racional”, “dominado pela emoção”. A sequência de ações (após a cena inicial) expressa justamente essas noções, especialmente no modo calmo e frio com que o personagem conduz as suas ações (por exemplo, “Nada de grandes lances”) absurdas ao olhar dos espectadores dos eventos.

    Não concordo com o gabarito. Este excerto demonstra que o interlocutor não deve, necessariamente, agir de forma extravagante:

    "Passe por eles calado, circule pela casa toda como se andasse numa praia deserta (mas sempre com a mesma cara de louco ainda não precipitado), e se achegue depois, com cuidado e ternura, junto à rede languidamente envergada entre plantas lá no terraço".

  • Certo

    O texto é predominantemente injuntivo, contendo verbos no imperativo nos da uma sensação de roteiro que deve ser seguido, contando ainda com características como o autor menciona "Faça cara de Louco".

  • Extravagante = Que está fora do uso geral, habitual ou comum; estranho, excêntrico.

  • CERTO

    Lógica Imperativa: Não são verdadeiras nem falsas.

    Extravagante: Fora do normal, não é algo comum.

    Desarrazoado: Se comporta de maneira contrária a razão, sem razoabilidade.

    Agora retorne ao texto e leia nesse sentido.

    Deus mandou te dizer que vai acontecer...

  • Até concordo que os atos devam parecer extravagantes, bem fora do habitual, mas as "palavras referidas" também? Não vi nenhuma palavra extravagante aí. Foi nisso que errei.

  • GABARITO PRELIMINAR: CERTO.

    QUESTÃO RECURSADA (NÃO ACATADO).

    O narrador sugere que o protagonista aja como se nada de exótico estivesse acontecendo.

    Isso fica evidente nas passagens: “faça os gestos mais calmos”, “Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto…”, “Desça sem pressa, degrau por degrau, sendo tolerante com o espanto…”.

    Dessa forma, as ordens pedem não extravagância nos movimentos, mas naturalidade.

  • Essa outra questão da prova ajuda a responder, galera:

    "O texto apresenta uma espécie de roteiro cujo conhecimento é necessário para que o interlocutor da voz da narrativa aja com inteira liberdade e por conta própria." - Gabarito Errado, pois os verbos no imperativo restringem a liberdade. Sendo assim, há uma lógica imperativa, extravagante, desarrazoada, frente aos outros hábitos.

  • Se a assertiva dissesse que o texto da a entender que os atos e movimentos PREPONDERANTEMENTE dão ideia de desarrazoados e extravagantes, eu teria ido, sem pensar, no certo.

    Agora, dizer que NECESSARIAMENTE, creio que extrapole o contexto.

    faça os gestos mais calmos quanto os tais escribas mais severos, dê um largo ciao ao trabalho do dia, assim como quem se despede da vida, surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita, os que estiveram em casa ocupados na limpeza dos armários, que você não sabia antes como era conduzida. Convém não responder aos olhares interrogativos, deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto, libertando aí os pés das meias e dos sapatos, tirando a roupa do corpo como-se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pelo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido), e aceitando ao mesmo tempo, como boa verdade provisória, toda mudança de comportamento. Feito um banhista incerto, assoma depois com sua nudez no trampolim do patamar e avance dois passos como se fosse beirar um salto, silenciando de vez, embaixo, o surto abafado dos comentários. Nada de grandes lances.

  • gabarito completamente errado.

    Afirmar que os atos narrados pelo autor do texto devem NECESSARIAMENTE parecer extravagantes e desarrazoados é claramente CONTRARIAR o que dispõe o texto em diversas passagens.

    É possível observar isso em VÁRIOS trechos:

    1. "...componha uma cara de louco QUIETO..."

    2. “...faça os gestos MAIS CALMOS...”

    3. , “Mas NÃO EXAGERE NA MEDIDA e suba sem demora ao quarto…”,

    4. "pondo-se enfim em vestes mínimas (...), mas SEM FERIR O PUDOR..."

    5. ".... Feito um banhista incerto, assoma depois com sua nudez no trampolim do patamar (...). NADA DE GRANDES LANCES."

    6. “Desça SEM PRESSA, degrau por degrau, sendo TOLERANTE com o espanto…”.

    7. “Passe por eles CALADO

    8. ....”e se achegue depois, COM CUIDADO E TERNURA, junto à rede...”

    Dessa forma, as ordens não pedem extravagância ou movimentos desarrazoados, mas, nas palavras do próprio texto, quietude, não exagero nas medidas, não ferimento do pudor, agir sem grandes lances, sem pressa e com tolerância, cuidado, ternura, fazendo tudo, calado.

  • Minha contribuição.

    Modo imperativo: usa-se para persuadir o interlocutor a realizar ou não a ação que está sendo enunciada. Pode-se empregá-lo para exprimir uma ordem, um conselho, um convite, um pedido.

    Ex.: Entregue-me o relatório ainda hoje.

    Ex.: Não fales com nenhum desconhecido na rua.

    Ex.: Não me deixe sem notícias.

    Ex.: Participe você também dessa campanha.

    Abraço!!!

  • GAB CESPE = CERTO

    O texto é imperativo, mas erra dizer "os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes, desarrazoados", sendo que o próprio autor é contrário a essa afirmação no terceiro período "Mas não exagere na medida e suba sem demora ao quarto"

    Possivelmente ser ERRADO

  • o segredo desse texto é ler rápido.

  • E no meio do texto tem "Mas não exagere na medida" aff

  • Largue/faça/dê/surpreenda/avance/desça/passe/largue-se...imperativo pra karaiii

  • A vocês que estão focando no "mas não exagere na medida": perceba que essa frase se aplica ao que tinha acabado de ser falado: "deixando crescer, por instantes, a intensa expectativa que se instala. Mas não exagere na medida"

    O texto TODO fala de ações totalmente extravagantes e excêntricas, o que mostra claramente que a questão está certa.

    Discordo, inclusive, do comentário do professor José Maria, que considerou errada a questão com com base em trechos como: "Nada de grandes lances. Desça, sem pressa[...]"; "faça os gestos mais calmos quanto" etc.

    Ora, e desde quando isso parece algo normal, razoável? Ao longo do texto, percebe-se claramente que o narrador ordena/sugere atitudes totalmente anormais, sejam elas atitudes sutis ou bruscas!

    É tipo assim: tanto é anormal você ver na rua alguém correr que nem Usain Bolt, bem como andar em câmera lenta!

  • Tem muita gente sem noção, fica usando da caixa de comentários só com interesse de ganhas as olimpíadas do QC, é 100 questões e o cara copiando e colando o mesmo comentário. Mds...

  • "NECESSARIAMENTE" mata qualquer um...

  • faça..

    desça...

    ambas imperativas

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  • O texto é predominantemente injuntivo, por conseguinte organiza-se a partir de uma lógica imperativa.

    "Os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes, desarrazoados."

    Eles devem necessariamente parecer, não é necessário ser.

    Quando se compõe cara de louco e perigoso ou se surge nu em cima do trampolim, sem dúvidas são atos que parecem extravagantes ou desarrazoados.

  • Gabarito CERTO. O problema é que algumas pessoas entenderam a palavra EXTRAVAGANTE como sinônimo de escarcéu, barulho, bagunça, e não é bem assim, a cara tranquila e de louco, ao mesmo tempo, por si só, já faz o papel de extravagância, que significa fugir do comum, do usual.

  • QUESTÃO - A sequência de ações do texto se organiza a partir de uma lógica imperativa de que os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes, desarrazoados.

    ___________________________________

    Vamos por partes !

    (1) '' A sequência de ações do texto se organiza a partir de uma lógica imperativa''.

    Perceba que o autor do texto escreve verbos no imperativo, como ''largue'' (l 3) , ''componha'' (l.3), ''faça'' (l.4), ''dê'' (l.4) e assim vai ao longo de todo o texto dando instruções, ordens ou comandos.

    (2) ''de que os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes ...''

    Primeiro , qual o conceito de extravagante ?

    Segundo o dicionário Aulete, extravagante pode ser :

    ''1. Que foge aos padrões socialmente aceitos de comportamento, estética etc., que se nota por sua estranheza (ideias extravagantes).

    2. Que está fora, que não está incorporado a um acervo: um dispositivo extravagante do estatuto;

    3. Esbanjador, perdulário.

    4. Indivíduo extravagante.''

    Concentremo-nos no conceito 1.Durante todo o texto, o autor da algumas instruções que fogem do padrão , vejamos :

    • ''componha uma cara de louco quieto e perigoso'' (l.4);
    • ''surpreenda pouco mais tarde, com sua presença em hora tão insólita'' (l.5) - O autor pede para ele ir para a casa , literalmente, às 3 da tarde (horário que usualmente, o interlocutor deveria trabalhar);
    • '' tirando a roupa do corpo como-se retirasse a importância das coisas, pondo-se enfim em vestes mínimas, quem sabe até em pelo, mas sem ferir o pudor (o seu pudor, bem entendido) [... ]'' - O autor pede para ele se despir ( ficar quase nu , '' quem sabe até em pelo'' ) e descer para o cômodo comum da casa ;

    Existem mais atos que fogem do padrão, mas já conseguimos exemplificar.

    (3) '' desarrazoados''

    Qual o conceito de desarrazoado ? Aulete define :

    ''1. Que não é razoável; DESCABIDO; DESPROPOSITADO: "...a ingenuidade de suas crenças se lhe figurava ridícula e desarrazoada..." (Júlio Diniz, A morgadinha dos canaviais))

    2. Que age ou fala de um modo contrário à razão ou ao bom senso (homem desarraziado).''

    • O cara vai descer pelos cômodos da casa quase nu , como já citado anteriormente. Isso daí já é contrário ao bom senso.
    • Outro ponto , ''largue tudo de repente sob os olhares à sua volta'' (l.3). Ele larga o posto de trabalho mais cedo , sem (aparentemente) explicações e/ ou justificativas.

    _________________

    Por todos esses apontamentos feito anteriormente, considero a questão correta.

  • QUESTÃO: A sequência de ações do texto se organiza a partir de uma lógica imperativa de que os atos e as palavras referidos devem necessariamente parecer extravagantes, desarrazoados. CERTA.  

    O que é lógica imperativa?

    É a área da lógica que trata de argumentos contendo sentenças em modo imperativo.

    O que é extravagantes?

    Que está fora do uso geral, habitual ou comum; estranho

    O que é desarrazoados?

    Que se comporta de maneira contrária à razão; sem razoabilidade; disparatado.

    Bons Estudos!

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