SóProvas


ID
5404780
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Pitangueiras - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

A produção de si como mercadoria nas redes sociais

    Estudar a história do trabalho, das indústrias e das corporações nos ajudaria a entender a história do poder econômico e, por conseguinte, a história de nossas vidas submetidas àqueles que controlam a possibilidade de nossa sobrevivência.
    As formas de organização da produção industrial a que se deu o nome de fordismo, taylorismo e toyotismo, definiram não apenas o modo de fazer, mas o modo de ser da vida em geral submetida ao controle pela produção. Aqueles modos de organização sempre visaram baixar custos enquanto promoviam altos índices de produtividade. Todos, certamente, sempre se preocuparam pouco com as pessoas que trabalhavam nas fábricas ou nas empresas. Eram sistemas bastante frustrantes para pessoas que não queriam ser tratadas como robôs.
    No taylorismo e no fordismo, as pessoas faziam uma única atividade no processo produtivo, eram remuneradas por produtividade e individualmente. A superprodução levava a estoques gigantes e lucros enormes. Foi Ford que acrescentou a esteira rolante que economizava tempo dentro da fábrica para incrementar o processo de produção em grande escala. Tempos modernos de Chaplin fez a sátira disso tudo.
    O toyotismo, que surgiu na fábrica do carro japonês, tem algumas diferenças: o trabalho antes individual, agora é em equipe. Uma pessoa não tem mais uma única atividade repetitiva, ela deve saber fazer tudo. Deve-se evitar todo tipo de desperdício. Retira-se o estoque e se entrega às demandas. Em épocas de crise se produz conforme o consumo.
    Em qualquer desses casos, as pessoas sempre são bens bastante descartáveis. Um produtor vale tanto quanto sua produtividade. Ou menos do que ela, já que pode ser substituído. Não há nenhuma novidade nisso. Só não se submete a isso quem, em vez de ser operário comandado por meios de produção, é o dono dos meios de produção. Essa lógica das fábricas é espelho da lógica da vida e atinge todas as instituições.
    A produção de coisas, sejam carros ou telefones celulares, panelas ou cosméticos, depende de operadores de produção, ora humanos, ora robôs.
    Do mesmo modo quando se trata de “meios de produção da linguagem”. Pensemos no conteúdo da internet, lotada de produção de material comunicacional ou anticomunicacional por pessoas que participam do meio apenas porque desejam. Mas será que é desejo mesmo o que nos faz participar de redes sociais?
    Coloco essas questões porque gostaria de pensar no tipo de trabalho que temos nasredes sociais. É inegável que as redes sociais oferecem algum tipo de diversão às pessoas, então, parece que não estamos trabalhando. Trata-se, nesse caso, de uma indústria do entretenimento. 
E é evidente que elas também se oferecem como meios de comunicação.
    Mas é a dimensão do trabalho que me interessa entender. Quanto tempo gastamos diariamente nesses meios? O que somos obrigados a fazer para sobreviver neles? Somos submetidos aos parâmetros taylor-fordistas nas redes sociais? Ou aos toyotistas? Que esforços, que tensões enfrentamos quando deles queremos participar? Podemos viver fora deles sem culpa? Há espertos que se aproveitam dele para jogos de poder? Há pessoas neles capazes de cometer violência? Para que são usadas as redes? Qual o papel da comunicação violenta nas redes?
Há pessoas que trabalham para as redes e são remuneradas por seu trabalho. Há mercado negro nas redes, há trabalho ilegal e dinheiro sujo, há milícias midiáticas ocupadas em enganar, mentir, destruir reputações, há pessoas cometendo crimes, aliciando pessoas mentalmente precárias, roubando e assaltando virtualmente. Não estou mencionando esses aspectos para dizer que as redes são más, não é isso. Temos que entender que as redes são “medialidades”, são meios sobre os quais fazemos escolhas. Meios que nós movimentamos? Ou eles nos movimentam? Dançamos conforme a música nas redes? [...]
    O tempo, a privacidade, a vida íntima, familiar, o que estiver a mão, é transformado em mercadoria. É o triunfo da lógica da mercadoria. 
    Há ainda o aspecto da produção da subjetividade por meio da transformação da subjetividade em mercadoria. Um dos pontos altos dessa produção passa pela imagem de si nas redes, imagens como selfies, imagens como paisagens, imagens como frases feitas e formulações instantâneas com alto teor de impacto ou “lacrações”.
    Em termos simples, cada um está produzindo e vendendo a si mesmo. Ao mesmo tempo, em não sendo dono dos meios de produção de si, cada um se produz a partir de uma fórmula pronta dada pelo funcionamento do aparelho. Cada um é uma espécie de “consumidor consumido”, para lembrar Vilém Flusser.

(Marcia Tiburi. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/producao-de-si-mercadoriaredes-sociais/. Acesso em: 08/05/2019. Adaptado.)

O emprego do acento indicativo de crase em “Retira-se o estoque e se entrega às demandas.” (4º§) justifica-se pelo mesmo motivo apresentado no emprego do acento grave em:

Alternativas
Comentários
  • A determinação do juiz foi que permanecesse à distância.

    VTD mais OD

     

    B

    Diante de todas as acusações colocou-se à disposição da justiça.

    VTD mais OD

     

    C

    Aquele estabelecimento oferece as melhores condições de pagamento à prazo.

    Palavra masculina

     

    D

    Não me refiro à decisão anterior, mas considero a que atualmente tem validade no processo

    O verbo referir e VTI, pois, pede preposição

    Quem se refere se refere a alguém 

  • Primeiramente, se deve focar no fato de que o verbo entregar é transitivo indireto e direto, pedindo por preposição no primeiro caso. Pois quem entrega algo (VTD), faz isso a alguém (VTI).

    Logo, se deve buscar a alternativa que tem um verbo pedindo por preposição, para que ocorra a junção do artigo + preposição = à.

    A A determinação do juiz foi que permanecesse à distância. - Há crase no "a" que anteceder a palavra distância quando essa distância estiver especificada. Ex.: É bom manter-nos à distância de dez passos.

    B Diante de todas as acusações colocou-se à disposição da justiça. - Aqui, a disposição leva crase SIM! Mas não por um verbo transitivo indireto, mas sim por palavra feminina + artigo a.

    C Aquele estabelecimento oferece as melhores condições de pagamento à prazo. - Não existe crase antes de palavra masculina.

    D Não me refiro à decisão anterior, mas considero a que atualmente tem validade no processo. - Quem se refere, se refere ao que / a quem? Pede por preposição, logo, ocorre a junção do art. "a" + prep. "a", resultando na crase.

  • GABARITO: D

    ALTERNATIVA A) A determinação do juiz foi que permanecesse à distância.

    Trata-se de uma Locução Adverbial Feminina.

    ALTERNATIVA B) Diante de todas as acusações colocou-se à disposição da justiça.

    Trata-se de uma Locução Adverbial Feminina.

    ALTERNATIVA C) Aquele estabelecimento oferece as melhores condições de pagamento à prazo.

    "à prazo" (com crase) está errado, pois "prazo" é um substantivo masculino: o correto seria "a prazo".

    ALTERNATIVA D) Não me refiro à decisão anterior, mas considero a que atualmente tem validade no processo.

    Quem se refere, refere-se A alguém, ou A algo, alguma coisa (Verbo Bitransitivo): Não me refiro à decisão (preposição [a] + artigo feminino [a]) anterior.