“Quincas Borba”, considerada uma das grandes obras da fase áurea do escritor Machado
de Assis, põe em cena a história de Rubião, um modesto professor de Barbacena, cidade no
interior de Minas Gerais, que, ao receber uma herança inesperada do amigo Quincas Borba,
resolve mudar para o Rio de Janeiro – na época, centro da vida política e econômica brasileira.
Ali, encontra dificuldades para adaptar-se ao modo de ser dos que convivem com o poder,
tornando-se uma vítima de aproveitadores que se fazem passar por amigos, caso, sobretudo, do
casal Cristiano e Sofia Palha.
O capítulo transcrito a seguir é o último do livro. Nele se encontra uma espécie de síntese da
narrativa, ao se elencarem personagens centrais da trama a partir da notícia da morte do cão
Quincas Borba, cujo nome é o mesmo de seu primeiro dono, que foi herdado por Rubião.
“Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu também, ganiu infinitamente, fugiu
desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte
do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto
homônimo é que dá título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões,
que nos levariam longe... Eia! chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, rite. É a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está
assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.”
(MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. p.
344).
Apesar de Machado de Assis construir parte significativa de sua obra ainda em fins do século XIX,
é possível já verificar, em seus textos, o emprego de recursos próprios da literatura moderna. A
esse propósito, sobre o trecho em questão, pode-se afirmar que: