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ID
5413726
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Câmara de Amparo - SP
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Consumo e felicidade

      Patrick Terrien, chef francês e diretor da escola de culinária Le Cordon Bleu, declarou à coluna “As últimas 10 coisas que comprei”, do caderno Vitrine, da Folha, ter comprado champanhe, flores, foie gras, laranjas, cogumelos selvagens, água, jornal, pão, um CD e entradas para o cinema.
      O que uma pessoa compra dá uma boa noção de como ela vive. No caso do chef, tudo o que ele comprou foi para o consumo em família, para presentear um amigo e sair com a mulher.
       Comprou coisas que não duram nem podem ser exibidas, mas podem tornar a relação entre as pessoas próximas a ele mais agradável e apetitosa.
       [...]
       Mas, na sociedade de consumo, vivemos para sermos felizes por meio do que adquirimos. Paradoxalmente, por meio daquilo que descartamos.
    A aquisição de mercadorias satisfaz nossos desejos e providencia nossa felicidade. Mas os desejos são inesgotáveis. Brotam de todo contato que temos com o que existe no mundo. Um dá lugar a outro, e satisfazê-los é tarefa impossível.
    Como as mercadorias são produzidas com a finalidade primeira de serem compradas, a sociedade de consumo precisa permanentemente provocar nossa insatisfação com o que temos e atiçar nosso desejo pelo que ainda não temos. Toda propaganda de alguma mercadoria sugere, subliminarmente, que aquela que temos está ultrapassada e não pode nos oferecer o que a nova poderá. Não comprá-la é ficar em falta com nós mesmos e não pertencer ao círculo especial dos que já a adquiriram.
  Enredados nesse modo-contínuo de insatisfação/ descarte/consumo, compreendemos a máxima da vida: sempre seremos felizes por pouco tempo.
     Toda suposta felicidade antecipa uma infelicidade. E, enquanto saltamos de uma infelicidade a outra, a almejada felicidade passa a ser um breve intervalo, sempre imperceptível.
        A felicidade, substituída pela satisfação de desejos nunca aplacáveis, jamais é experimentada. O que nos resta é a ansiedade da felicidade.
    As compras do chef francês sugerem que ele se desvia dessa sedução consumista. Fruir, mais do que ter. E não apenas o sabor do foie gras ou dos cogumelos, mas o prazer de repartir com amigos e familiares pequenos prazeres. Celebração e simplicidade.

(DULCE CRITELLI, terapeuta existencial e professora de filosofia da PUC-SP, é autora de “Educação e Dominação Cultural” e “Analítica de Sentido” e coordenadora do Existentia – Centro de Orientação e Estudos da Condição Humana dulcecritelli@existentia.com.br Cristiane Segatto. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1211200901.htm. Acesso em: 01/2020. DULCE CRITELLI/FOLHAPRESS. Adaptado.)

No texto, a autora menciona que há um paradoxo referente à vida na sociedade de consumo, tal paradoxo pode ser indicado pelas expressões:

Alternativas
Comentários
  • Gab D. Paradoxo foge à lógica, tem sentidos opostos na mesma função sintática

  • Mas, na sociedade de consumo, vivemos para sermos felizes por meio do que adquirimos. Paradoxalmente, por meio daquilo que descartamos.

  • PARADOXO:

    Uso de ideias que têm sentidos opostos, não apenas de termos.

    Exemplo: Estou cego de amor e vejo o quanto isso é bom.

  • A questão é sobre figuras de linguagem e quer que identifiquemos o paradoxo referente à vida na sociedade de consumo. Vejamos:

     .

    Paradoxo: consiste essa figura, também chamada oxímoro, em usar, intencionalmente, um contrassenso.

    Ex.: Valentia covarde assaltar e matar pessoas indefesas!

     .

    A) “compra e consumo”.

    Errado. "Comprar" e "consumir" não são ideias contrárias.

     .

    B) “consumo e felicidade”.

    Errado. "Consumir" e "ser feliz" não são ideias contrárias.

     .

    C) “vivemos e adquirimos”.

    Errado. "Viver" e "adquirir" não são ideias contrárias.

     .

    D) “adquirimos e descartamos”.

    Certo. "Adquirir, comprar" e "descartar, jogar fora" são ideias contrárias. Vale lembrar que uma sociedade de consumo é moldada para que as pessoas sejam estimuladas a consumir coisas o tempo todo, mesmo quando não precisam dos itens consumidos. Além disso, a indústria se vale desta necessidade adotando como estratégia o encurtamento da vida útil dos produtos, de modo a estimular a roda da sociedade de consumo, e com isso há a expansão da produção de lixo.

     .

    Gabarito: Letra D