SóProvas


ID
5438818
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Colômbia - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Eu, Mwanito, o afinador de silêncios
   A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que poderemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
   Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
   — Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.
   Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego. Depois, ele inspirava fundo e dizia:
   — Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.
   Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mãe, Dona Dordalma, quem podia ter a certeza? De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.
   — Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente. Meu pai. A voz dele era tão discreta que parecia apenas uma outra variedade de silêncio. Tossicava e a tosse rouca dele, essa, era uma oculta fala, sem palavras nem gramática.
   Ao longe, se entrevia, na janela da casa anexa, uma bruxuleante lamparina. Por certo, meu irmão nos espreitava. Uma culpa me raspava o peito: eu era o escolhido, o único a partilhar proximidades com o nosso progenitor.
(COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Fragmento adaptado.)

Há na narrativa informações que indicam que:

Alternativas
Comentários
  • O jeito que eu sou horrível em interpretação de textos é diferente..... -.-'

  • Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado...

    ENTÃO, COMO NÃO SE SENTIA À VONTADE??????????????

  • Oi!

    Gabarito: B

    Bons estudos!

    -Quanto MAIOR forem os seus estudos, MENORES são as chances de cair no fracasso.

  • Uma culpa me raspava o peito: eu era o escolhido, o único a partilhar proximidades com o nosso progenitor

  • A) Em nenhum momento o texto sugere que havia imposição do pai. Além disso, o próprio protagonista questiona o fato de o silêncio ser ou não legado da mãe "quem podia ter a certeza?"

    C) Não havia nenhum obstáculo na relação de filho com pai. Pelo contrário, eles se comunicavam muito bem por meio do silêncio e no último parágrafo Mwanito se via como o "escolhido";

    D) Em nenhum momento do texto o protagonista estabelece associações ou comparações entre sua família e outras.

    Portanto, nosso gabarito é letra b), pois no último parágrafo está escrito que Mwanito se sentia culpado por ser o escolhido e ter mais afinidade com o pai do que o seu outro irmão, o qual o espreitava da janela.

    Fonte: Curso da Flavia Rita

  • Gabarito - B

    Não se faz concurso só PARA passar, se faz ATÉ passar.