SóProvas


ID
5464450
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Colômbia - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Carta aberta a Lourenço Diaféria*
   Dom Lourenço:
  Sou um assíduo leitor. Leio tudo e continuamente. No banheiro, no ônibus, no quintal, na calçada; de madrugada, tarde, noite; livros, livretos, folhetins, revistas, cartazes, pichações, jornais, jornalecos, folhas soltas, propagandas, guias telefônicos, bulas, portas de banheiro e até uma ou outra palma da mão.
   Sou um leitor.
   Sou um leitor por imagem refletida, como num espelho ou numa montanha de ecos, pois o que eu queria mesmo era ser escritor. Vã esperança. Louco sonho. Não fui ou não aconteci, como se diz agora. Daí virei leitor; não virei, nasci leitor... Mas, desgraça minha – ou sorte –, não sou um leitor técnico, erudito, de análise. Não, não consigo sequer desvendar normas gramaticais, estilos, influências... Dir-se-ia leitor cru? E como não bastasse: gringo, estrangeiro, Tupac-Amaru. Sou apenas um glutão de imagens, sentimentos, emoções e vibrações. Sou um leitor de nó na garganta e lágrimas fáceis. Sinto nas palavras, por outros escritas, aquilo tudo que está dentro de mim, que queria expressar e não consigo; que sinto e não sei transmitir.
   Ah! Dom Lourenço... É a mesma coisa que ter um balão dentro da gente que vai enchendo de emoções, emoções, emoções, pronto a explodir, e, quando acontece, estoura o peito e espalha aquelas palavras todas – imagens e sentimentos – salpicando todos em volta, pintando-os todos multicolores, floridos, irmanando-os, tornando os homens mais humanos, mais compreensivos, mais amigos, mais altos, mais nobres e mais puros. 
   Sou um leitor. E como tal tenho um aferido e aguçado “sentimentômetro” de revoluções mil, de pique e médias, de luzes amarelas, verdes e vermelhas. E meu particular aparelho de medir sentimentos há muito não acusava pressão máxima. Há muito eu não sentia a faixa vermelha, o assobio estridente, a pulsação acelerada, o lacre de segurança quebrado, que anuncia próxima e inadiável explosão. Mas ao ler Morte sem colete o aparelho funcionou e senti em mim a caldeira de pressão, o rio sem barragem, a sombra fresca, cântaro na fonte, grito de liberdade, toque de recolher, queda e consciência...
   Gracias, muchas gracias, por nos tornarmos irmãos no sentir e transmitir. 
   *Lourenço Carlos Diaféria foi um contista, cronista e jornalista brasileiro.
(MEYER, Luís Aberto. In: Magistrando a Língua Portuguesa: literatura
brasileira, redação, gramática, metodologia do ensino e literatura
infantil. Rose Sordi. São Paulo: Moderna, 1991.)

Tendo em vista as variedades linguísticas e a linguagem como instrumento de comunicação, assinale a afirmativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Por gentileza, solicitem comentário do professor.

  • Mas que questão estranha. O professor poderia explicar, por favor. Estou com dificuldade em entender esta resposta.

  • O que me confundiu: "Mas, desgraça minha – ou sorte –, não sou um leitor técnico, erudito, de análise. Não, não consigo sequer desvendar normas gramaticais, estilos, influências..."

  • Vc que chegou nesta questão, por favor, peça comentário do professor. Obrigada! :)

  • Gostaria de saber se essas marcas de oralidade (ex. Ah! Dom Lourenço...) tiram o caráter formal do texto. Alguém sabe me responder?

  • Mas que questão estranha. O professor poderia explicar, por favor. Estou com dificuldade em entender esta resposta.

  • Por favor, me corrigem se estiver errada.

    Linguagem Informal

    Primeiro: é utilizada entre amigo e familiares.

    Segundo: Utiliza vocabulário simples, expressões populares, gírias ou palavras inventadas.

    Terceiro: é utilizada para conversas do dia a dia como em mensagens de whatsapp e redes sociais.

    Linguagem Formal

    Primeiro: Não existe familiaridade entre os interlocutores.

    Segundo: Clara e objetiva, segue as regras gramaticais e com vocabulário rico e diverso.

    Terceiro: é utilizada em documentos oficiais, cartas, salas de aulas e etc.

    No texto existe essa linguagem informal ("E como tal tenho um aferido e aguçado “sentimentômetro”...") , porém como o autor do texto escreve uma carta para um desconhecido - não sendo um amigo ou familiar - há uma predominância do uso da linguagem formal no texto.

  • Qdo há 2 alternativas antagônicas (o q percebemos na letra A e na D), PROVAVELMENTE, eu disse, PROVAVELMENTE, uma delas é a resposta. Foi o que aconteceu no caso em tela e, por sorte, dessa vez essa regra foi aplicada. :-)

  • Você errou e eu também! <3

  • Gabarito: A

    Acredito que o que deve ser percebido nessa questão é que informalidade/formalidade linguística não é um assunto "preto no branco"; existem graus de formalidade que variam de acordo com o gênero, a proposta, os interlocutores, o contexto, etc. Não é improvável que existam casos em que a determinação sobre se um texto tem linguagem formal ou informal pode parecer confusa, porque ele parece ter marcas que apontam para os dois lados. O máximo que podemos fazer é afirmar a predominância de uma ou outra modalidade. Além disso, a adequação ou não de cada linguagem também deve ser analisada de acordo com o contexto.

    A leitura desse texto permite perceber 1) que se utiliza a norma padrão, além de estruturas frasais bastante completas e formais; e 2) que a carta se dirige a alguém que é referido com o pronome de tratamento "Dom" — se é alguém que exigiu esse tratamento respeitoso na carta, isso pode indicar que a proposta comunicativa traz mesmo a necessidade de uma linguagem formal.

    Mas dito isso, para ser completamente sincero eu só consegui responder essa com certeza indo pelo processo de eliminação (o que funciona bastante nessas questões um pouco confusas). Então, vou mostrar meu raciocínio para eliminar as outras alternativas em outro comentário (porque não estou conseguindo deixar tudo aqui).

  • (continuando o comentário anterior)

    O principal motivo para a letra B ser incorreta é o de que a conexão feita entre usar mais de uma variante linguística e repudiar o preconceito linguístico é ilógica; uma coisa não leva necessariamente à outra. Além disso, devo dizer que não consegui enxergar no texto uma delimitação de três variantes linguísticas.

    A letra C é incorreta principalmente por afirmar que a linguagem informal é necessariamente inadequada ao gênero carta, o que não é verdade. Uma carta entre amigos pode, sim, ser informal. Também não acredito, particularmente, que o uso da interjeição "Ah!" implique exatamente em informalidade (aí entramos na questão que falei, sobre as coisas não serem perfeitamente divididas), mas isso é irrelevante, pois o erro maior da alternativa é a outra questão que descrevi.

    A letra D é incorreta basicamente por fazer o oposto da letra C, mas fazê-lo também de uma forma absoluta; o gênero carta não PRECISA ser formal nem informal; a adequação nesse caso depende muito mais do propósito da comunicação e da relação entre os interlocutores.

    Para eliminar essas alternativas eu não precisei chegar a uma conclusão definitiva sobre a formalidade ou não do texto ou das expressões destacadas, apenas percebi que a forma como elas estavam raciocinando sobre o assunto estava incorreta. Mas se eu tivesse que determinar, concordo sim com a letra A; não acho que as marcas textuais como interjeições e neologismos* sejam suficientes para retirar a formalidade geral do texto.

    *: aliás, eu achei que o fato de o neologismo "sentimentômetro" ter sido colocado entre aspas apenas corrobora o fato de que é um texto formal, sendo essa palavra um "ponto fora da curva" que por esse motivo precisou ser destacado. Não que isso seja uma regra, mas foi um indício que utilizei.

  • Essa é uma questão sobre interpretação textual em que a banca apresenta uma carta aberta como texto de apoio. Neste, o autor se utiliza do tipo textual para expor sua relação com a leitura e suas particularidades enquanto leitor para, ao fim, direcionar sua mensagem ao escritor Lourenço Carlos Diaféria em virtude da leitura de sua obra literária “A Morte sem Colete".

    Partindo agora para as opções, as quais trazem afirmações acerca do texto dentre as quais devemos inferir qual é a correta, podemos identificar já na letra A a alternativa a ser marcada. Isso porque, de fato, o texto é predominantemente formal. É preciso frisar esse advérbio, pois, em certos momentos, como ao usar a interjeição em “Ah! Dom Lourenço" ou mesmo ao se utilizar de um neologismo (“sentimentômetro"), ele escapa minimamente da linguagem formal, porém esses momentos são raros ao longo da leitura e o texto, em sua quase totalidade, obedece às regras da escrita formal, bem como os ditames da norma culta para tecer a sua carta aberta.

     A opção B não tem coerência, pois o texto, sendo predominantemente formal, não apresenta mescla de três ou mais variantes linguísticas e não, em nenhum momento, nada que suponha apoio ou repúdio a qualquer tipo de preconceito linguístico. Essa não é uma questão na carta aberta.

    Em C, comenta-se a respeito do uso da interjeição. No entanto, o autor aqui toma algumas pouquíssimas liberdades, como essa, a fim de se aproximar afetivamente do primeiro interlocutor de sua carta, que é o escrito Dom Lourenço Carlos Diaféria. Mantendo-se o texto, em sua maior extensão, obediente aos ditames da gramática e da norma culta formal, esse tipo de recurso não macula o todo do texto.

    Em D, tem-se novo equívoco, pois aqui a carta não é uma carta qualquer, e sim uma carta aberta, na qual o autor saber que, além daquele a quem ele direciona primeiramente o texto, várias outras pessoas terão acesso àquele conteúdo, haja vista o caráter público de uma carta aberta. Sendo assim, a formalidade é totalmente adequada ao gênero escolhido.

    Gabarito do Professor: Letra A
  • Para a produção de textos formais com excelência são necessários: domínio das relações sintáticas, semânticas morfológicas e ortográficas, ou seja, domínio da gramática normativa; respeito às estruturas textuais exigidas, visto que cada gênero possui uma forma específica e um amplo conhecimento de mundo da parte de quem produz.

    Teses acadêmicas, crônicas, romances, relatórios, cartas, manifestos, emails profissionais, textos jornalísticos e outros gêneros são exemplos de textos formais.

    Fonte: https://escolaeducacao.com.br/diferenca-entre-texto-formal-e-informal/