SóProvas


ID
5472253
Banca
IDIB
Órgão
Câmara de Planaltina - GO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I

GPS 


    Entrei no táxi e falei o meu destino.

    – Rua Araribóia, por favor.

    – Araribóia? Espera um minuto!…– rebateu o homem.

    Programou então seu GPS e arrancou.

    – Não precisa de GPS, amigo. Sei mais ou menos onde fica. Posso lhe orientar.

    – Ah, não. Não saio mais de casa sem isto – declarou.

    Resmunguei em silêncio. E lá se foi o taxista seguindo seu brinquedinho falante – “vire à esquerda”; “a 50 metros você vai virar à direita”; “daqui a 300 metros faça o retorno à esquerda”…

    De repente, entre uma e outra prosa, vi ele se afastando da direção que eu julgava ser a correta.

    – Amigo, acho que você está na direção contrária. Tinha que ter entrado naquela rua à direita, melhor fazer o retorno na frente.

    – Não, não, olha aqui – apontou pra geringonça, orgulhoso como ele só. É esse mesmo o caminho.

    Cocei a cabeça irritado. Embora eu não soubesse exatamente qual o trajeto a seguir, sabia que aquele caminho que ele fazia era estupidamente mais longo e complexo. 

    Argumentei mais uma vez, já na iminência de explodir.

    – Moço, desculpe, mas tenho quase certeza de que você está fazendo um caminho muito mais longo do que devia.

    – Não esquenta a cabeça não, companheiro. Tá aqui no GPS, ó. Não vou discutir com a tecnologia, né, amigo?

    “Não vou discutir com a tecnologia.” Sim, eu havia ouvido aquilo. E mais que uma frase de efeito de um chofer de praça, aquilo era uma senha que explicava muita coisa, talvez explicasse até toda uma época.

    O sujeito deixava de lado sua inteligência (se é que a tinha), a experiência de anos perambulando a bordo do seu táxi pelas quebradas da cidade e o próprio poder de dedução para seguir uma engenhoca surda e cega – mas “tecnológica” – sem questioná-la, e sem que eu também pudesse fazê-lo.

    Não quero parecer um dinossauro (embora por vezes eu inevitavelmente pareça), mas sempre defendi um uso inteligente, comedido e crítico dos apetrechos eletrônicos. Conheço pessoas que, por comodidade, condicionamento ou deslumbramento com o novo mundo cibernético, não se deslocam mais à esquina para comprar pão sem que façam uso de GPS, Google Maps e o escambau.

    Tenho um sobrinho, um pensador irreverente de botequim, que gosta de dizer o seguinte:

    – As rodas de bar ficaram muito chatas depois do iPhone. Ninguém mais pode ter dúvida alguma. Se alguém perguntar: “como é o nome daquele cantor que cantava aquela música?”; ou então: “quem era o centroavante da seleção de 86?”, logo algum bobo alegre vai acessar a internet e buscar a resposta. E aí acabar com a graça, a mágica e o mistério… Não sobra assunto pro próximo encontro.

    Outro amigo, filósofo de padaria, tem uma tese/profecia tenebrosa sobre o uso sem critério dos tecnobreguetes: Diz ele:

    – Num futuro próximo, as pessoas deixarão de ter memória. Para que lembrar, se tudo caberá num HD externo?

    É. Faz bastante sentido a tese do meu amigo. Aliás, há tempos não o vejo, o… o… Como é mesmo o nome dele, gente? Aníbal, não. Átila, não… É um nome assim, meio histórico… Desculpem aí, vou ter que espiar na agenda do meu celular.


Zeca Baleiro

Disponível em https://istoe.com.br/133775_GPS/

“Conheço pessoas que, por comodidade, condicionamento ou deslumbramento com o novo mundo cibernético, não se deslocam mais à esquina para comprar pão...”. A crase foi empregada na frase por

Alternativas
Comentários
  • Nas locuções circunstanciais femininas, embora esse “a” possa ser só preposição, é de tradição acentuá-lo por motivo de clareza. Compare nos exemplos o sentido da frase com e sem o acento indicativo de crase:

    • Vendeu a vista (os olhos). Vendeu à vista.
    • Cheirava a gasolina. Cheirava à gasolina. (tinha o cheiro de)
    • É para receber a bala. É para receber à bala (com bala).
    • Lavar a mão. Lavar à mão.
    • Pagou a prestação. Pagou à prestação.
    • Tranquei a chave (a chave foi trancada). Tranquei à chave.
    • Bater a porta. Bater à (na) porta.
    • Lavar a máquina. Lavar à maquina.
    • Veio a tarde. Veio à tarde.

    fonte: https://portuguessemmisterio.com.br/2018/06/01/crase-antes-de-locucoes-adverbiais-de-circunstancia/

  • Não entendi direito. A locução adverbial feminina, neste caso, se caracteriza pelo termo "mais"?

  • Direto ao ponto!

    Caíram na casca de banana rsrsrs

    Trecho: "Conheço pessoas que, por comodidade, condicionamento ou deslumbramento com o novo mundo cibernético, não se deslocam mais à esquina para comprar pão..."

    O verbo deslocam rege a preposição para, pois quem se desloca, desloca-se para algum lugar!

    Assim, ficamos com uma Locução Adverbial Feminina de Lugar: à esquina, à direita, à esquerda...

    Ex.: No próximo contorno, desloque-se à direita para entrar na BR 171.

    GABARITO: C)

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  • A questão é de e quer saber por qual motivo a crase foi empregada em “Conheço pessoas que, por comodidade, condicionamento ou deslumbramento com o novo mundo cibernético, não se deslocam mais à esquina para comprar pão...”. Vejamos:

     .

    A) exigência do verbo “deslocar” e do substantivo seguinte.

    Errado. A crase não foi empregada por causa da exigência do verbo "deslocar" e do substantivo seguinte, mas, sim, pelo fato de "à esquina" ser uma locução adverbial.

     .

    B) exigência do substantivo feminino “esquina”.

    Errado. A crase não foi empregada por causa da exigência do substantivo feminino "esquina", mas, sim, pelo fato de "à esquina" ser uma locução adverbial.

     .

    C) tratar-se de uma locução adverbial feminina.

    Certo. "À esquina" é uma locução adverbial.

    SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza adverbial, formadas com palavra feminina

    Ex.: À vontade, à noite, à tarde, às pressas, às vezes, à toa, às claras, às escondidas, à direita, à esquerda, à milanesa (= à moda milanesa)...

     .

    D) tratar-se de locução conjuntiva feminina.

    Errado.

    SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza conjuntiva

    Ex.: À medida que, à proporção que

     .

    Gabarito: Letra C