SóProvas


ID
5489983
Banca
IUDS
Órgão
IF-RJ
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Olhos d’água (Fragmento)
Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo, busquei dar conta de minhas próprias dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe aprendi conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo... Da verruga que se perdia no meio da cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens alheias, se tornava uma grande boneca negra para as filhas, descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo ela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e uma de minhas irmãs aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto das lágrimas escorrerem. Mas, de que cor eram os olhos dela?
Eu me lembrava também de algumas histórias da infância de minha mãe. Ela havia nascido em um lugar perdido no interior de Minas. Ali, as crianças andavam nuas até bem grandinhas. As meninas, assim que os seios começavam a brotar, ganhavam roupas antes dos meninos. Às vezes, as histórias da infância de minha mãe confundiam-se com as de minha própria infância. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. Aquelas flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria, de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.
Conceição Evaristo (Olhos d’água, p. 15-19)

"E diante dela fazíamos reverências à Senhora".
O sinal indicativo de crase foi empregado, seguindo a mesma regra da oração, acima, em: 

Alternativas
Comentários
  • Aguardando comentários. Não entendi essa questão.

  • "E diante dela fazíamos reverências à Senhora". O sinal indicativo de crase foi empregado, seguindo a mesma regra da oração, acima, em:

    A crase ocorre devido a regência nominal, reverências rege a preposição "a" e o pronome de tratamento Senhora aceita o artigo "a" (caso facultativo de crase). A questão pede que se encontre outra oração na qual a crase ocorra por regência nominal, apenas a opção C se encaixa nesta regra : A pesquisa ofereceu maior suporte à cidade menos privilegiada, sendo que suporte rege a preposição "a" e cidade aceita o artigo "a". Todos os demais casos são de crases por regência verbal.

    Qualquer erro me avisem por mensagem, bons estudos!!!

  • "E diante dela fazíamos reverências à Senhora".

    A crase está presente devido à regência nominal.

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    Alternativas

    Apesar do engarrafamento, o estagiário compareceu à entrevista.

    A crase está presente devido à regência verbal.

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    O novo orçamento destina-se àquela empresa paulista.

    A crase está presente devido à regência verbal.

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    A pesquisa ofereceu maior suporte à cidade menos privilegiada. 

    A crase está presente devido à regência nominal.

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    Toda a exposição soube, com maestria, unir a atividade à criatividade

    A crase está presente devido à regência verbal.

  • NAO SERIA VTDI?

  • Antônio Mateus pensei a mesma coisa
  • ela queria saber sobre o verbo bitransitivo

  • Segundo a gramática da prof Adriana Figueiredo, o pronome de tratamento "senhora" não se trata de caso facultativo da crase, mas obrigatório.

  • Isso aí é verbo transitivo direto e indireto ( na questão), então pra mim tem duas respostas "C" e "D". Nas duas respostas têm VTDI, ou seja, o verbo OFERECER e UNIR.

    Quem Oferece, oferece algo a alguém:

    Alternativa "C": A pesquisa ofereceu maior suporte (algo) à cidade menos privilegiada (alguém)

    Quem uni, uni algo a alguma coisa:

    Alternativa "D": Toda a exposição soube, com maestria, unir a atividade (algo) à criatividade (alguma coisa)

    Eu marquei C, mas pra mim as duas alternativas estão corretas!

  • Corrijam-me caso eu esteja errado.

    Na minha opinião, o verbo fazer na questão foi usado como VTDI. Quem faz, faz algo (reverências - OD), a alguém (a Senhora - OI). Ou seja, houve a junção da preposição do verbo transitivo indireto + o artigo (a) de Senhora.

    Com base nesse raciocínio, a assertiva correta só pode ser a C, pois quem oferece, oferece algo (maior suporte - OD), a alguém (a cidade menos privilegiada - OI), sendo a junção da preposição do verbo transitivo indireto + o artigo (a) de cidade.

  • Leia-se o fragmento textual:

    "E diante dela fazíamos reverências à Senhora."

    A crase é assinalada devido a regência nominal (e não verbal) do substantivo "reverências". Este rege a preposição "a" que se funde com o "a" determinante do pronome "senhora": reverências a + a senhora = reverências à senhora. Convém citar para dissolver possíveis dúvidas: o verbo "fazer" não é bitransitivo, ou seja, não possui dois objetos, sendo um direto e outro indireto. Ele é transitivo direto cujo complemento verbal direto é o termo "reverências". Por sua vez, "reverências" é o termo regente de um complemento nominal (à senhora). Diante disso, você precisa identificar em qual das opções abaixo um nome (adjetivo, advérbio ou substantivo) rege a preposição "a" que se funde com um "a" determinante do complemento nominal.

    a) Apesar do engarrafamento, o estagiário compareceu à entrevista.

    Incorreto. A crase é assinalada devido à regência verbal da forma verbal "compareceu";

    b) O novo orçamento destina-se àquela empresa paulista.

    Incorreto. A crase é assinalada devido à regência verbal da forma verbal "destina-se";

    c) A pesquisa ofereceu maior suporte à cidade menos privilegiada. 

    Correto. Aqui, sim, a crase é assinalada devido à regência nominal do substantivo "suporte". Este rege a preposição "a" que se funde com o "a" determinante do substantivo "cidade": suporte a + a cidade = suporte à cidade. Todo o fragmento "à cidade menos privilegiada", portanto, exerce a função sintática de complemento nominal do substantivo "suporte";

    d) Toda a exposição soube, com maestria, unir a atividade à criatividade

    Incorreto. A crase é assinalada devido à regência verbal de "unir".

    Letra C

  • GABARITO: C

    Casos em que nunca ocorre crase

    x Antes de palavra masculina (pois antes de masculina não ocorre o artigo “a”, indicador do gênero feminino): pagamento a prazo; andar a cavalo; sal a gosto.

    x Antes de verbo (porque antes de verbo não ocorre artigo): O suspeito está disposto a ajudar.

    x Antes de pronomes em geral (porque antes deles, geralmente, não ocorre artigo): Ele disse a ela que não fará a viagem; Ele falou alguma coisa a você?

    x Antes de nome de cidade (porque antes de nomes de cidade não se emprega artigo): Você não vai a Natal?

    x Expressões formadas por palavras repetidas: Cara a cara; frente a frente; minuto a minuto.

    x “A” antes de palavras flexionadas no plural: Os dados coletados não se referem a populações indígenas.

    x Depois de preposições como para, perante, com e contra: O encontro foi marcado para as 18 h; A manifestação é contra a corrupção.

    Casos em que sempre ocorre a crase

    ? Locuções adverbiais femininas que expressam ideia de tempo, lugar e modo: Às vezes Mariana vai à escola de ônibus; O aluno fez a lição às pressas e entregou para a professora.

    ? Locuções prepositivas: Os médicos estão à espera do paciente à esquerda do corredor.

    ? Locuções conjuntivas (existem apenas duas locuções desse tipo): À medida que o tempo passa, o casal fica mais apaixonado; À proporção que os dias passavam, o medo crescia.

    Casos em que a crase é opcional

    → Antes de pronomes possessivos femininos minha, tua, nossa etc. (pois nesses casos o uso do artigo antes do pronome é opcional): Os presentes foram entregues à minha irmã ou Os presentes foram entregues a minha irmã.

    → Antes de nomes de mulheres (pois aqui o artigo é opcional): Felipe fez um pedido à Raquel ou Felipe fez um pedido a Raquel.

    → Depois da palavra até (se depois dela houver uma palavra feminina que admita artigo, a crase será opcional): Os amigos foram até à praça ou Os amigos foram até a praça.

    Fonte: PEREZ, Luana Castro Alves. "O que é crase?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-crase.htm. Acesso em 19 de outubro de 2021.

  • GAB-C

    À CIDADE

    AO ESTADO

    O DIA MAIS FÁCIL FOI ONTEM.

  • Diante de pronomes de tratamento feminino sempre se usa crase.

    Bem simples.

  • tem umas questões que você não entende nem o que ela está pedindo