Por volta das décadas de 1970 e 1980, artistas mulheres – influenciadas pelos movimentos feministas – começaram a colocar em prática a importância de expressar em sua arte aspectos da personalidade individual e de gênero. O processo da liberdade feminina na arte, que exige a inserção da mulher dentro de um sistema artístico predominantemente masculino, surge da necessidade de emancipar o corpo da mulher da condição de objeto da representação pela ótica masculina – prática recorrente da história da arte. Essa questão tem suas origens em momentos anteriores: no século 19, diferentes tipos de discriminações relativos às mulheres artistas começaram a ocupar a esfera de um debate público. A trajetória de Maria Graham, vista da contemporaneidade, pode ser compreendida como um ponto de quebra da predominância artística masculina na arte. Graham representa a mulher que rompe os paradigmas de gênero impostos na sua época e se revela uma artista-viajante – figura que é tão recorrente na história da arte, cujo ensino, porém, nos direciona sempre para os homens que exerceram esse ofício.
Retornando a Why have there been no great women artists?, de Linda Nochlin, a própria responde a pergunta do título durante o artigo: “não existiram grandes mulheres artistas porque não existiram as condições sociais, políticas, culturais e intelectuais para que existissem. O que era surpreendente era – apesar de tudo – que existissem tantas e tão boas.” Se pensarmos nos movimentos artísticos que se sucederam ao longo dos tempos, nosso imaginário é sempre direcionado para figuras masculinas. Portanto, há de se pensar que as artistas mulheres que se consolidaram na história e hoje ocupam lugar de destaque nos debates da arte tiveram um contexto pessoal favorável para exercer o fazer artístico.
A Coleção de Arte da Cidade – acervo que possui algumas obras pontuais do período colonial e do século 19, além de importantes peças modernistas e contemporâneas provenientes dos Prêmios Aquisitivos do Salão Paulista de Belas Artes e do Programa de Exposições do CCSP – apresenta certo número de artistas mulheres, mas é notável a diferença em relação à quantidade de artistas homens. Por isso, é um desafio para as grandes instituições – detentoras de acervos que se atualizam de tempos em tempos – trazer questões atuais na formação de suas coleções, como a representatividade feminina, que surge da necessidade de reverter o domínio do homem na história da arte.
Texto: Danilo Satou
Pesquisa: Danilo Satou e Vera Maria Porto de Toledo Piza (pesquisadora da Coleção de Arte da Cidade)
Colaboração: Camila Bôrtolo (coordenadora da Coleção de Arte da Cidade)
Ilustração da capa: Beatriz Simões (a partir da obra da artista Lygia Pape)