SóProvas


ID
5512609
Banca
Unilavras
Órgão
Prefeitura de Cláudio - MG
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto I para responder à próxima.


Texto I


O vírus da linguagem


Sérgio Rodrigues


O escritor argentino Jorge Luis Borges, que não era muito simpático à etimologia, apontou a inutilidade de saber que a palavra cálculo veio do latim “calculus”, pedrinha, em referência aos pedregulhos que se usavam antigamente para fazer contas.

Tal conhecimento, argumentou o genial autor de “A Biblioteca de Babel”, não nos permite “dominar os arcanos da álgebra”. Verdade: ninguém aprende a calcular estudando etimologia.

O que Borges não disse é que o estudo da história das palavras abre janelas para como a linguagem funciona, como produz seus sentidos, que de outro modo permaneceriam trancadas. É pouco?

Exemplo: a história de “calculus” não ensina ninguém a fazer contas, mas a do vírus ilustra muito bem o mecanismo infeccioso que opera dentro dos —e entre os— idiomas.

O latim clássico “virus”, empregado por Cícero e Virgílio, é a origem óbvia da palavra sob a qual se abriga a apavorante covid-19. Ao mesmo tempo, é uma pista falsa.

Cícero e Virgílio não faziam ideia da existência de um troço chamado vírus. Este só seria descoberto no século 19, quando o avanço das ciências e da tecnologia já tinha tornado moda recorrer a elementos gregos e latinos para cunhar novas expressões para novos fatos.

No caso, nem foi preciso cunhar, bastou buscar no latim uma palavra pronta, sonora. Seus sentidos originais, todos vizinhos da sujeira, ajudavam: sumo, sêmen, veneno, poção, beberagem, linguagem vil.

Contudo, a não ser pelo código genético rastreável em palavras como visgo, viscoso e virulento, fazia séculos que o “virus” latino hibernava. Foi como metáfora venenosa que, já às portas do século 20, saiu do frigorífico clássico para voltar ao quentinho das línguas.

Em 1898, o microbiologista holandês Martinus Beijerink decidiu batizar assim certo grupo de agentes infecciosos invisíveis aos microscópios de então, com o qual o francês Louis Pasteur tinha esbarrado primeiro ao estudar a raiva.

O vírus nasceu na linguagem científica, mas era altamente contagioso. Acabou se tornando epidêmico no vocabulário comum de diversas línguas.

Quando a gripe espanhola varreu o mundo, em 1918, a humanidade já sabia nomear a coisa. “A linguagem é um vírus”, cantou Laurie Anderson.

É claro que saber de tudo isso não nos protege da epidemia que bate às portas do país quando ele está mais frágil, menos funcional, menos inteligente. Borges tem razão em parte.

Ainda não foi descoberto, no entanto, um tema em que a ignorância seja preferível ao conhecimento. Já se disse que nomear bem um problema é o primeiro passo para resolvê-lo.

O vírus da palavra penetrou no vocabulário da computação em 1972, como nome de programas maliciosos que se infiltram num sistema para, reproduzindo-se, colonizá-lo e infectar outros.

No século 21, com o mundo integrado em rede, deu até num verbo novo, viralizar. Foi a primeira vez que um membro da família ganhou sentido positivo, invejável: fazer sucesso na internet, ser replicado em larga escala nas redes sociais.

Mesmo essa acepção, como vimos, tinha seu lado escuro, parente de um uso metafórico bastante popular que a palavra carrega há décadas. No século passado, tornou-se possível falar em “vírus do fascismo”, por exemplo. Ou “vírus da burrice”.

Antigamente, quando se ignorava tudo sobre os vírus, uma receita comum que as pessoas usavam para se proteger do risco de contrair as doenças provocadas por eles era rezar. Está valendo.


Disponível em:

<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2020/03/o-virus-da-linguagem.shtml>.

Acesso em 12 mar. 2020

No excerto “[...] a história de “calculus” não ensina ninguém a fazer contas, mas a do vírus ilustra muito bem o mecanismo infeccioso que opera dentro dos —e entre os— idiomas.”, é adequado considerar que o autor empregou o seguinte recurso expressivo: 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: D.

    Para estudo!

    Metáfora: comparação com valor conotativo (o conectivo fica implícito). Ex.:Sempre sou eu (como) a estrela matutina; A noite é (como) um manto negro sobre o mundo.

    Eufemismo: é uma figura de pensamento empregada para expressar ideias desagradáveis e chocantes por meio de palavras brandas e suaves.

    Ex.: I – O parlamentar tomou emprestado dinheiro dos cofres públicos e esqueceu-se de devolver. (roubou, desviou dinheiro público) 

    Catacrese:  figura de linguagem que se refere a uma metáfora que já foi absorvida pela linguagem, de tanto ser utilizada. Ex.: Embarcou naquele avião gigantesco (Embarcar é entrar em um barco).

  • GABARITO: D

    Metáfora é uma figura de linguagem muito utilizada para fazer comparações por semelhança. É o uso de uma palavra com o significado de outra. É um tipo de comparação subjetiva, momentânea. Consiste no uso de uma palavra ou uma expressão em um sentido incomum, manifestando de maneira implícita uma relação de semelhança entre dois termos.

    Ex: Essa notícia foi um balde de água fria.

    Aquele homem é um gato.

    Minha filha está uma girafa!

    Fonte: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/metafora

  • Se não souber a resposta e tiver a palavra metáfora "MARQUE METÁFORA"

    por que ele costuma fazer comparação implícita e as bancas só cobram (metáfora, metonímia, prosopopéia/personificação , comparação , antítese e paradoxo) 5% de chances de cobrar outra coisa como respostas

  • A questão é sobre figuras de linguagem e quer saber a figura de linguagem presente em “[...] a história de “calculus” não ensina ninguém a fazer contas, mas a do vírus ilustra muito bem o mecanismo infeccioso que opera dentro dos —e entre os— idiomas”. Vejamos:

     .

    A) perífrase.

    Errado.

    Perífrase: É uma expressão que designa os seres por meio de algum de seus atributos ou de um fato que os celebrizou:

    Das entranhas da terra jorra o ouro negro. [= petróleo]

    O rei dos animais foi generoso. [= leão]

    O Poeta dos Escravos morreu moço. [= Castro Alves]

     .

    B) catacrese.

    Errado.

    Catacrese: palavra ou expressão usada com seu significado original transposto ou adulterado: embarcar num trem, ficar a cavalo sobre um muro, enterrar-se um espinho no pé, tapar a boca dos poços, mesa de pés torneados, afiar os dentes da serra, etc.

     .

    C) eufemismo.

    Errado.

    Eufemismo: consiste em suavizar a expressão de uma ideia triste, molesta ou desagradável, substituindo o termo contundente por palavras ou circunlocuções amenas ou polidas.

    Ex.: Fulano foi desta para melhor. [= morreu]

     .

    D) metáfora.

    Certo. Em "mecanismo infeccioso", há uma metáfora.

    Metáfora: é o desvio da significação própria de uma palavra, nascido de uma comparação mental ou característica comum entre dois seres ou fatos.

    Ex.: "O pavão é um arco-íris de plumas."

    • Não confundir a metáfora com a comparação. Na comparação, os dois termos vêm expressos e unidos por nexos comparativos (como, tal, qual, assim como, etc.):

    Nero foi cruel como um monstro. (comparação)

    Nero foi um monstro. (metáfora)

     .

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     .

    Gabarito: Letra D

  • Galera dá certo estudar por questões!

  • PPMG