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ID
5514106
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Ribeirão Preto - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Escritório


    Aluguei um escritório. Minha senhoria é a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência – o que quer dizer que começo bem, sob a égide de um santo de minha particular devoção. Espero que ele me assista nesta grave emergência.

    Grave, porque assumi compromisso, com contrato registrado e sacramentado, de cumprir fielmente o regulamento do prédio na minha nova condição de inquilino. Não posso, por exemplo, colocar pregos que danifiquem as paredes.

    Mas escritório de quê? Advocacia? A tanto não ousaria, sendo certo que minha qualidade de bacharel nunca me animou sequer a ir buscar o diploma na Faculdade (onde, confio, esteja ainda bem guardado à minha espera, se dele precisar para qualquer eventualidade: a de ser inesperadamente convocado à vida pública, por exemplo, com uma honrosa nomeação, sacrifício a que seria difícil esquivar-me). Pelo que, não ousariam a esta altura da minha vida, iniciar-me na profissão a que o dito diploma presumivelmente me habilita. Além do mais, eu não poderia mesmo colocar o prego para dependurá-lo na parede.

    Fica sendo então escritório, tão-somente. Nem mesmo de literatura: apenas um local onde possa acender diariamente o forno (no sentido figurado, apresso-me a tranquilizar o condomínio) desta padaria literária de cujo produto cotidiano, fresco ou requentado, vou vivendo como São Francisco é servido. Levo para o meu novo covil uma mesa, uma cadeira, a máquina de escrever – e me instalo, à espera de meus costumeiros clientes.

    Estranhos clientes estes, que entram pela janela, pelas paredes, pelo teto, trazidos pelas vozes de antigamente, vindos numa página de jornal, ou num simples ruído familiar: projeção de mim mesmo, ecos de pensamento, fantasmas que se movem apenas na lembrança, figuras feitas de ar e imaginação.

(Fernando Sabino. A mulher do vizinho. Adaptado)

É correto afirmar que o objetivo do narrador ao alugar um escritório é

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: C

    Essa é uma questão perigosa rsrs. Olhando só o título, você pode pensar que o autor abriu um escritório para exerce sua profissão de advogado (esta é, naturalmente, a função de um escritório). Mas, ao lermos o texto, percebemos que o autor diz que abriu um escritório tão-somente para escrever rsrs. Seus clientes não são pessoas físicas, mas sim pensamentos, que surgem por meio de escritos ou jornais, por exemplo.

    (A) exercer a profissão para a qual se habilitou na faculdade. → Errado.

    • "Mas escritório de quê? Advocacia? A tanto não ousaria, sendo certo que minha qualidade de bacharel nunca me animou sequer a ir buscar o diploma na Faculdade..."

    (B) reunir-se às escondidas no local, que ele chama de covil. → Errado. Extrapolou o texto. O autor não diz que ele se reúne às escondidas.

    (C) produzir seus escritos, seguindo sua inspiração. → Correto. O local objetiva a produção dos escritos do autor, de acordo com seus clientes (sua inspiração).

    (D) atender clientes interessados em seus serviços profissionais.  → Errado. Não é isso o que diz o texto.

    (E) criar um ambiente propício para testar suas aptidões gastronômicas. → Errado. Extrapolou rsrs, haja vista que a "padaria", no texto, está no sentido figurado, no sentido de criação literária, e não a produção alimentícia, propriamente dita.

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • " Estranhos clientes estes, que entram pela janela, pelas paredes, pelo teto, trazidos pelas vozes de antigamente, vindos numa página de jornal, ou num simples ruído familiar: *projeção* de mim mesmo, ecos de pensamento, fantasmas que se movem apenas na lembrança, figuras feitas de ar e imaginação." Esse trecho revela que os clientes são projeções da mente dele ,ou seja a alternativa que mais faz sentido é a letra C
  • e cada interpretação que a gente entende né!? pra min era um advogado que começou a trabalhar como padre e de vez em quando recebia umas visitas de entidades kkkkkkkkk