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ID
5517106
Banca
Creative Group
Órgão
Prefeitura de Jequitibá - MG
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I

São Demasiado Pobres os Nossos Ricos


    A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos, mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. 


    A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem. 


    O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efêmeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade. 


    As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos! 


    São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante, mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.


Mia Couto, in 'Pensatempos'


http://www.citador.pt/textos/sao-demasiado-pobres-os-nossosricos-mia-couto..



Em “São como a cerveja tirada à pressão”, ocorreu a crase por se tratar de uma locução adverbial feminina de modo.

Assim como essa, outras locuções adverbiais femininas também recebem crase. Assinale a alternativa em que a crase ocorreu por se tratar de uma locução adverbial feminina.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: A.

    A - Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam... CORRETO: a construção "tenham à porta" é uma locução adverbial feminina de lugar.

    B - Os endinheirados dedicam-se apenas à (a) gastar sem medida. ERRADO: Não se usa crase diante de verbo.

    C - É uma riqueza que faz referência à ausência de sentimentos humanitários. ERRADO: referência a + a ausência = referência à ausência. Não tem locução adverbial.

    D- A população mais carente assiste atônita à derrocada de seus direitos. ERRADO: A preposição "a" exigida pela forma verbal transitiva indireta "assiste", com o artigo definido "a" que determina o substantivo feminino "derrocada"(assiste a + a derrocada = assiste à derroca). Não tem locução adverbial.

    Faça das dificuldades sua motivação!

  • A questão é de acentuação e quer que marquemos a alternativa em que a crase ocorreu por se tratar de uma locução adverbial feminina, assim como ocorreu em “São como a cerveja tirada à pressão”. Vejamos:

     .

    A) Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam...

    Certo. A crase ocorreu por se tratar de uma locução adverbial feminina: à porta.

    • SEMPRE ocorre crase nas locuções de natureza adverbial, formadas com palavra feminina. Ex.: À vontade, à noite, à tarde, às pressas, às vezes, à toa, às claras, às escondidas, à direita, à esquerda, à milanesa (= à moda milanesa)...

     .

    B) Os endinheirados dedicam-se apenas à gastar sem medida.

    Errado. A crase aqui está errada, já que não se usa crase antes de verbo. O certo é "... a gastar".

    • NUNCA ocorre diante de verbos. Ex.: A prova será a partir das 8 horas.

     .

    C) É uma riqueza que faz referência à ausência de sentimentos humanitários.

    Errado. A crase aqui não foi usada por se tratar de locução adverbial. A crase aqui foi usada por se tratar da fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a": referência A (algo) + A ausência = referência À ausência.

     .

    D) A população mais carente assiste atônita à derrocada de seus direitos.

    Errado. A crase aqui não foi usada por se tratar de locução adverbial. A crase aqui foi usada por se tratar da fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a": assistência atônita A (algo) + A derrocada = assistência atônita À derrocada.

     .

    Gabarito: Letra A  

  • letra a um locução feminina

  • Fui pelo pensamento de que o ver: assiste= ajudar.