Intenso e original, Son of Saul retrata horror do holocausto
Centenas de filmes sobre o holocausto já foram produzidos em diversos países do
mundo, mas nenhum é tão intenso como o húngaro Son of Saul, do estreante em
longa-metragens László Nemes, vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de
Cannes.
Ao contrário da grande maioria das produções do gênero, que costuma oferecer uma
variedade de informações didáticas e não raro cruza diferentes pontos de vista sobre o
horror do campo de concentração, o filme acompanha apenas um personagem.
Ele é Saul (Géza Röhrig), um dos encarregados de conduzir as execuções de judeus
como ele que, por um dia e meio, luta obsessivamente para que um menino já morto —
que pode ou não ser seu filho — tenha um enterro digno e não seja simplesmente
incinerado.
O acompanhamento da jornada desse prisioneiro é no sentido mais literal que o
cinema pode proporcionar: a câmera está o tempo todo com o personagem, seja por
sobre seus ombros, seja com um close em primeiro plano ou em sua visão subjetiva. O
que se passa ao seu redor é secundário, muitas vezes desfocado.
Saul percorre diferentes divisões de Auschwitz à procura de um rabino que possa
conduzir o enterro da criança, e por isso pouco se envolve nos planos de fuga que os
companheiros tramam e, quando o faz, geralmente atrapalha. “Você abandonou os vivos
para cuidar de um morto”, acusa um deles.
Ver toda essa via crucis é por vezes duro e exige certa entrega do espectador, mas
certamente é daquelas experiências cinematográficas que permanecem na cabeça por
muito tempo.
O longa já está sendo apontado como o grande favorito ao Oscar de filme
estrangeiro. Se levar a estatueta, certamente não faltará quem diga que a Academia tem
uma preferência por quem aborda a 2ª Guerra. Por mais que exista uma dose de verdade
na afirmação, premiar uma abordagem tão ousada e radical como Son of Saul não
deixaria de ser um passo à frente dos votantes.
Carta Capital, n. 873, 22 out. 2015.
A resenha é, normalmente, um texto de base argumentativa. Na resenha do filme Son of
Saul, o trecho da sequência argumentativa que se constitui como opinião implícita é