SóProvas


ID
5568358
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
FUNPRESP-JUD
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Filosofia em dois desenhos

    Fui caminhar. E na calçada me deparei com um estranho indivíduo. Carregava um saco plástico enorme que, pelo perfil do conteúdo, calculei estivesse cheio de latinhas. Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.
    Parei para ver, atraída pelo ritual que se esboçava. O homem desenhou dois círculos um diante do outro, quase encostados, e dentro deles desenhou duas setas convergentes.
    Levantou-se, olhou sua obra com satisfação, andou cinco ou seis passos e, novamente, se acocorou. Continuava com a pedra de cal na mão.
    Mas o desenho que fez foi diferente. Riscou dois traços, colocados na mesma distância dos dois círculos, e atrás deles desenhou duas setas que apontavam uma para a outra.
    Segui adiante refletindo sobre o que havia presenciado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a Serra da Capivara, que visitei numa ida a Teresina para algum congresso ou palestra. Trouxe de volta a louça que a arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, há muitos anos responsável pelo sítio arqueológico, ensinou os locais a fazerem para terem uma fonte de subsistência. Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana. Pois, como um ser primitivo, o homem havia estampado seus pensamentos e sua visão interior na mais moderna das rochas: o cimento.
    Havia reparado que o homem estava muito sujo e desgrenhado. Calçava havaianas de sola já bem fininha e roupas indefinidas. Provavelmente era mais um morador de rua. E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever. Porque não há dúvida de que, ao desenhar, aquele homem estava escrevendo.
    Estava escrevendo a sua dificuldade para se comunicar. Preso dentro de um círculo, pouco adiantava que as setas apontassem em direção uma da outra. Ele não conseguia obedecer à ordem das setas, pois continuava contido pela linha que delimitava o círculo.
    Coisa idêntica dizia o segundo desenho, agora com um traço, uma parede, um muro, impedindo-o de obedecer ao comando das setas.
    Pode até ser que o homem, através de seus desenhos estivesse desenvolvendo uma teoria filosófica sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Que, se por um lado não conseguem viver sozinhos (significado das setas instando à comunicação), por outro lado não conseguem se entender (significado dos círculos e dos traços impeditivos).
    Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal. Assim como os desenhos do homem, tão íntimos e pessoais, destinavam-se a quem quer que passasse naquela exata calçada de Ipanema.

Adaptado de: https://www.marinacolasanti.com/2021/09/filosofiaem-dois-desenhos.html [Fragmentos]. Acesso em: 18 set. 2021.

Considerando os aspectos linguísticos do texto de apoio e os sentidos por eles expressos, julgue o seguinte item. 


No trecho “E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever.”, os elementos em destaque são utilizados com a mesma função sintática e semântica.

Alternativas
Comentários
  • Gab: E

    O 1º está com sentido de "na qualidade/condição de" morador de rua

    O 2º está com sentido comparativo "como se fosse papel"

    OBS: o "enquanto" pode ser utilizado com sentido de "na qualidade de"

    (CESPE 2021) No trecho “Esse é o custo de desprezar a cultura como instância geradora de mediações de linguagem necessárias” (terceiro parágrafo), o termo “como” poderia ser substituído por enquanto, sem prejuízo dos sentidos originais no texto. (CERTO)

  • Gabarito: errado

    Solicita-se julgamento da assertiva:

    No trecho “E commorador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever.”, os elementos em destaque são utilizados com a mesma função sintática e semântica.

    É pertinente que o aluno, para tornar mais fácil a resolução da questão, consiga identificar a classe morfológica dos termos destacados, posteriormente analisando suas funções sintáticas e semânticas.

    O primeiro termo "como" é preposição acidental equivalente a locução "na condição de", enquanto o segundo termo "como" é conjunção de nexo comparativo.

    Tendo classificado morfologicamente os termos, é forçoso perceber a incorreção da assertiva, vez que conjunções e preposições, elementos coesivos que compõem ou introduzem termos da oração, não possuem função sintática própria.

  • Gab e!

    Primeiro caso o ''como'' é = DEVIDO AO FATO DE SER

    segundo caso o ''como'' é comparativo = DE MESMO MODO QUE

    “E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever.”,

  • são 2 conjunções, portanto não tem Valor Sintático.

  • 1º COMO = já que = Causal

    2º COMO = Comparativo

    GAB E

  • Item ERRADO

    Têm a mesma função sintática (não ter função), mas são semanticamente distintas.

    1º como = no papel de..., na qualidade de...

    2º como = tal qual..., feito...

  • Funções Morfossintáticas da palavra COMO:

    Conjunção

    Assume tal categoria quando introduz uma oração subordinada adverbial, levando-se em conta as respectivas circunstâncias expressas pelo fato verbal. Assim classificadas:

    * Causal – equivale-se a “porque”, “já que”, “uma vez que”.

    Como não tinha interesse, nem olhou a mercadoria.

    * Conformativa – apresenta-se passível de ser substituída por “conforme”, “segundo”.

    Como já imaginávamos, não concluiu o trabalho.

    * Comparativa – pode ser substituída pela expressão “tal qual”, representando o segundo elemento da comparação.

    Dormia como um anjo. (tal qual um anjo)

    FONTE: https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/a-Palavra-Como-Fun%C3%A7%C3%B5es-Morfossint%C3%A1ticas/66094453.html

  • Funções do Como

    Verbo “comer”, conjugado na 1ª pessoa

    Em certas ocasiões, a palavra “como” é a conjugação do verbo “comer”.

    Exemplo: Eu como verduras todos os dias.

    Preposição: tem o significado de “na qualidade de”, “com caráter de”, “na posição de”.

    Exemplos: Como professora, eu tenho o dever de orientar bem os alunos. -Na firma, os funcionários classificaram-no como (sendo) bom chefe.

    Advérbio

    Ao assumir a posição de advérbio interrogativo de modo, o vocábulo “como” sempre aparecerá no início de frases interrogativas diretas.

    Exemplo: Como finalizaremos o artigo?

    A palavra “como” também pode exprimir circunstância de intensidade.

    Exemplo: Como fiquei assustada com a notícia!

    Conjunção

    Neste caso, serve para introduzir as orações subordinadas, sendo classificada de acordo com as seguintes circunstâncias:

    a) Adverbial causal – Assume a mesma função do “por que”, “já que”, “uma vez que”.

    Exemplo: Como estava muito frio, resolvemos não sair de casa.

    b) Adverbial comparativa – É a função mais recorrente, substituível por “tal qual”.

    Exemplo: Ele era talentoso como o pai.

    c) Adverbial conformativa – Pode ser substituído por “conforme”, “segundo”.

    Exemplos: -Como combinamos, nos encontraremos após a aula. -O trabalho foi feito como o professor sugeriu.

    Interjeição

    Expressa um sentimento de espanto.

    Exemplo: Nossa! Como sua atitude foi admirável!

    Pronome relativo

    Neste caso, o vocábulo “como” aparece sempre antecedido de um substantivo, podendo ser substituído pelas expressões relativas “o(a) qual”, “pelo(a) qual” e demais variações. O pronome relativo desempenhará a função sintática de adjunto adverbial de modo.

    Exemplo: Não compreendi o modo como ele se portou.

  • 1º: causal

    2º: comparativo

    Gab: Errado.