SóProvas


ID
5595517
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SC
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O bafo largo do animal revelava-lhe o porte, mas a densidade do escuro escondia tudo. Estavam como dois ruídos inimigos em lugar nenhum. Saberiam nada mais do que o ruído e o odor de cada um. Mediam a mútua coragem e o mútuo medo sem se poderem ver. O artesão pensou. Se o predador estivesse capaz já o teria mordido avidamente. Por isso, talvez se salvasse se lhe evitasse a boca pousada para um ou outro lado. Fez contas. A respiração aflita do companheiro vinha da sua esquerda, precisava claramente de conservar-se à direita, longe de dentes, mais seguro. Julgou que à luz do dia veria o inimigo e alguém o acudiria. Se lhe descessem uma lâmina haveria de a enfiar nas tripas nervosas do bicho e o saberia morto. Poderia descansar na sua provação, que era já coisa bastante para o arreliado do espírito que costumava ter.

            A noite toda se foi medindo no exíguo espaço e prestou atenção àquela aflição contínua. Mas, com o dia, seguiu sem ver. A roda de céu que declinava ao chão transbordava, pelo que quase nada baixava. No fundo tão fundo eram só cegos. Foi quando Itaro distinguiu lucidamente o que lhe ocorria. Estar no fundo do poço era menos estar no fundo do poço e mais estar cego, igual a Matsu, a sua irmã. Estava, por fim, capturado pelo mundo da irmã. A menina habitava o radical puro da natureza.

(MÃE, Valter Hugo. A lenda do poço in Homens imprudentemente poéticos.

São Paulo: Biblioteca Azul, 2016, p. 124-125)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:


I. Há uma conexão entre palavras que expressam a escuridão do fundo do poço e a progressão da evidência que vai se realizando no interior da personagem.

II. Do primeiro para o segundo parágrafo, marca-se a passagem da noite para o dia, ao mesmo tempo que se desenha a borda do poço acima.

III. A personagem Matsu também está dentro do poço junto a seu irmão Itaro, que, em um delírio, a vê como um animal feroz.


Está correto o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • Quanto ao item II, entendi que, ao amanhecer a luz entrava no poço diagonalmente, descendo aos poucos pela parece, mas como o poço era bastante fundo, não fez muita diferença, continuava tudo escuro.

  • Gab. letra E)

    I. Há uma conexão entre palavras que expressam a escuridão do fundo do poço e a progressão da evidência que vai se realizando no interior da personagem

    "mas a densidade do escuro escondia tudo"... "talvez se salvasse se lhe evitasse a boca pousada para um ou outro lado"...

    "precisava claramente de conservar-se à direita, longe de dentes"... "Julgou que à luz do dia veria o inimigo"

    II. Do primeiro para o segundo parágrafo, marca-se a passagem da noite para o dia, ao mesmo tempo que se desenha a borda do poço acima.

    " A noite toda se foi medindo no exíguo espaço (...) Mas, com o dia, seguiu sem ver"

    III. A personagem Matsu também está dentro do poço junto a seu irmão Itaro, que, em um delírio, a vê como um animal feroz.

    Talvez ele estivesse fazendo uma comparação de que estar no fundo do poço é menos pior do que estar no fundo do poço e ainda por cima estar cego, como é o caso da irmã dele. Eu não consegui elementos suficientes para afirmar que a irmã dele estava la no fundo do poço também.

    Se alguém tiver uma interpretação melhor, compartilhe porque nao entendi o último período kkkk

  • Complementando, o narrador não diz em momento algum que a irmã é o animal, inclusive por este ser tratado tendo Bafo, Ruído, e Odor.

    Ele compara estar confinado na escuridão com apenas um animal, com a condição de cegueira da irmã.

  • ta repreendido no nome de Jesus!