SóProvas


ID
5606635
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Suzano - SP
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A arte de ser avó


            Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade.

            Quarenta anos, quarenta e cinco… Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles de que você se recorda.

            E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choros, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

            Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todos os sofrimentos trazidos pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.

            Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague…

(Rachel de Queiroz. O brasileiro perplexo. 1963. Adaptado)

Nesse texto, a autora

Alternativas
Comentários
  • GABA: C

    No último parágrafo do texto a vó interpela a resposta na voz de seu neto relembrando o momento.

     "os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó?"

    OBS:

    a dúvida pode pairar sobre a alternativa B. Mas a autora utilizou-se da 1ª pessoa do singular(EU) para responder a pergunta.

    pertencelemos!

  • Assertiva C

    introduz a voz do neto no trecho “e depois o sorriso malandro e aliviado porque ‘ninguém’ se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó?”. L14:L16

  • entendo que a voz do neto é apenas no trecho "o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó?”." e não antes..

  • Excelente

  • A pergunta não foi claro, como se coloca "apas" na fala da avó também, aí complica VUNESP.

  • Para os que se confundiram em relação à alternativa (C) por esta apresentar aspas na citação do trecho da narradora, isso se dá justamente porque quando vamos fazer uma citação, devemos usá-las. Foi o que ocorreu. O examinador citou o trecho da fala da narradora contido no texto e isso implicou o uso das aspas. O que ele quis dizer é que a fala do menino está dentro desse trecho dito pela narradora e não, necessariamente, ele todo.
  • um texto para quem é pai e mãe interpretou entendeu se emocionou ficou feliz ao mesmo tempo e desesperado kkk por saber que um dia seus filhos crescerão ;,)

  • Que alguém possa comentar as demais.