Para Saviani (1989), a cisão entre trabalho intelectual e trabalho manual tem por base o domínio dos elementos intelectuais, científicos, por um determinado grupo da sociedade, pois se no capitalismo o conhecimento constitui um meio de produção, uma força produtiva, tende a ser propriedade privada dos capitalistas, cabendo aos trabalhadores o conhecimento estritamente necessário para a execução de suas tarefas. Uma estratégia para superação da cisão citada passaria, segundo Saviani (1989), pela adoção do conceito de politecnia, que se baseia no rearranjo dos saberes sobre o trabalho, possibilitando a universalização dos conhecimentos gerais, sem limitá-los a uma única atividade, profissão, ou classe social, sendo os trabalhadores dotados do conhecimento indissolúvel acerca dos aspectos manual e intelectual do trabalho.
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Polivalência significa simplesmente um trabalho mais variado com uma certa abertura quanto à possibilidade de administração do tempo pelo trabalhador e não importa necessariamente mudança qualitativa das tarefas […] É suficiente, para ser um trabalhador polivalente, o recurso aos conhecimentos empíricos disponíveis, permanecendo a ciência como algo que lhe é exterior e estranho.[…] Politecnia representa o domínio da técnica a nível intelectual e a possibilidade de um trabalho flexível com a recomposição das tarefas a nível criativo. Supõe a ultrapassagem de um conhecimento meramente empírico, ao requerer o recurso a formas de pensamento mais abstratas. Vai além de uma formação simplesmente técnica ao pressupor um perfil amplo de trabalhador, consciente, e capaz de atuar criticamente em atividades de caráter criador e de buscar com autonomia os conhecimentos necessários ao seu progressivo aperfeiçoamento.
CHIARIELLO&EID