- ID
- 627643
- Banca
- FCC
- Órgão
- TCE-SE
- Ano
- 2011
- Provas
-
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria de Engenharia
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria de Informática
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria Jurídica
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadorias Técnicas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.
Da política ao espetáculo
A rebeldia voltou. E nos lugares mais inesperados. O
rastilho foi aceso em Túnis, seguiu para o Cairo e depois para
Sanaa, Manama, Damasco − cidades onde ação política não é
um direito. Onde as praças tiveram de ser ocupadas com o risco
de prisão, tortura e morte. Mesmo assim, as manifestações só
ficaram violentas porque as autoridades as atacaram.
A centelha da revolta atravessou o Mediterrâneo e
acendeu outras centenas de milhares de pessoas na Grécia e
na Espanha, países subitamente forçados ao empobrecimento.
Na África, no Levante, no Oriente Médio e na Europa, o que se
quer é liberdade, trabalho e justiça.
Nenhuma mobilização foi tão inesperada quanto a que
explodiu, no mês passado, do outro lado do Atlântico Norte,
numa das cidades mais ricas do mundo: Vancouver, no
Canadá. Sua motivação foi frívola. Por 4 a 0, o time local de
hóquei no gelo perdeu a final do campeonato. Não houve
reivindicação social ou política: chateada, a gente saiu à rua e
botou fogo em carros, quebrou vitrines, invadiu lojas.
Fizeram tudo isso com a leveza da futilidade, posando
para câmeras de celulares, autorregistrando-se em instantâneos
ambivalentes de prazer e agressão. O impulso de se preservarem
em fotos e filmes era tão premente quanto o de destruir.
Alguns intelectuais poderiam explicar assim o fenômeno:
se o espetáculo do jogo não satisfez, o do simulacro da revolta
o compensará; o narcisismo frustrado vira exibicionismo compartilhado.
Em meio ao quebra-quebra, um casal de namorados tentava
fugir quando a moça foi atingida pelo escudo de um policial
e caiu. O namorado deitou-se ao lado e, para acalmá-la, deu-lhe
um beijo.
Um fotógrafo viu apenas dois corpos que pareciam feridos
no chão e, sem perceber direito o que fotografava, captou o
beijo. Pronto: os jovens viraram celebridades. Namorando há
apenas seis meses, o casal cancelou uma viagem à Califórnia
para cumprir uma agenda extensa de entrevistas em Nova York.
A sociedade do espetáculo não pode parar.
(Adaptado da Revista Piauí, n. 58, julho 2001, p. 55)
Considerando-se o contexto, estas duas expressões se aproximam e reforçam reciprocamente uma mesma linha de argumentação, referindo-se ao mesmo fenômeno: