SóProvas


ID
637645
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Congonhas - MG
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É tempo de pós-amor

   Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.

    Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.

  Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.

    A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.

   Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor −, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.

     Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.

   Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.

(Colasanti, Marina, 1937 – Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996) 

E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.” O período contém um exemplo de figura de pensamento classificada como:

Alternativas
Comentários
  • Antítese -         exposição de ideias opostas
     .Prosopopeia ou personificação - atribuir a objetos inanimados ou seres irracionais sentimentos ou ações próprias dos seres humanos. "urticária na alma"
    Perífrase       -  designa qualquer sintagma ou expressão idiomática mais desenvolvida (e mais ou menos óbvia ou direta) que substitui outra.   "O país do futebol acredita em seus filhos." (a expressão país do futebol expressa o termo Brasil).
    Anáfora  - repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos.
    Paranomásia - consiste no emprego de palavras parônimas (com sonoridade semelhante) numa mesma frase, fenômeno que é popularmente conhecido como trocadilho.


    http://pt.wikipedia.org/ 
  • Vamos lá! as únicas alternativas que contém uma figura de PENSAMENTO é a alternativa A e a alternativa B... assim as outras estão descartadas!!!

    dentre essas duas:

    antítese: realça uma ideia pela aproximação de palavras com sentidos opostos.

    prosopopéia: atribui caracteristicas humanas a seres inanimados.

    assim, a frase é:

    E de repente está me dando uma urticária na alma, (urticária - reação vacular cutânea, alma - principio da vida, fantasmas, sentimento, temos aqui uma prosopéia,foi atribuido uma caracteristica humana - urtícária, a um ser inanimado - alma) um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    em nenhum momento na frase aparece palavras opostas!!! pelo contrário a frase inteira traz a ideia de coisas ruins, urticária, desconforto, indigestão!

    acho que é isso!!



    bons estudos e sucesso!!!!
  • só complementando...

    perífrase: figuras de palavras
    anáfora e paranomásia: figuras de construção

    que nossa colega explicou muito bem!!!
  • Liz,

    O que seria figura de palavra?
    voce escreveu: "perífrase: figura de palavra".

    Segundo Agnaldo Martino, a ESTILÍSTICA é o estudo das figuras de linguagem e vícios de linguagem. As figuras de linguagem se dividem em 3 grupos: figuras de som, figuras de construção ou sintaxe e figuras de pensamento.

    O autor mencionado, acima, afirma que a PERÍFRASE é uma espécie de ANATOMÁSIA, ambas caracterizadas como figuras de pensamento.

    Seria interessante essa discussão construtiva.
  • Mas a Liz explicou corretamente.

    Perifrase = Figuras de Palavras.

    Figuras de Linguagem são divididas em:



    Figuras de Som:

    Aliteração, Assonância, Onomatopéia

    Figuras de Construção ou de Sintaxe:

    Elipse, Zeugma, Polissíndeto, Inversão, Silepse (de gênero, de número e de pessoa), anacoluto, pleonasmo, anáfora.

    Figuras de Pensamento:

    Antitese, ironia, eufenismo, hipérbole, prosopopeia ou personificação, gradação ou clímax, apóstrofe.

    Figuras de Palavras:

    Metáfora, metonímia ou sinédoque, catacrese, antonomásia ou perífrase, sinestesia.

    Ou seja, é divido em 4 e não 3 como você explicou.

    Eu acho que o seu livro está explicando errado ou você interpretou a amiga acima de forma errada.

    Trocando figuras de palavas por figuras de línguagem.

  • Gabarito: B (por falta de alternativa melhor)

    Ah, então quer dizer que "urticária na alma" é uma prosopopeia? Interessante... só que, como bem explicaram os comentários anteriores, prosopopeia é atribuição de sentimentos ou ações humanos a seres inanimados. O engraçado é que a "alma" e "inanimado" vêm do mesmo termo em latim, anima (sopro, alento). Isso é só pra mostrar que ALMA não pode ser considerada uma coisa INANIMADA! Seria o equivalente lógico de uma água "não-molhada".  Mas esperem!!! Ainda tem mais: a alma não está sequer "personificada" como seria requerido pela nossa definição! A AUTORA está SENTINDO uma "urticária na alma".. da mesma forma que poderia sentir uma "urticária no pé", sem cogitarmos em prosopopeia alguma. Agora, se ela dissesse "meu pé tem reclamado bastante de urticária", aí sim, prosopopeia bem caracterizada. Pra piorar a situação, no uso corrente, "alma" é equivalente à consciência, à própria essência da pessoa, portanto "urticária na alma" equivale simplesmente a "urticária mental/sentimental". Como não se trata de urticária em sentido literal (que ocorre na pele), trata-se de uma metáfora
    Ainda na mesma expressão "urticária na alma", poderíamos, talvez, identificar uma sinestesia. Urticária tem a ver com o sentido do tato e alma com o "sentido" da emoção.
    Poderíamos ainda identificar uma comparação (embora alguns autores não reconheçam essa figura) na expressão "desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão"
    Enfim, eram várias as opções que o examinador poderia ter utilizado. Infelizmente, ele acabou escolhendo a menos evidente e mais forçada para o caso em tela, justamente a prosopopeia. Alargando bastante as definições, tudo é possível! Como, dentre as alternativas propostas, a letra b) é a única que se encaixa (ainda que "na marra"), acho que não caberia recurso. 
    Veja como divulgar a Campanha Nota Justa)
  • Consuplan é zoeira total! puts

  • FALA SÉRIO MEU IRMÃO, NADA A VER .  :(

  • Prosopopeia (ou personifcação): consiste em atribuir características humanas a seres inanimados (inclui os animais).
    – Baleia, a cachorrinha, sonhava em uma vida melhor para sua família.

    urticária e alma não tem nenhum ser inanimado. kkk

    gab não tem nada a ver. QUESTÃO DEVERIA TER SIDO ANULADA. 


     

  • Gabarito: b)

     

    Figuras de linguagem são certos recursos não-convencionais que o falante ou escritor cria para dar maior expressividade à sua mensagem.

     

    Antítese
    Consiste no uso de palavras de sentidos opostos.
    Nada com Deus é tudo.
    Tudo sem Deus é nada.

     

    Prosopopeia
    É uma figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados. Também podemos chamá-la de PERSONIFICAÇÃO.
    O céu está mostrando sua face mais bela.
    O cão mostrou grande sisudez.

     

    Perífrase
    É a designação de um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.
    A Veneza Brasileira também é palco de grandes espetáculos.
    (Veneza Brasileira = Recife)
    A Cidade Maravilhosa está tomada pela violência.

    (CidadeMaravilhosa = Rio de Janeiro)

     

    Anáfora
    Consiste na repetição de uma palavra ou expressão para reforçar o sentido, contribuindo para uma maior expressividade.
    Cada alma é uma escada para Deus,
    Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
    Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
    Para Deus e em Deus com um sussurro noturno. (Fernando Pessoa)

     

    Paranomásia

    Consiste no emprego de palavras parecidas, numa mesma sentença, gerando uma espécie de trocadilho.

    “O homem fardado tentava a todo custo explicar à mulher que ela estava infringindo a lei. Como não lhe dera ouvidos, levou-a ao xadrez, infligindo-a as mais duras provações, desde engraxar suas botas até lavar os banheiros dos detentos.”

    Infringir= desrespeitar, cometer infração.

    Infligir= submeter, aplicar castigo.

  • FIGURAS DE PENSAMENTO

    ANTÍTESE, PARADOXO, EUFENISMO, IRONIA HIPÉRBOLE, GRADAÇÃO, PROSOPOPEIA.

     

     a) Antítese.

    É O CONTRASTE ENTRE DUAS PALAVRAS (ANTÔNIMAS), EXPRESSÕES OU PENSAMENTOS, PROVOCANDO UMA RELAÇÃO DE OPOSIÇÃO.

     

    ex: METADE DE MIM TE ADORA, A OUTRA METADE TE ODEIA.

     

     b) Prosopopeia.

    CARACTERÍSTICAS HUMANAS A SERES NÃO HUMANOS.

     

    ex: A AMAZÔNIA CHORA DEVIDO AO DESMATAMENTO.

     

    .

     

  • Explicação retirada do livro "Gramática Crítica: o culto e o coloquial no português brasileiro" (p. 259):

    PARANOMÁSIA é figura de harmonia (explora, sobretudo, os efeitos provocados pelas combinações fônicas dos vocábulo) que consiste no emprego, ao final ou no interior dos versos, de vocábulos parônimos, ou seja, termos com grafia e pronúncia bem semelhantes e significados distintos:

    Por todo o dia
    um certo verde
    um INSETO VERDE
    o INCERTO VER-TE (Ramos Filho)

  • O que é Prosopopeia:

     

    Prosopopeia (ou personificação) significa atribuir a seres inanimados (sem vida) características de seres animados ou atribuir características humanas a seres irracionais.

     

    Prosopopeia é uma figura de linguagem usada para tornar mais dramática a comunicação.

     

    Exemplos:

     

    Árvores pedem socorro.

     

    O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

     

    A raposa disse algo que convenceu o corvo.

     

    As árvores são imbecis: se despem justamente quando começa o inverno

     

  • Para a Consulplan, Alma é um ser irracional como ela própria.