SóProvas


ID
637663
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Congonhas - MG
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É tempo de pós-amor

   Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.

    Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.

  Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.

    A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.

   Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor −, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.

     Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.

   Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.

(Colasanti, Marina, 1937 – Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996) 

A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo processo de derivação é:

Alternativas
Comentários
  • Na Língua Portuguesa, além dos processos de formação de palavras pelo acréscimo de prefixos e sufixos, existem outras formas de derivação. 

    Derivação parassintética 

    Ocorre quando se acrescenta ao mesmo tempo, um prefixo e um sufixo à palavra primitiva. É a simultaneidade da afixação que constitui a parassíntese. 
    Assim, na palavra infelizmente não ocorre parassíntese, pois o prefixo in- e o sufixo –mente são acrescentados ao radical em momentos diferentes. Já na palavra enraivecer ocorre parassíntese, pois o fato de não existirem os termosenraiva ou raivecer indica que a junção dos afixos ocorreu simultaneamente. 

    Derivação regressiva 

    Ocorre a derivação regressiva quando se reduz a palavra primitiva. É esse processo que produz os substantivos deverbais, que são substantivos derivados a partir de verbos, pela eliminação da desinência verbal e acréscimo das vogais temáticas nominais –a-o ou –e ao radical verbal. 
    É o que ocorre nas palavras: abalo (de abalar), troca (de trocar), busca (de buscar), choro (de chorar), combate (de combater). 

    Derivação imprópria 

    Ocorre quando a palavra primitiva muda de classe gramatical, não sofrendo alteração em sua estrutura. 
    Ex: Não admito um não vindo de você! (advérbio torna-se substantivo) 
    movimentar de suas mãos denunciava-o. (verbo torna-se substantivo)

    Gabarito correto letra B conforme o caso de derivação regressiva: emparelhado (de emparelhar) e debate (de debater).
    :)
  • a) televisão = hibridismo ; filme = derivação regressiva

    b) emparelhado = derivação regressiva ; debate = derivação regressiva

    c) reinventado = derivação regressiva ; biografia = hibridismo

    d) naturalidade = derivação sufixal  ; ouro = palavra primitiva

    e) verdade = palavra primitiva  ; pós-amor = derivação prefixal

  • Emparelhado = Derivação parassintética - pois a palavra era PARELHO e foi acrescido prefixos e sufixos;

    Debate = Derivação regressiva - pois a palavra DEBATER (verbo) foi transformada no substantivo debate (substantivo de ação), ou seja, a palavra diminuiu.

  • Gabarito correto letra B ;Conforme o caso de derivação regressiva: emparelhado (de emparelhar) e debate (de debater).

  • Porque a letra C está errada?

    C) Re+inventar e bio+grafia

  • b) Emparelhado: vem de emparelhar, Derivação sufixal.

    debate: vem de debater , derivação regressiva.

  • Devorador, Biografia é composição por  justaposição, não é?

     

  • está errado a C pois bio+grafia é Hibridismo
  • GABARITO B

    o que eu acho. não tenho certeza...

    a) televisão = hibridismo (Tele- grego + visao - Latim)

    filme = Estrangeirismo (FILM) Inglês

    b) emparelhado = derivação PARASSINTÉTICA - (parelho)

     debate = derivação regressiva (Debater)

    c) reinventado = derivação PREFIXAL e sufixal  (Re- invent- a- do )

    biografia = Estrangeirismo (2 RADICAIS GREGOS = BIO+GRAFIA)

    d) naturalidade = derivação sufixal  ;  natural-i -dade

    ouro = palavra primitiva

    e) verdade = palavra primitiva  ;

    pós-amor = derivaçao prefixal.