SóProvas


ID
641728
Banca
FCC
Órgão
TCE-PR
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Perspectiva de Montesquieu


      O grande pensador francês Montesquieu (1689-1755) é um dos mais importantes intelectuais na história das ciências jurídicas. A grande originalidade de sua obra maior − O espírito das leis − consiste na revolução metodológica. O método de Montesquieu comporta dois aspectos inter-relacionados, que podem ser distinguidos com clareza. O primeiro exclui da ciência social toda perspectiva religiosa ou moral; o segundo afasta o autor das teorias abstratas e dedutivas e o dirige para a abordagem descritiva e comparativa dos fatos sociais.
        Quanto ao primeiro, constituía um solapamento do finalismo teológico e moral que ainda predominava na época, segundo o qual todo o desenvolvimento histórico do homem estaria subordinado ao cumprimento de desígnios divinos. Montesquieu, ao contrário, reduz as instituições a causas puramente humanas. Segundo ele, introduzir princípios teológicos no domínio da história, como fatores explicativos, é confundir duas ordens distintas de pensamento. Deliberadamente, dispõe-se a permanecer nos estritos domínios dos fenômenos políticos, e jamais abandona tal projeto.
      Já nas primeiras páginas do Espírito das leis ele adverte o leitor contra um possível mal-entendido no que diz respeito à palavra “virtude", que emprega amiúde com significado exclusivamente político, e não moral. Para Montesquieu, o correto conhecimento dos fatos humanos só pode ser realizado cientificamente na medida em que eles sejam visados como são e não como deveriam ser. Enquanto não forem abordados como independentes de fins religiosos e morais, jamais poderão ser compreendidos. As ciências humanas deveriam libertar-se da visão finalista, como já haviam feito as ciências naturais, que só progrediram realmente quando se desvencilharam do jugo teológico.
      Para o debate moderno das relações que se devem ou não travar entre os âmbitos do direito, da ciência e da religião, Montesquieu continua sendo um provocador de alto nível.

                                                            (Adaptado de Montesquieu − Os Pensadores. S. Paulo: Abril, 1973) 

Está inteiramente clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • a) Montesquieu valeu-se, em O espírito das leis, do conceito político de “virtude”, escoimando essa pala- vra de qualquer ressonância de ordem moral ou religiosa.CORRETA!
    Escoimar = 
    (es+coima+ar) vtd e vpr 1 Livrar(-se) ou perdoar(-se) de coima. vtd 2 Livrar de censura ou defeito: Escoimar uma obra literária. vtd 3 Livrar de impureza; limpar. vtd 4 Fiscalizar, prevenir, para evitar ensejo à coima. 

    Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=escoima

    b) Para que não se confundissem os leitores, Montesquieu advertiu-os que a palavra “virtude” ali empregada não detinha terminologia religiosaconquanto apenas política. 
    Conquanto - conjunção que exprime concessão.  Equivale a ainda que, embora, não obstante, posto que.

    c) Era mister de Montesquieu desconsiderar o desígnio divino, razão pela qual fixou no termo “virtude” o censo de sentido político que a palavra deveria transpirar.

    d) Em 
    O espírito das leis, se propunha Montesquieu a tratar das instituições de fato humanas, tendo por isso empregado a palavra “virtude” em sentido material, e não teológico. 

    e) Ao conceito moral de “virtude” opôs-se Montesquieu, preterindo-o, uma vez que lhe o preferia no sentido político, tendo para isso alertado seus leitores em O espírito das leis.
  • Com relação à alternativa "B":

    PARA QUE NÃO SE CONFUNDISSEM OS LEITORES, MOSTESQUIEU ADVERTI-OS QUE A PALAVRA VIRTUDE, ALI EMPREGADA, NÃO TINHA TERMINOLOGIA RELIGIOSA, APENAS POLÍTICA.

    Bons estudos!
  • Pessoal, os comentários acima merecem apenas um complemento:

    Atentem para a pegadinha da letra B:

    Os verbos avisar, advertir, certificar, cientificar, comunicar, informar, lembrar, noticiar, notificar e prevenir têm duas regências possíveis:

  • Quem adverte, adverte algo a alguém.
     
  • Quem adverte, adverte alguém de algo.

    EXEMPLIFICANDO COM O VERBO INFORMAR (presente na lista acima):
  • Tanto se pode dizer "O técnico informou a escalação do time aos jornalistas" como "O técnico informou os jornalistas da escalação do time".

    O problema maior desses verbos ocorre quando se usa pronome oblíquo como complemento no lugar da pessoa, pois, quando usar "quem informa, informa algo a alguém", a pessoa será substituída pelos pronomes "lhe" e "lhes"; quando usar "quem informa, informa alguém de algo", a pessoa será substituída pelos pronomes "o", "a", "os" e "as". Então teremos o seguinte:
     
  • O técnico informou a escalação do time aos jornalistas = O técnico informou-lhes a escalação do time.
     
  • O técnico informou os jornalistas da escalação do time = O técnico informou-os da escalção do time.

    A frase apresentada na questão, então, deve ser assim reescrita:

    Montesquieu advertiu-os de que a palavra “virtude” ali empregada(...) Ou

    Montesquieu advertiu-lhes (os leitores) que a palavra virtude ali empregada(...)
  • Pessoal, os comentários acima merecem apenas um complemento:

    Atentem para a pegadinha da letra B:

    Os verbos avisar, advertir, certificar, cientificar, comunicar, informar, lembrar, noticiar, notificar e prevenir têm duas regências possíveis:

  • Quem adverte, adverte algo a alguém.
     
  • Quem adverte, adverte alguém de algo.

    EXEMPLIFICANDO COM O VERBO INFORMAR (presente na lista acima):
  • Tanto se pode dizer "O técnico informou a escalação do time aos jornalistas" como "O técnico informou os jornalistas da escalação do time".

    O problema maior desses verbos ocorre quando se usa pronome oblíquo como complemento no lugar da pessoa, pois, quando usar "quem informa, informa algo a alguém", a pessoa será substituída pelos pronomes "lhe" e "lhes"; quando usar "quem informa, informa alguém de algo", a pessoa será substituída pelos pronomes "o", "a", "os" e "as". Então teremos o seguinte:
     
  • O técnico informou a escalação do time aos jornalistas = O técnico informou-lhes a escalação do time.
     
  • O técnico informou os jornalistas da escalação do time = O técnico informou-os da escalção do time.

    A frase apresentada na questão, então, deve ser assim reescrita:

    Montesquieu advertiu-os de que a palavra “virtude” ali empregada(...) Ou

    Montesquieu advertiu-lhes (os leitores) que a palavra virtude ali empregada(...) 
  • Na letra C ...o CENSO de sentido político também estaria incorreto.

    O correto não seria SENSO?!
  • GABARITO: A

    Veja os comentários:
    (B) Para que não se confundissem os leitores, Montesquieu advertiu-os que a palavra “virtude” ali empregada não detinha terminologia religiosa, conquanto apenas política.
    A conjunção conquanto está mal usada, pois só se usa se iniciar oração com verbo no subjuntivo. O certo seria uma conjunção coordenativa adversativa, afinal tal conjunção liga termos ou orações coordenados, ficando assim: “... não detinha terminologia religiosa, mas apenas política.”

    (C) Era mister de Montesquieu desconsiderar o desígnio divino, razão pela qual fixou no termo “virtude” o censo de sentido político que a palavra deveria transpirar.
    O adjetivo ‘mister’ não exige preposição DE, portanto a escrita do início do texto está equivocada. Além disso, as palavras censo e transpirar não cabem neste contexto, mas sim senso (dispensando ‘de sentido’ para não ficar redundante) e inspirar, que significam, respectivamente, sentido e infundir/instilar/estimular.

    (D) Em O espírito das leis, propunha Montesquieu a tratar das instituições de fato humanas, tendo por isso empregado a palavra “virtude” em sentido material, e não teológico.
    A preposição ‘a’, após Montesquieu, não é exigida por nenhum termo, portanto é desnecessária ao contexto!

    (E) Ao conceito moral de “virtude” opôs-se Montesquieu, preterindo-o uma vez que lhe preferia no sentido político, tendo para isso alertado seus leitores em O espírito das leis.
    Falta uma vírgula após ‘preterindo-o’, por se tratar de oração intercalada. O uso do lhe não cabe como complemento do verbo preferir, mas sim o pronome átono ‘o’, complemento do verbo preterir também.