SóProvas


ID
662488
Banca
INEP
Órgão
ENEM
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e [
sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima

Alternativas
Comentários
  • Para responder a questão, é necessário interpretar o poema. O poeta estabelece uma relação entre o “eu-lírico” e a cidade de Itabira, cidade natal. Assim como nas calçadas, cobertas de ferro, a alma dos moradores também e constituída de ferro, assim como a dele. ele saiu da cidade, mas ainda mantém algumas “heranças” da cidade, como a vontade de amar e o hábito de sofrer. No decorrer do texto, percebemos uma relação contraditória entre o poeta e a cidade, de maneira que ao mesmo tempo em que ele sente orgulho por ser da cidade, também sofre por tê-la como parte da sua história. Ao analisar as alternativas, a que responde a questão é a letra C. A letra A está incorreta porque não há tom contestatório no poema, assim como não representa a fase heroica do modernismo. A letra B está errada porque a característica do lírico é a subjetividade, e não a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. A letra D está incorreta porque não há tom crítico empregado no poema. E a letra E está incorreta porque não há influências românticas e nem recursos retóricos pomposos. 
  • gabarito:

    c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.

     

    comentário da professora:

    Para responder a questão, é necessário interpretar o poema. O poeta estabelece uma relação entre o “eu-lírico” e a cidade de Itabira, cidade natal. Assim como nas calçadas, cobertas de ferro, a alma dos moradores também e constituída de ferro, assim como a dele. ele saiu da cidade, mas ainda mantém algumas “heranças” da cidade, como a vontade de amar e o hábito de sofrer. No decorrer do texto, percebemos uma relação contraditória entre o poeta e a cidade, de maneira que ao mesmo tempo em que ele sente orgulho por ser da cidade, também sofre por tê-la como parte da sua história. Ao analisar as alternativas, a que responde a questão é a letra C. A letra A está incorreta porque não há tom contestatório no poema, assim como não representa a fase heroica do modernismo. A letra B está errada porque a característica do lírico é a subjetividade, e não a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. A letra D está incorreta porque não há tom crítico empregado no poema. E a letra E está incorreta porque não há influências românticas e nem recursos retóricos pomposos. 

  • Se a pessoa se atentar ao comando da questão, da para responder ela sem ler o texto. Observe essas frases: "trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos", "Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular". Sendo que a alternativa C reafirma isso mas com outras palavras

  • desanima mesmo. Sacanagem. A "B" está muito mais condizente com o enunciado.