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ID
757198
Banca
FUMARC
Órgão
TJ-MG
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                               LEITURA E APRENDIZADO.

*Nilce Rezende Fernandes

1 Um expressivo número de adolescentes, incluindo os alunos de tradicionais colégios da rede particular, apresenta dificuldade de compreensão de texto, o que é detectado pelas respostas vagas, inconsistentes, sem coerência, coesão e com graves erros de ortografia. Esses fatos se devem, na maioria das vezes, à falta de hábito aliado ao prazer da leitura.

2 Há algumas décadas, a maioria dos jovens na faixa dos 14 aos 17 anos, devorava os clássicos da literatura brasileira e até estrangeira, mesmo antes da tão propagada globalização. Havia uma intimidade entre leitores e autores como Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Érico Veríssimo, Rubem Braga, Carlos Drumonnd de Andrade, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, entre tantos outros. As obras eram motivo de discussão entre os amigos, que até simulavam um julgamento para condenar ou inocentar Capitu, personagem da obra-prima Dom Casmurro, de Machado de Assis.

3 Dostoiévski, George Orwell, Hemingway, Tolstoi, Proust, Gabriel Garcia Márquez, entre vários também faziam parte das leituras juvenis. Ler bastante era considerado tão natural quanto dominar a tecnologia nos dias atuais. Foi dessa forma que os adolescentes aprenderam a interpretar textos, argumentar, expressando-se com clareza e no português padrão exigido. O antigo Colégio Estadual Central, famoso pelo corpo docente, era o mais disputado para essa turma amante dos livros, que após o ensino médio, ingressava na UFMG com sucesso.

4 É lamentável que atualmente alunos do curso médio e superior escrevendo “xampu” com sh e “quis” com z, influenciados pelas palavras inglesas “shampoo” “quiz”, mesmo sendo o significado da segunda completamente diferente. O x dá lugar ao ch em “xícara”, “mexer” e “vexame”; o inverso ocorre em “chuchu”, “enchimento” e “pichação”. Devido à semelhança do som, o j de “gorjeta” é trocado pelo g, assim como o s por z em “paralisar”, “alisar” e “puser”.

5 A língua portuguesa é complexa e as regras com uma série de exceções não contemplam cada termo, por isso a leitura é uma importante ferramenta de aprendizagem. Seria injusto jogar a culpa no novo acordo ortográfico, uma vez que as palavras citadas não sofreram nenhuma alteração em função dele.

6 O Estado de Minas publicou (Opinião, 23/02/2012) o artigo “Quando a tecnologia provoca involução”, assinado por Carlos Eduardo Guilherme, afirmando que tamanhos avanços tecnológicos provocam o distanciamento dos jovens em vez de aproximá-los e proporcionam dificuldades de se relacionar em grupo. Fala que “o consumismo excessivo, o uso exagerado do computador, dos jogos eletrônicos, da TV e a superproteção dos pais têm criado situações de isolamento”. Em outro trecho diz que “nos colégios e clubes, mesmo após meses de convívio, eles têm dificuldade de se aproximar dos colegas. São, na grande maioria, garotos individualistas e egocêntricos, vivem em mundos separados da realidade”.

7 Infelizmente, a tecnologia e tudo mais apontado pelo professor podem também ser responsáveis pelos resultados caóticos na língua portuguesa por um grande número de alunos. Passando horas diante de uma tela nas redes sociais, cultivando amizades virtuais ou com jogos intermináveis, são incapazes de descobrir a viagem mágica no mergulho da boa leitura, assim como da convivência saudável pela prática de esporte.
8 Como formar cidadãos críticos, que cumpram seus deveres e lutem por seus direitos se o primeiro passo a ser dado para isso é compreender um texto? Somente há a possibilidade de tomar uma atitude contra ou a favor de determinado tema em pauta tendo acesso a informações precisas. A tecnologia deveria ser uma parceira em vez de contribuir para a alienação dos jovens. Como ensinar redação a estudantes sem argumentos para defender seu ponto de vista? É imprescindível enfatizar a necessidade da leitura para redigir com clareza, no português padrão, usando um vocabulário rico e adequado, de forma coerente, concisa e sem repetição de ideias.

9 O contato dos bebês com os livros emborrachados durante o banho, evoluindo para os contos de fadas contados pelos pais antes de os filhotes pegarem no sono e depois os propícios a cada faixa etária, contribui para que na adolescência já se tenha solidificado amor e intimidade com o romance, conto, crônica ou poema. Aí, certamente, haverá prazer de ler Machado de Assis, Ignácio de Loyola Brandão, Marina Colasanti, Adélia Prado, Nélida Piñon e muitos outros. Sem restrição alguma da substituição do livro impresso pela leitura digital. Afinal, por mais que os contumazes leitores valorizem o papel, na era da tecnologia é fundamental uma flexibilização para incentivar o ato de ler da garotada. Se, pelo contrário, optar-se por uma imposição, provavelmente, o tiro sairá pela culatra, e assim muitos jovens vão preferir ignorar a leitura.

(Jornal Estado de Minas, 13 de Março de 2012. Caderno Opinião. * Professora e escritora).

Em: “...sem repetição de ideias”, signifca, na produção de um texto escrito:

Alternativas
Comentários
  • Precisei errar a questão para compreendê-la:

    A questão pergunta o que significa "...sem repetição de ideias” NA PRODUÇÃO DE UM TEXTO.

    -> A repetição de idéias significa redundância na informação textual, falta de precisão nas escolhas vocabulares e  acúmulo nas informações, cujas ideias se tornam aglomeradas...

    Escrever SEM REPETIÇÃO DE IDEIAS significa ESCREVER COM COMPETÊNCIA, COM QUALIDADE...

    a) competência nos elementos coesos e coerentes.
  • Questão no mínimo capciosa. Na minha primeira análise, de fato a questão aponta para a letra B. Todavia, a banca pegou uma parte de texto para fazer uma pergunta não relacionada a ele. Nessa questão, não precisaria nem ler o texto. Meu pensamento inicial foi responder dentro no contexto do texto. O que não é o caso.

    Esse foi meu entendimento.

    At,

    @SagaFederal
  • Já li uma penca de livros da Prof.ª Ingedore Koch sobre coerência e coesão. Também passei pelo pequeno livro da Prof.ª Leonor Lopes Fávero sobre o tema, Coesão e coerência textuais, no primeiro semestre da graduação de Letras. Apresentei até seminário. "Elemento coerente (sic)" é invenção do elaborador! Não faz o mínimo sentido em linguística textual. Existem sim "elementos coesivos".

    Fica a dica: para Koch, com razão, a coesão é apenas a manifestação na superfície do texto da coerência. Um texto só é coeso porque é coerente. Se não for coerente, mas coeso, é invenção de professor para ensinar coesão e coerência; aliás, se o leitor souber disso, o texto será coerente, uma vez que sua coerência é fingir que é incoerente.

    (Caras, vou fazer prova dessa banca e estou começando a ficar com medo dessas questões de português. São sempre assim "estranhas"?)
  • " É imprescindível enfatizar a necessidade da leitura para redigir com clareza, no português padrão, usando um vocabulário rico e adequado, de forma coerente, concisa e sem repetição de ideias."

  • a banca pegou uma parte de texto para fazer uma pergunta não relacionada a ele....

    afff

  • Só depois de errar a questão que fui me atentar. Aliás, essa é uma marca dessa banca, questões com nível de firula tão grande que chega a dar raiva.

    A questão pergunta: Em: “...sem repetição de ideias”, significa, na produção de um texto escrito:

    Ou seja, pergunta o que o termo entre aspas significa. Repetição de ideias, significa redundância. SEM repetição de ideias significa AUSÊNCIA de redundância. Por isso a letra B está errada.

    A resposta da questão poderia ser a letra B se na opção estivesse escrito - AUSÊNCIA de redundância na informação textual.

    A letra A realmente traz a afirmação de que um texto SEM REPETIÇÃO DE IDEIAS é um texto em que o autor tem competência nos elementos coesos e corentes, na produção de um texto escrito.

    Eu só espero ter, no dia da prova mesmo, uma clarividência dessas pegadinhas da FUMARC.