SóProvas


ID
800287
Banca
UNICENTRO
Órgão
UNICENTRO
Ano
2011
Provas
Disciplina
Sociologia
Assuntos

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. [...] Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida, operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.

Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se- lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias. (CUNHA, 2001, p. 207-208).

Sobre a obra da qual foi extraído o fragmento em evidência, muito conhecida pela análise histórica que faz sobre a Guerra de Canudos (1987), mas que realiza um grande exame sobre a terra e o homem do Nordeste, através de uma ótica permeada pelo positivismo, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: Letra E

    "Construiu um perfil psicológico do brasileiro baseado na força dos sertanejos".

    De fato, o texto constrói um perfil psicológico do brasileiro ( principalmente do nordestino), com base na força (física e psíquica dos nordestinos/sertanejos).

    O que pode ser extraído dos seguintes trechos:


    O sertanejo é, antes de tudo, um forte...

     Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral...

    Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude...

    Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se...

    novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se- lhe, alta...


    sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte....

     e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente....

    surpreendente ... força e agilidade extraordinárias...





  • O trecho citado acima faz parte do livro “Os Sertões”, escrito por Euclides da Cunha, e publicado em 1902. Embora seja uma obra literária, o livro também pode ser compreendido como um marco para o desenvolvimento da Sociologia no Brasil, já que o autor atenta para o processo de formação do povo brasileiro, fazendo um perfil dos tipos humanos – como é possível ver no trecho citado, em que ele menciona o sertanejo – e as condições de existência no país. Nesse sentido, é possível afirmar que ele antecedeu a geração de ensaístas brasileiros da década de 1930, em que se destacaram Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros, cuja preocupação central também era analisar o processo de formação do Brasil. Todavia, diferentemente de um autor como Sérgio Buarque, a relação entre o público e o privado, como uma característica central para compreender esse processo, não havia sido enfatizada por Euclides da Cunha. Desse modo, a opção “a” está incorreta. O trecho citado também não tem relação com o livro “Raízes do Brasil”, na medida em que Sérgio Buarque não faz referência aos tipos humanos encontrados no país e suas características físicas e psicológicas. Logo, a opção “b” está incorreta. A opção “c” também está incorreta, visto que o autor de “Os sertões” não analisou uma unidade nacional, e sim as disparidades entre um Brasil litorâneo e cosmopolita e o interior do país, com tipos como o sertanejo. A opção “d” também está incorreta, pois a ideia de miscigenação não tinha uma centralidade na obra de Euclides da Cunha, e sim na de Gilberto Freyre, especialmente, no livro “Casa grande e senzala”.


    A opção correta, portanto, é a “e”, que atenta justamente para a construção de um perfil psicológico do sertanejo, um dos destaques do livro “Os sertões”.