-
A chamada escola dos Annales é um movimento historiográfico que se constitui em torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et sociale, tendo se destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História; há que referir que o seu nascimento é também um reflexo da conjuntura: estávamos em 1929, ano da Grande Crise económica que assolou os Estados Unidos, bem como a Europa: Alemanha e França, em maior escala: os Annales visam ser como um retrato do espectro de '29, uma época de mutações, que iria ser como que a catapulta essencial para um novo tipo de história, a económica, a social.
Fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão positivista da história como crônica de acontecimentos (histoire événementielle), substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos processos de longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as "mentalidades".
A escola de Annales renovou e ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo da História para o estudo de atividades humanas até então pouco investigadas, rompendo com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.[1]
-
Os historiadores tradicionais concentram-se nos feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos. Escrevem a história a partir de documentos e buscam descrever como realmente os fatos aconteceram. Nessa abordagem, os historiadores também não se preocupam com a relação que há entre o individual e o coletivo.
Em oposição à história rankeana surge, no século XX, a iniciativa dos Annales. O discurso da primeira geração dos Annales, que tem em Lucien Febvre e em Marc Bloch seus pais fundadores, e na revista Annales d´histoire économique et sociale seu instrumento de ação, apoia-se nos seguintes pressupostos:
(a) a oposição à história positivista dominante;
(b) a hostilidade ao discurso e à análise políticas;
(c) a crença no declínio e ineficácia das ideologias e rejeição ao capitalismo e aos regimes totalitários de direita e esquerda;
(d) a valorização do presente no qual emergem as questões do historiador;
(e) a abertura a outros temas, como a natureza, a população, os costumes;
(f) a ampliação de fontes;
(g) a ampliação de métodos, que passam a incluir conceitos e procedimentos da Estatística, da Demografia, da Lingüística, da Psicologia, da Numismática, da Arqueologia, etc;
(h) a tentativa de conciliar os antagonismos e superar a germanofobia da geração precedente;
(i) a substituição da história factual pela longa duração;
(j) a intervenção ativa, por parte do historiador, diante de documentos e arquivos, já que constrói seu material e deve confrontar suas hipóteses com os documentos coletados
-
As alianças que os historiadores dos Annales travaram com outras áreas do conhecimento lhes propiciaram a apropriação de categorias e abordagens originais recolhidas fora do seu campo de atuação. Da Linguística, Antoine Meillet traz o noção de utensilagem mental; da Psicologia toma-se para a História o estudo da sensibilidade e da vida afetiva; da Sociologia retoma-se o conceito durkheimiano de fato social; da Geografia colhe-se o percurso geográfico que passa a integrar o horizonte histórico.
A Nova História associada à École des Annales é, sobretudo, uma reação deliberada à história tradicional, partindo do princípio que “tudo tem um passado e que este pode ser reconstituído e relacionado ao restante”(BURKE, 1992, p.11). Os historiadores passaram a interessar-se por toda atividade humana e a preocupar-se mais com a análise das estruturas, tal como no estudo de Fernand Braudel, Le Mediterranean (1949), onde o que realmente importava eram as mudanças econômicas e sociais de longo prazo e mudanças geo-políticas de muito longo prazo.
Na Nova História, o homem comum e a cultura popular passam a ser objetos de estudo. Os investigadores despregam-se dos documentos oficiais e passam a examinar outros vestígios, reconhecendo que o homem percebe o mundo através de uma “estrutura de convenções, esquemas e estereótipos, um entrelaçamento que varia de uma cultura para outra”(BURKE, 1992, p.15) e que cria diversos pontos de vista sobre uma mesma situação.