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ID
83767
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Instituto Rio Branco
Ano
2004
Provas
Disciplina
História
Assuntos

Há algo que não se pode dizer do século XX: que foi um
tempo de brumas, silêncios e mistérios. Tudo nele foi a céu aberto,
agressivamente iluminado, escancarado e estridente. E, no entanto,
ele é ainda um enigma - um claro en igma, parafraseando
Drummond -, e dele não podemos fazer o necrológio completo. E
porque findou como uma curva inesperada da história, em um
astucioso desencontro do que achávamos ser o futuro, turvou nossa
memória e nosso olhar. E tornou-se pedra e esfinge, com um brilho
que ainda cega e desafia.

O século XX foi, sem dúvida, um século das utopias.
O seu andamento coincidiu com a máxima expansão das categorias
fundamentais do mundo moderno - sujeito e trabalho -, eixos que
presidiram a atualização e exasperaram os limites do liberalismo e do
socialismo, as duas grandes utopias da modernidade. E talvez por isso
exiba uma característica única e contraditória: parece ter sido o mais
preparado e explicado pelos séculos anteriores e, simultaneamente,
o que mais distanciou a humanidade de seu passado, mesmo o mais
próximo, decretando o caráter obsoleto de formas de vida e
sociabilidade consolidadas durante milênios.

O século XX sancionou o Estado-nação como a forma, por
excelência, de organização das sociedades em peregrinação para o
futuro e em busca de transparência. Os Estados nacionais ergueramse
como personagens privilegiadas de uma história humana cada vez
mais cosmopolita, para lembrar Kant, modificando de forma radical
a paisagem do mundo. Com eles, o direito assumiu progressivamente
a condição de um idioma universal, reagindo sobre o passado e
destruindo velhas estruturas hierárquicas fundadas em privilégios e na
tradição.

Mas o século XX não é apenas um tempo de esperanças.
É também o século do medo e das tragédias injustificáveis. A dura
realidade dos interesses provoca dois grandes conflitos mundiais, um
tenso período de guerra fria e uma interminável série de guerras
localizadas. Um século de violência dos que oprimem e dos que se
revoltam.

Rubem Barboza Filho. Século XX: uma introdução (em forma
de prefácio). Apud: Alberto Aggio e Milton Lahuerta (Org.).
Pensar o século XX. São Paulo: Unesp, 2003, p. 15-9 (com
a d a p t a ç õ e s ) .

Considerando o texto acima, julgue os itens seguintes, rel ativos
ao cenário histórico do mundo contemporâneo.

A guerra fria assinalou a fase de confronto entre as d u as superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial, t en do seu clímax após o anúncio da Doutrina Truman, pel a qual os Estados Unidos da Amér ica (EUA) se dispunham a apoiar os países que resistissem ao comunismo.

Alternativas
Comentários
  • A Doutrina Truman desdobra-se em Plano Marshall, orientado à reconstrução da Europa Ocidental. A reação da URSS, liderada por Stálin, foi ao reinício do processo de militarização das fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na Europa Oriental o aceleramento do projeto de desenvolvimento da bomba atômica.  (Sombra Saraiva, Relações Internacionais. Dois Séculos de História. VII).

    Ou seja, após o anúncio da Doutrina Truman, a Guerra Fria atinge seu clímax.

  • Considero essa questão um pouco mal elaborada já que o clímax seria a Doutrina Truman. Inegavelmente, tal doutrina traz em seu bojo a disputa contra o Socialismo real da URSS. No entanto, localizaria o clímax de toda a guerra fria em eventos como o bloqueio de Berlim ocidental e a Crise dos mísseis em Cuba. 
  • Doutrina Truman é igual ao Plano Marshall??? Onde está as semelhanças e diferenças? ou não existe?
  • A Doutrina Truman é tida como o início da Guerra Fria e não o seu clímax. O anúncio da DT dá início à chamada fase quente (1947-1955).  O período mais quente dessa fase foi o Bloqueio de Berlim. Interessante é que uma das fases mais quentes ( a crise dos mísseis) marca o período subsequente, a coexistência pacífica. Difícil saber o que o examinador quer. 
  • Caro Daniel, seguem breves comentários acerca de seus questionamentos.

    Embora haja íntima relação entre os dois termos, tratam-se de aspectos diversos da política norte-americana no Pós-2ª GM.

    A Doutrina, elaborada em 1947 pelo Presidente Harry Truman, orientava a políltica externa dos EUA. Servia como diretriz de atuação das relações internacionais dos EUA naquele período. A principal característica da Doutrina era evitar a expansão do comunismo. Essa doutrina norteou a adoção de estratégias para alcançar seu objetivo. 

    O Plano Marshall, referência ao secretário de Estado George Marshall, foi o principal instrumento da Doutrina Truman. Consistia em fornecer ajuda econômica aos países destruídos pela guerra. Dessa forma, os EUA garantiam o sistema capitalista nesses países, bem como, sua influência sobre eles. 

    Em linhas gerais, portanto, o Plano estava contido na Doutrina. Executava o que havia sido pensado. 
  • O incio é a doutrina Truman. O ápice é a Crise dos Mísseis. Questão mal redigida e passível de anulação.
  • Ah tá, o ápice foi o discurso do Thumam... Não foi a crise dos mísseis não né? Chuva radioativa na sua cabeça... morrer de câncer por causa da radiação... derreter em virtude de explosão de 1000ºC... Guerra do Vietnam pipocando... Afeganistão... Regimes ditatoriais... Revolução Cubana... O livro do examinador estava faltando algumas páginas, só pode. 

  • O ápice foi a crise dos mísseis em 1962.  Concordo com o Wilson, deve estar faltando páginas no livro de história desse examinador. 

  • Acho que o examinador considerou como climax o primeiro evento mais importante de embate...

  • QUESTAO CORRETA. 

  • Finalmente entendi a banca. Interpretação de texto: "clímax após o anúncio da Doutrina Truman" não significa "climax logo após o anúncio da Doutrina Truman", nem "climax com o anúncio da Doutrina Truman". Bloqueio de Berlim, Crise dos Mísseis, qualquer evento marcante na escalada de tensões da Guerra Fria, todos aconteceram após o anúncio da Doutrina Truman. Antes que não foi. Questão mal redigida, mas há lógica para sustentar o gabarito.

  • Questão CORRETA com base no livro "A Era dos Extremos", de Eric Hobsbawm, que na p. 226 diz:

    "Provavelmente o período mais explosivo foi aquele entre a enunciação formal da Doutrina Truman, em março de 1947 (“Creio que a política dos Estados Unidos deve ser a de apoiar os povos livres que resistem a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões de fora”), e abril de 1951, quando o mesmo presidente americano demitiu o general Douglas MacArthur, comandante das forças americanas na Guerra da Coréia, que levou sua ambição militar longe demais. Esse foi o período em que o medo americano de uma desintegração social ou revolução social nas partes não soviéticas da Eurásia não era de todo fantástico — afinal, em 1949 os comunistas assumiram o poder na China.

    Por outro lado, os EUA com quem a URSS se defrontava tinham o monopólio das armas nucleares e multiplicavam declarações de anticomunismo militantes e agressivas, enquanto surgiam as primeiras fendas na solidez do bloco soviético com a saída da Iugoslávia de Tito (1948). Além disso, de 1949 em diante a China esteve sob um governo que não apenas mergulhou imediatamente numa grande guerra na Coréia, como — ao contrário de todos os outros governos — se dispunha de fato a enfrentar um holocausto nuclear e sobreviver. Qualquer coisa poderia acontecer. Assim que a URSS adquiriu armas nucleares — quatro anos depois de Hiroxima no caso da bomba atômica (1949), nove meses depois dos EUA no caso da bomba de hidrogênio (1953) — as duas superpotências claramente abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso equivalia a um pacto suicida. Não está muito claro se chegaram a considerar seriamente a possibilidade de uma ação nuclear contra terceiros — os EUA na Coréia em 1951, e para salvar os franceses no Vietnã em 1954; a URSS contra a China em 1969 —, mas de todo modo as armas não foram usadas. Contudo, ambos usaram a ameaça nuclear, quase com certeza sem intenção de cumpri-la, em algumas ocasiões..."

  • CORRETO!