SóProvas


ID
88891
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PRF
Ano
2008
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No tempo de andarilho

Prospera pouco no Pantanal o andarilho. Seis meses, durante
a seca, anda. Remói caminhos e descaminhos. Abastece de perna
as distâncias. E, quando as estradas somem, cobertas por águas,
arrancha.

O andarilho é um antipiqueteiro por vocação. Ninguém o
embuçala. Não tem nome nem relógio. Vagabundear é virtude
atuante para ele. Nem é um idiota programado, como nós. O próprio
esmo é que o erra.

Chega em geral com escuro. Não salva os moradores do
lugar. Menos por deseducado. Senão por alheamento e fastio.
Abeira-se do galpão, mais dois cachorros, magros, pede
comida, e se recolhe em sua vasilha de dormir armada no tempo.
Cedo, pela magrez dos cachorros que estão medindo o pátio,
toda a fazenda sabe que Bernardão chegou. "Venho do oco do
mundo. Vou para o oco do mundo." É a única coisa que ele adianta.
O que não adianta.

(...)
Enquanto as águas não descem e as estradas não se
mostram, Bernardo trabalha pela bóia. Claro que resmunga. Está
com raiva de quem inventou a enxada. E vai assustando o mato
como um feiticeiro.

Os hippies o imitam por todo o mundo. Não faz entretanto
brasão de seu pioneirismo. Isso de entortar pente no cabelo intratável
ele pratica de velho. A adesão pura à natureza e a inocência
nasceram com ele. Sabe plantas e peixes mais que os santos.
Não sei se os jovens de hoje, adeptos da natureza,
conseguirão restaurar dentro deles essa inocência. Não sei se
conseguirão matar dentro deles a centopéia do consumismo.
Porque, já desde nada, o grande luxo de Bernardo é ser
ninguém. Por fora é galalau. Por dentro não arredou de criança. É ser
que não conhece ter. Tanto que inveja não se acopla nele.

Manoel de Barros. Livro de pré-coisas: roteiro para uma excursão
poética no Pantanal. 2.a ed. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 47-8.

Utilizando a função poética da linguagem, o autor do texto

Alternativas
Comentários
  • Acho que a resposta está no seguinte seguimento: "... Não sei se os jovens de hoje, adeptos da natureza,
    conseguirão restaurar dentro deles essa inocência. Não sei se
    conseguirão matar dentro deles a centopéia do consumismo.
    Porque, já desde nada, o grande luxo de Bernardo é ser
    ninguém. Por fora é galalau. Por dentro não arredou de criança. É ser
    que não conhece ter. Tanto que inveja não se acopla nele."

    No entanto, errei a questão!!! Alguém pode me esclarecer???
  • O texto faz críticas ao nosso mundo consumista, alienado prgramado (temos hora pra tudo, somos apressados e estressados por isso) ao afirmar: "...O andarilho é um antipiqueteiro por vocação. Ninguém o
    embuçala. Não tem nome nem relógio. Vagabundear é virtude
    atuante para ele. NEM É UM IDIOTA PROGRAMADO, COMO NÓS. O próprio
    esmo é que o erra. "

    e continua criticando nossos valores, quando contrapõe nosso jeito de viver com o do andarilho, ao afirmar:  "... Não sei se os jovens de hoje, adeptos da natureza,
    conseguirão restaurar dentro deles essa inocência. Não sei se
    conseguirão matar dentro deles a centopéia do consumismo.
    Porque, já desde nada, o grande luxo de Bernardo é ser
    ninguém. Por fora é galalau. Por dentro não arredou de criança. É ser
    que não conhece ter. Tanto que inveja não se acopla nele."

  • A letra A está errada pro causa disto: ''Enquanto as águas não descem e as estradas não se
    mostram, Bernardo trabalha pela bóia. Claro que resmunga. Está
    com raiva de quem inventou a enxada. E vai assustando o mato
    como um feiticeiro.'' ELE NÃO FEZ APOLOGIA, POIS DEMONSTRA QUE O MODO DE VIDA É SOFRIDO. FORA OS DEMAIS TRECHOS.

    A letra C está errada por causa deste trecho: "Vagabundear é virtude atuante para ele", e de vários outros que criticam o andarilho.


    Este trecho me fez desconsiderar a letra E e considerar a B:

    ''Os hippies o imitam por todo o mundo. Não faz entretanto
    brasão de seu pioneirismo'' 

    A letra D remete a uma questão que vai ALÉM do que o autor diz, ou seja, que é interpretada por nós... configurando uma questão de interpretação, quando a questão pede compreensão ''o autor do texto'' TEM QUE SER ''SEGUNDO O AUTOR DO TEXTO'', E NÃO ''SEGUNDO O QUE VOCÊ ENTENDE DO TEXTO'' ( QUESTÃO DE COMPREENSÃO)

    PERCEBAM QUE A LETRA ''E'' TAMBÉM TEM ESSA CARACTERÍSTICA DE SER ALÉM DO TEXTO, POIS NÃO TEM NADA DIZENDO QUE ELE NÃO APROVA, APENAS ''SUGERINDO''. O QUE AINDA NÃO É VERDADE PELO QUE CITEI NA LETRA ''B''.

  • b) critica os valores de indivíduos que compõem a sociedade atual ao contrapor-lhes a beleza que percebe na figura do andarilho. CORRETA

    Percebi que era a certa adaptando os trechos:

    Crítica de valores de indivíduos:" Nem é um idiota programado, como nós. O próprio
    esmo é que o erra."

    Contrapondo...

    Beleza que percebe na figura do andarilho:" A adesão pura à natureza e a inocência
    nasceram com ele. Sabe plantas e peixes mais que os santos..."

  • É só ler com calma que vai...

  • funções de linguagem tá osso mas a interpretação ajuda haha