SóProvas


ID
916537
Banca
FUNCAB
Órgão
PC-ES
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português

Texto 1:

        Primeira experiência em tantas viagens: o piloto do enorme avião que me levava era uma mulher. Jovem, não muito alta, bonita e alegre – por que pensei que mulher comandante (recuso termos como pilota e comandanta) teria que ser grandona feito eu, e sisuda? Minha surpresa, nascida do preconceito inconsciente, passou para alegria: olha ela ali, casada, com filhos pequenos, sem ar de mãe culpada ou profissional, tendo de mostrar ferozmente sua competência. Nela se viam naturalidade, segurança e simpatia. 
        No meu encontro com altas executivas, aquele incidente acabou simbólico. A gente pode aprender e assimilar muita coisa: neste momento nós, mulheres e homens, enfrentamos muitas novidades, num mundo fascinante, vertiginoso, belo e às vezes cruel. Com tecnologias efêmeras e atordoantes, estamos condenados à brevidade, à transitoriedade, depois de séculos em que os usos e costumes duravam muitos anos, e qualquer pequena mudança causava um alvoroço. A convivência de homens e mulheres também mudou, muitíssimo, tema para muita literatura e seminários, fonte de muitos problemas pessoais. Mudanças trazem o stress nosso de cada dia.
       Eu devia falar sobre a carreira na vida de uma mulher, e seus desafios. Em muitas empresas as mulheres trabalham ombro a ombro com colegas homens, e eventualmente assumem cargos de comando. Como agimos, como nos portamos, como nos reinventamos, nós homens e mulheres? Estamos criando novas parcerias: se homens, enfrentando às vezes o comando de uma mulher; se mulheres, tentando descobrir como lidamos com o poder. Poder e dinheiro, dois fatores novos para nós, interligados e ainda inusitados. Conheço mulheres altamente capacitadas, com bons cargos e salários invejáveis, que no fim do mês entregam o dinheiro ao marido, ou têm uma conta conjunta que ele maneja, “para que ele não se sinta mal por eu ganhar mais.” Realmente, essa mulher com poder precisa de um parceiro com muito caráter, seguro e bem-humorado, para que o convívio faça crescer os dois, com cumplicidade e alegria. 
      Quando eu era adolescente, minhas tias e avós, achando que eu lia demais, profetizavam que eu “não conseguiria marido”, pois “os homens não gostam de mulheres muito inteligentes”. Hoje, celebro os tempos em que ser inteligente ou ter algum conhecimento não precisa ser escondido pelo arcaico medo de “ficar sozinha”. Tendo por escolha, sorte e acaso uma vida profissional sem patrão ou colegas diretos, admiro a diária superação das mulheres que ocupam cargo de mando. Pois se – além de sermos consideradas seres humanos (nem sempre fomos), hoje podemos votar, estudar, trabalhar, controlar o número de filhos e até escapar de casamentos infelizes –, assumimos muito conflito e confusão, os sentimentos humanos continuam os mesmos. Todos queremos dar algum sentido à nossa vida, queremos nos sentir importantes ao menos para alguém, desejamos realizações, mas também aconchego e escuta amorosa. 
      Como conciliamos as mais atávicas e legítimas emoções com as exigências duríssimas de trabalho? Nem sempre temos como deixar as crianças bem atendidas, mesmo tendo a melhor babá ou escolinha; se antes o marido chegava cansado, hoje muitas vezes marido e mulher voltam do trabalho exaustos e tensos. Nem sempre temos na vida pessoal ou no trabalho o parceiro que nos entende, apoia e aprecia, em vez de nos lançar vagas ironias ou quem sabe tentar nos boicotar – coisas que aos poucos desaparecem, pois também os homens estão aprendendo esse novo convívio.
    “Os homens estão assustados com essa mulher que está surgindo?”, perguntam-me seguidamente, e digo: “Os bobos se assustam, ironizam, procuram nos diminuir; os inteligentes – que são os que nos interessam – hão de gostar de ter no trabalho uma colaboradora e em casa uma boa parceira, em lugar de uma funcionária ou gueixa aturdida e queixosa”. Como resolver tudo isso? Vivendo e enfrentando com alguma grandeza esses novos tempos e essas novas gentes que somos agora. (LUFT, Lya. “Homens, mulheres e poder”. Rev. Veja: 19/12/2012, p. 26.) 

No que diz respeito à concordância, tanto a forma verbal em destaque quanto a forma proposta para substituí-la são igualmente admitidas no português padrão em:

Alternativas
Comentários
  • Opção CORRETA, letra "B".


    Apresento meu modo de ver, abaixo. (grifo meu)
    Temos que: "No que diz respeito à concordância, tanto a forma verbal em destaque quanto a forma proposta para substituí-la são igualmente admitidas no português padrão em:" 
    a) A gente PODE aprender e assimilar muita coisa (§ 2) / podemos >>> ERRADO. Situação de concordância de verbo (PODE / podemos) com substantivo (gente). Note que "gente", aqui, é substantivo coletivo representando número indeterminado de pessoas. Mesmo assim, esta no singular (como todos os coletivos) de forma que não faria sentido falar, ou grafar, "A gente podemos aprender". A única forma aceita, dentre as apresentadas, é a primeira, respeitando a concordância, conforme solicitado. "A gente (singular) PODE (singular) aprender."


    b) para que o convívio faça CRESCER os dois, com cumplicidade e alegria (§ 3) / crescerem >>> CORRETO. Ficam em plena concordância ambas formas. Tanto "para que o convívio faça CRESCER os dois, com cumplicidade e alegria"; quanto "para que o convívio faça crescerem os dois, com cumplicidade e alegria" atende à concordância.


    c) parceiro que nos entende, apoia e aprecia, em vez de nos LANÇAR vagas ironias (§ 5) / lançarem >>> ERRADO. Situação de concordância de verbo (LANÇAR /lançarem ) com substantivo (parceiro). Note que o sujeito também é "parceiro", pois é ele quem lança algo, Lança vagas ironias. No entanto precisamos avaliar que o "parceiro" é só um (singular), portanto não poderia "lançarem" (plural). A única opção, neste caso, é que o "parceiro" (singular), lance (singular) algo. Assim temos clara que a substituição proposta não mantem a concordância.


    d) ou quem sabe tentar nos boicotar – coisas que aos poucos DESAPARECEM(§ 5) / desaparece >>> ERRADO. Situação de concordância de verbo (DESAPARECEM/desaparece ) com substantivo (coisas). Aqui me aprece a mais simples. Não há como divergir de que "coisas" (plural) tem correta concordância apenas com "desaparecem" (plural). Desta forma a possibilidade de troca apresentada não é viável.


    e) os inteligentes – que são os que nos INTERESSAM– hão de gostar (§ 6) / interessa >>> ERRADO. Situação de concordância de verbo (INTERESSAM/interessa ) com substantivo** (inteligentes). Da mesma forma que a opção anterior, a concordância deverá ser "plural com plural". Assim teremos, como viável, apenas a primeira opção tornando inviável a troca proposta.

    ** Para não permanecer a dúvida, precisamos avaliar com maior cuidado o termo "inteligentes", normalmente classificado como adjetivo. No  entanto é necessário considerar que, aqui, não se trata de adjetivo pois o emprego de "inteligentes" não serve para modificar um substantivo, acrescentando-lhe uma qualidade, uma natureza ou um estado (função natural dos adjetivos). Na situação em que foi empregado, o termo "inteligentes" assume a função de substantivo pois tem função de "dar nome" aos indivíduos aos quais se refere, identificando-os.

  • Votei perfeito para o comentário acima.

    O cara explicou com perfeição ímpar as alternativas que fui buscar no dicionário a palavra "natureSa", rs.


  • Mas ainda não ficou claro na B porque pode ser usado o verbo com ambas as flexões.
  • meus parabéns ao colega Juliano Marques esquecendo alguns erros da grafia, comentário perfeito e bem explicado ao contrário de alguns que usa um CTRL+C e CTRL+V e acham que estão abafando.
    com relação a opção B o verbo CRESCER tanto pode concordar com O CONVÍVIO(substantivo)  quanto com OS DOIS(numeral).
    se alguém discordar por favor comente e deixe um recado.
  • Jhone, 

    Gosto dos teus comentários, fácil de entender. 
    Obrigada.

    o verbo CRESCER tanto pode concordar com O CONVÍVIO(substantivo)  quanto com OS DOIS(numeral).
  • NA MINHA OPINIÃO, A ASSERTIVA "A" APRESENTA UM CASO DE SILEPSE.
    "AGENTE PODEMOS " ESTARIA CORRETO. 
    OUTROS EXEMPLOS:"OS BRASILEIROS SOMOS IMPROVISADORES"
    "AGENTE SOMOS INÚTIL".        

    NESTES CASOS O VERBO DEIXA DE CONCORDAR COM O SUJEITO EXPLICITO,PASSANDO A CONCORDAR
    COM O IMPLICITO(AGENTE=SOMOS).
     
  • Concordo plenamente com você,   RAUL LARA DOS SANTOS, inclusive, este exemplo que você deu sobre a música do Ultraje a Rigor (A gente somos inútil) foi citado em sala de aula, no curso de Português, como um exemplo de silepse de pessoa.
    Este gabarito deve estar errado ou a questão deve ter sido anulada.
    Não concordo quando dizem que o verbo "crescer" ora pode combinar com o sujeito " o convívio" ora com o objeto direto "os dois". Afinal, a regra gramatical é clara: O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa.

  • mas e aí, este gabarito esta errado ou ñ?

  • salve, Jhone Oliveira! disse tudo! copiar e colar é fácil! sem ler o que se copia é cola, mais fácil ainda!

  • A B está correta creio eu pelo seguinte:

    Crescer, refere-se ao sujeito composto CUMPLICIDADE E ALEGRIA

    na língua portuguesa, quando o verbo vem antes do sujeito composto ele pode concordar tanto com ambos os núcleos, quanto com a núcleo mais próximo

    no caso, CRESCER no singular concorda como primeiro núcleo CUMPLICIDADE

    e CRESCEREM concorda com ambos os núcleos, CUMPLICIDADE E ALEGRIA.

  • silepse =concordância ideológica, letra A, caberia recurso fácil fácil

  • Pessoal, não vamos confundir, o exemplo clássico da música do Ultraje a Rigor é inadmissível. Consultei em várias fontes e todas mantêm o consenso.

    O brasileiro, somos patriotas.

    (Observe que a flexão verbal somos está concordando com o pronome nós, que não está expresso na oração).

    A gente fomos ao shopping.

    (A expressão “a gente” é um substantivo singular com ideia de plural, por isso, no período seguinte, a forma verbal “fomos” está no plural. Essa construção, no entanto, é inadmissível na linguagem escrita).

    Fonte: MundoEducação

    Outra fonte:

    ATENÇÃO: Na linguagem coloquial, costumamos utilizar “a gente” no lugar de “nós”, mas quando a concordância de “a gente” admite a primeira pessoa do plural como equivalente dessa expressão e faz verbos e pronomes concordarem com essa ideia, essa forma não é considerada silepse, porque sequer é tida como legítima. Trata-se de uma construção gramatical muito própria da linguagem oral, e nela é grande o risco de se fazer mau uso da língua ou mesmo de se cometer erros grosseiros. Um exemplo de mau uso: “A gente deixou nosso carro na esquina”. Um exemplo de erro grosseiro: “A gente somos brasileiros” https://www.figurasdelinguagem.com/silepse/

    Abs

  • Essa professora do QC parece ter preguiça de responder!