No artigo "O problema econômico do masoquismo", Freud (1924/1974) descreve três experiências subjetivas distintas: o masoquismo erógeno primordial, o masoquismo feminino e o masoquismo moral: "O masoquismo apresenta-se à nossa observação sob três formas: como condição imposta à excitação sexual, como expressão da natureza feminina e como norma de comportamento – é o masoquismo erógeno, o feminino e o moral" (Freud, [1924] 1974: 201).
A libido tem a tarefa de neutralizar os poderes destrutivos da pulsão de morte e realiza isso desviando essa pulsão, em grande parte, para o exterior. Uma parte dessa pulsão, entretanto, não se associa a esse movimento de transposição para fora, ficando no organismo, sendo neste momento de encontro entre a libido e a pulsão de morte que Freud reconhece o masoquismo erógeno originário:
A libido tem a missão de tornar inócuo o instinto destruidor e a realiza desviando esse instinto, em grande parte, para fora – e em breve com o auxílio de um sistema orgânico especial, o aparelho muscular – no sentido de objetos do mundo externo. [...] Outra porção não compartilha dessa transposição para fora; permanece dentro do organismo e, com o auxílio da excitação sexual acompanhante acima descrita, lá fica libidinalmente presa. É nessa porção que temos que identificar o masoquismo original, erógeno (Freud, 1924/1974: 204).
Assim, o masoquismo originário é também erógeno, pois se constitui a partir da liga entre Eros e pulsão de morte, sendo um remanescente do momento do encontro originário entre as duas pulsões, constituindo-se a partir da porção que não é deslocada para fora do organismo.
O masoquismo moral centra-se na submissão ao outro da moral – uma espécie de obediência irrestrita às injunções do outro social, o que levou Theodor Reik (1941) a denominá-lo de "masoquismo social". Constitui-se como um efeito do sentimento de culpa, sendo que o sofrimento aqui aparece como um destino (o que Freud denominou de "neurose de destino") que seria alheio ao sujeito, como obra do acaso. Enquanto o masoquismo moral é a relação do sujeito com o social, o masoquismo feminino se materializa no relacionamento com o outro, ao qual o sujeito se oferece como objeto para ser aviltado e humilhado. No masoquismo feminino, o que está em questão é a posição de humilhação frente ao objeto amoroso, pois aqui se faz necessária a encenação masoquista com o outro, diferentemente do masoquismo moral, no qual a figura do outro aparece sob a forma das injunções da cultura.