I.
Ó poente que te vais em sombras mortas,
Para voltar depois,
Suavidade que desconfortas,
Como somos iguais os dois!
Envolto em nuvens cor de sangue, choras
Todos os dias o dia findo...
E como rosas, depois, auroras
No teu seio vão-se abrindo.
E de novo te desabrochas,
Cheio de vida, para depois
Bruxulear num clarão de tochas
Seguindo o enterro de nós dois...
E no outro dia as mesmas rosas
No teu seio vão-se abrindo...
E voltam lágrimas chorosas
Depois, chorando o dia findo.
GUIMARAENS, Alphonsus de. Cantos de amor, soluços de preces. Rio de Janeiro: Cia José de Aguilar; Brasília: Instituto Nacional do Livro,
1972. p. 140.
II.
Poente. Calcando vidro úmido da tarde,
lentos, caminho dos currais, os bois
historiam campesino silêncio de fazenda.
No olhar de melancolia e trabalho vespertino
passeia desnudo entre folhas cegas
um sacrifício comum de agrícola fadiga,
paisagem desesperada nutrindo-se
de sombras, de canção despedaçada
entre cedros e riacho.
MATTOS, Florisvaldo. Poente aos bois. A caligrafia do soluço & poesia
anterior. Salvador: Fundação Casa Jorge Amado; COPENE, 1996. p. 80
No texto I, sugere-se