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ID
1083238
Banca
FCC
Órgão
TRT - 19ª Região (AL)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     Ainda aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou ao ver o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia e deixar à mostra, pulsando, seu pequenino coração.

     Esse fato define a mulher que iria revolucionar o tratamento da esquizofrenia e pôr em questão alguns dogmas estéticos em vigor mesmo entre artistas antiacadêmicos e críticos de arte.

     A mesma sensibilidade à flor da pele que a fez deixar, horrorizada, a aula de anatomia, levou-a a se opor ao tratamento da esquizofrenia em voga na época em que se formou: o choque elétrico, o choque insulínico, o choque de colabiosol e, pior do que tudo, a lobotomia, que consistia em secionar uma parte do cérebro do paciente. Tomou-se de revolta contra tais procedimentos, negando-se a aplicá-los nos doentes a ela confiados. Foi então que o diretor do hospital, seu amigo, disse-lhe que não poderia mantê-la no emprego, a não ser em outra atividade que não envolvesse o tratamento médico. - Mas qual?, perguntou ela. - Na terapia ocupacional, respondeu-lhe o diretor.

     A terapia ocupacional, naquela época, consistia em pôr os internados para lavar os banheiros, varrer os quartos e arrumar as camas. Nise aceitou a proposta e, em pouco tempo, em lugar de faxina, os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila e encadernando livros. Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos da arte brasileira, cujas obras passaram a constituir o hoje famosíssimo Museu de Imagens do Inconsciente do Centro Psiquiátrico Nacional, situado no Engenho de Dentro, no Rio.

     É que sua visão da doença mental diferia da aceita por seus companheiros psiquiatras. Enquanto, para estes, a loucura era um processo progressivo de degenerescência cerebral, que só se poderia retardar com a intervenção direta no cérebro, ela via de outro modo, confiando que o trabalho criativo e a expressão artística contribuiriam para dar ordem e equilíbrio ao mundo subjetivo e afetivo tumultuado pela doença.

     Por isso mesmo acredito que o elemento fundamental das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o afeto, o afeto pelo outro. Foi por não suportar o sofrimento imposto aos pacientes pelos choques que ela buscou e inventou outro caminho, no qual, em vez de ser vítima da truculência médica, o doente se tornou sujeito criador, personalidade livre capaz de criar um universo mágico em que os problemas insolúveis arrefeciam.


(Adaptado de: GULLAR, Ferreira. A Cura pelo Afeto. Resmungos, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007)

O segmento que explicita a causa de um acontecimento anterior é:

Alternativas
Comentários
  • a) ... que ela buscou e inventou outro caminho... (6º parágrafo) = consequência de "por não suportar o sofrimento imposto aos pacientes pelos choques". (errado); 

     

    b) É que sua visão da doença mental diferia da aceita por seus companheiros psiquiatras. (5º parágrafo) = causa de "em pouco tempo, em lugar de faxina, os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila e encadernando livros". (certo); 

     

    c) ... que o elemento fundamental das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o afeto... (6º parágrafo) = termo complementar do pensamento inicial expresso pelo verbo "acredito". (errado); 

     

    d) Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos da arte brasileira... (4º parágrafo) = consequência de "os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila e encadernando livros". (errado); 

     

    e) ... fazendo modelagem com argila e encadernando livros. (4º parágrafo) = relação de modo com o período "os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados". (errado). 

  • Fiquei em dúvida entre a B e C e marquei a C. Alguém pode me ajudar 

    Comentário do professor, no meu ver, pobre por não explicar concretamente a causa e a consequência pedidas na questão. Não comentou as outras questões, principalmente a letra C.

     O autor do texto coloca que:

     "o elemento fundamental das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o afeto." Mais abaixo cita também a sensibilidade de Nise da Silveira. O afeto e a sensibilidade dela não poderiam ter sido a causa de tudo que estava escrito anteriormente no texto (ponto de interrogação). 

    No segundo parágrafo o autor fala que "esse fato define a mulher que iria revolucionar o tratamento da esquizofrenia e pôr em questão alguns dogmas estéticos em vigor..... (consequência da sensibilidade e do afeto)