SóProvas


ID
1083244
Banca
FCC
Órgão
TRT - 19ª Região (AL)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     Ainda aluna de medicina, Nise da Silveira se horrorizou ao ver o professor abrir com um bisturi o corpo de uma jia e deixar à mostra, pulsando, seu pequenino coração.

     Esse fato define a mulher que iria revolucionar o tratamento da esquizofrenia e pôr em questão alguns dogmas estéticos em vigor mesmo entre artistas antiacadêmicos e críticos de arte.

     A mesma sensibilidade à flor da pele que a fez deixar, horrorizada, a aula de anatomia, levou-a a se opor ao tratamento da esquizofrenia em voga na época em que se formou: o choque elétrico, o choque insulínico, o choque de colabiosol e, pior do que tudo, a lobotomia, que consistia em secionar uma parte do cérebro do paciente. Tomou-se de revolta contra tais procedimentos, negando-se a aplicá-los nos doentes a ela confiados. Foi então que o diretor do hospital, seu amigo, disse-lhe que não poderia mantê-la no emprego, a não ser em outra atividade que não envolvesse o tratamento médico. - Mas qual?, perguntou ela. - Na terapia ocupacional, respondeu-lhe o diretor.

     A terapia ocupacional, naquela época, consistia em pôr os internados para lavar os banheiros, varrer os quartos e arrumar as camas. Nise aceitou a proposta e, em pouco tempo, em lugar de faxina, os pacientes trabalhavam em ateliês improvisados, pintando, desenhando, fazendo modelagem com argila e encadernando livros. Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos da arte brasileira, cujas obras passaram a constituir o hoje famosíssimo Museu de Imagens do Inconsciente do Centro Psiquiátrico Nacional, situado no Engenho de Dentro, no Rio.

     É que sua visão da doença mental diferia da aceita por seus companheiros psiquiatras. Enquanto, para estes, a loucura era um processo progressivo de degenerescência cerebral, que só se poderia retardar com a intervenção direta no cérebro, ela via de outro modo, confiando que o trabalho criativo e a expressão artística contribuiriam para dar ordem e equilíbrio ao mundo subjetivo e afetivo tumultuado pela doença.

     Por isso mesmo acredito que o elemento fundamental das realizações e das concepções de Nise da Silveira era o afeto, o afeto pelo outro. Foi por não suportar o sofrimento imposto aos pacientes pelos choques que ela buscou e inventou outro caminho, no qual, em vez de ser vítima da truculência médica, o doente se tornou sujeito criador, personalidade livre capaz de criar um universo mágico em que os problemas insolúveis arrefeciam.


(Adaptado de: GULLAR, Ferreira. A Cura pelo Afeto. Resmungos, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007)

Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos...

O segmento cujo verbo possui, no contexto, o mesmo tipo de complemento do grifado acima é:

Alternativas
Comentários
  • Sair, em regra, é um verbo intransitivo. Entretanto, nesse contexto é utilizado como "provir", que é VTI.

  • Muita atenção, candidatos!  Quando se trata de FCC, o mais importante não é a classificação (normativa) tradicional do verbo; o fundamental é, no contexto da frase, o comportamento do verbo: ele exige ou não preposição, de que tipo, etc.  No caso, "Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos... ", o verbo "sair", com o sentido de "surgir", exige a preposição DE, devendo ser analisado como transitivo indireto.  É o caso do verbo "diferir", na alternativa (A).  Um grande abraço a todos.  Esta questão está comentada em vídeo.  Fiz a gravação e já deve estar disponível. Vocês podem se tornar meus seguidores (aqui, no QC, e no facebook) para terem acesso a dicas e comentários.  Mais uma vez, um grande abraço.

  • Gabarito (A),conforme o colega abaixo afirmou, "sair" em regra é intransitivo, mas no contexto está como VTI.

  • sair = verbo intransitivo, normalmente, mas:

    sair = originar-se, provir, proceder = verbo transitivo indireto

    Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos... / Alguns dos artistas mais criativos saíram desses ateliês.

    a) ...sua visão da doença mental diferia da aceita por seus companheiros... VTI

    b) ... em que os problemas insolúveis arrefeciam. VI

    c) ... a loucura era um processo progressivo de degenerescência... VL

    d) ... e inventou outro caminho... VTD

    e) ... o doente se tornou sujeito criador, personalidade livre... VL

  • Dois assuntos polêmicos: 

    Tornar-se : VL ou VTD+OD 

    VI ou VTI = Seguido de Adj. Adv. ou OI. 

    Ou a FCC teve seu corpo docente alterado (os que seguiam as gramáticas mais aceitas e fugiam dessas polêmicas) ou estão sem criatividades e iniciou a apelação.

  • Ótimo o comentário do professor em vídeo. Muito didático.

  • No enunciado: Desses ateliês saíram alguns dos artistas mais criativos... 
    Ordem direta: Alguns dos artistas mais criativos saíram desses ateliês.
    Verbo SAIR, no caso, é VTI (sair de). Portanto, o termo sublinhado tem função sintática de objeto direto.
    A correspondência está na letra A), pois o verbo DIFERIR é VTI.

  • Boa questão. 

  • Sairam DOS artistas! Regencia: De!

    Na letra "a"...... diferencia DA aceita ! Regencia: De!

  • corrigindo o Alisson: OBJETO INDIRETO.

  • ALEXANDRE FEREIRA VEJA O VÍDEO "ÁRVORE DOS VERBOS" NO YOU TUBE! NÃO TEM COMO ERRAR

  • Bem que falam que colocar na ordem direta dá certo! Se deixasse como estava jamais teria marcado a A!

  • Saudade do verbo SAIR INTRANSITIVO AFF