A crônica “Filho da dor e pai do prazer”, de Santiago Dias, inicia-se com uma menção ao passado escravocrata:
Uma vez, um negro velho contou-me que, no tempo da escravidão, os homens dormiam acorrentados nas barras de ferro que havia nas paredes das senzalas. Depois de trabalhar exaustivamente e maltratados, tinham que se ajeitar para descansar de qualquer maneira naquele lugar sujo e fétido.
(O Plantador de manhãs. Crônicas. Inédito).
Percebe-se a denúncia do tratamento dispensado aos escravos, e a referência à dura realidade a que estavam submetidos na sociedade escravocrata.
Se, por um lado, o sofrimento e a insatisfação eram motivo de tristeza, por outro, o samba e a capoeira representavam alegria e prazer. A dualidade dor/ prazer anda lado a lado. Privados da possibilidade de serem donos de si mesmos, os escravos viam, na manifestação cultural afro-brasileira, uma maneira de manter viva sua tradição ancestral. Para tanto, faziam uso de alguns artifícios, como tocar durante a noite e usar instrumentos como código de comunicação, inclusive durante fugas, a fim de enganar os perseguidores que pensavam ser canto de LITERAFRO – www.letras.ufmg.br/literafro pássaros.
Assim, os afrodescendentes conseguiam preservar parte de sua cultura. Neste sentido, o samba surge, nas senzalas, como forma de sufocar a dor e o lamento e como forma de resistência, para depois se configurar como manifestação tipicamente afro-brasileira. Por isso, o samba é entendido como “filho da dor e pai do prazer”.
O samba, enquanto manifestação cultural afro-brasileira, nasceu da influência de ritmos africanos adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje. É a respeito disso que nos fala Santiago, na crônica citada. Nela, o autor apresenta os elementos que compõem o samba e ao mesmo tempo resgata a identidade cultural dos seus ancestrais, construindo a história desse ritmo através da descrição dos elementos de percussão que o acompanham.
No Brasil, a abolição se deu no dia 13 de maio de 1888 com a promulgação da Lei Áurea. A relativização dessa liberdade concedida é resumida numa epígrafe do poeta Santiago Dias, ao aludir à impossibilidade de inserção social dos afro-brasileiros. Assinale a alternativa que apresenta os versos que resumem a epígrafe citada acima.