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ID
1143190
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            Entre 1874 e 1876, apareceu numa revista alemã uma série de artigos sobre a pintura italiana. Eles vinham assinados por um desconhecido estudioso russo, Ivan Lermolieff, e fora um igualmente desconhecido Johannes Schwarze que os traduzira para o alemão. Os artigos propunham um novo método para a atribuição dos quadros antigos, que suscitou entre os historiadores reações contrastantes e vivas discussões. Somente alguns anos depois, o autor tirou a dupla máscara na qual se escondera. De fato, tratava-se do italiano Giovanni Morelli. E do “método morelliano” os historiadores da arte falam correntemente ainda hoje.
             Os museus, dizia Morelli, estão cheios de quadros atribuídos de maneira incorreta. Mas devolver cada quadro ao seu verdadeiro autor é difícil: muitíssimas vezes encontramo- nos frente a obras não assinadas, talvez repintadas ou num mau estado de conservação. Nessas condições, é indispensável poder dintinguir os originais das cópias. Para tanto, porém, é preciso não se basear, como normalmente se faz, em características mais vistosas, portanto mais facilmente imitáveis, dos quadros. Pelo contrário, é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia: os lóbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mãos e dos pés. Com esse método, Morelli propôs dezenas e dezenas de novas atribuições em alguns dos principais museus da Europa.
            Apesar dos resultados obtidos, o método de Morelli foi muito criticado, talvez também pela segurança quase arrogante com que era proposto. Posteriormente foi julgado mecânico, grosseiramente positivista, e caiu em descrédito. Por outro lado, é possível que muitos estudiosos que falavam dele com desdém continuassem a usá-lo tacitamente para as suas atribuições. O renovado interesse pelos trabalhos de Morelli é mérito de E. Wind, que viu neles um exemplo típico da atitude moderna em relação à obra de arte - atitude que o leva a apreciar os pormenores, de preferência à obra em seu conjunto. Em Morelli existiria, segundo Wind, uma exacerbação do culto pela imediaticidade do gênio, assimilado por ele na juventude, em contato com os círculos românticos berlinenses.


                        (Adaptado de Carlo Ginzburg. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Trad. Federico Carotti. S.Paulo: Cia. das Letras, 1989, p.143-5)

O texto sugere que

Alternativas
Comentários
  • Gabarito D.

    Alguém comenta??


  • "O texto sugere" (sugestão, inferência, dedução..): Pede o que pode ser interpretado A PARTIR DO TEXTO, não o que pode ser compreendido DO TEXTO. Numa leitura rápida acho que tanto a A quanto a C colocam afirmações DO TEXTO, e não é isso que a questão pede, a B e a E não notei no texto, então deixo para os outros comentarem algo sobre elas.  

  • A única alternativa em que se vê uma sugestão do texto é a letra D, o que se observa pela seguinte passagem: “Por outro lado, é possível que muitos estudiosos que falavam dele com desdém continuassem a usá-lo tacitamente para as suas atribuições.”


    *É possível que muitos estudiosos usaram o método de Morelli, mas não há absoluta certeza, por isso que é uma sugestão do texto.


    O texto sugere que várias críticas feitas a Morelli eram inescrupulosas, pois seu método continuava sendo usado, sem a devida atribuição, por aqueles mesmos que o criticavam.

  • Alguém poderia explicar por que a letra B está errada.

  • Acho que o erro da B está no fato de a única referência ao mau estado de conservação dos quadros esteja na dificuldade de identificar a autoria; o texto não diz que a conservação seja mais ou menos importante que qualquer outra coisa.

  • GAB D

     

     a) a valorização dos pormenores de um quadro por Morelli resultava de sua crença de que eram determinantes para situar um pintor na escola a que havia pertencido.

    R- não  eram determinantes para situar um pintor na escola a que havia pertencido. - "e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia:"

     

     b) Morelli considerava mais importante a atribuição de um quadro a seu verdadeiro autor do que o restauro de obras em mau estado de conservação.

     R: "Mas devolver cada quadro ao seu verdadeiro autor é difícil: muitíssimas vezes encontramo- nos frente a obras não assinadas, talvez repintadas ou num mau estado de conservação."

     

     c) o método de Morelli, a despeito dos bons resultados colhidos em muitas atribuições de quadros em museus europeus, acabou desacreditado devido à arrogância de seus críticos.

    R: Arrogância do Morelli - "Apesar dos resultados obtidos, o método de Morelli foi muito criticado, talvez também pela segurança quase arrogante com que era proposto"

     

     d) várias críticas feitas a Morelli eram inescrupulosas, pois seu método continuava sendo usado, sem a de- vida atribuição, por aqueles mesmos que o criticavam.

    R: " é possível que muitos estudiosos que falavam dele com desdém continuassem a usá-lo tacitamente para as suas atribuições"

     

    e) muito do malogro do método de Morelli pode ser creditado à sua crença, inspirada nos românticos, de que o artista era um gênio solitário e incompreendido.

  • É preciso ter uma boa dose de imaginação para chegar à dedução de que desdém e inescrupulosidade têm sentidos correlatos. Lamento mas discordo do gabarito.