SóProvas


ID
116497
Banca
FCC
Órgão
TRE-CE
Ano
2002
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O mercado não deixa de ser uma criatura assaz estranha, pois ela é apresentada como se fosse portadora de vontade. Ouvimos freqüentemente que o mercado "quer" isto ou aquilo, que ele tem tal ou qual expectativa, como se
tratássemos com um ente volitivo, dotado de desejos, paixões e esperanças. Como uma criança mimada, se a sua vontade é contrariada, o seu mau humor imediatamente se manifesta, expressando-se na queda das bolsas, no aumento
da cotação do dólar e do dito risco Brasil.
Não se trata, evidentemente, de negar que o mercado tenha regras que devem ser obedecidas, sob pena de uma disfunção total do corpo social e econômico. Seguir
regras faz parte de qualquer comportamento, sem que daí se infira necessariamente que obedecer a um conjunto de regras torna esse conjunto um ser dotado de vontade. Se sigo regras de trânsito, daí não se segue que essas regras "queiram" tal ou qual coisa, senão no sentido derivado de que seres volitivos impuseram a si mesmos esse conjunto de regras. (...)
No domínio econômico observamos dois tipos de processos, de essência diferente, que tendem a ser identificados, sobretudo na vida política e, mais
especificamente, eleitoral. Se um determinado governo, seguindo certas políticas, não segue regras econômicas básicas, ele certamente produzirá um descalabro completo das contas públicas e uma desorganização total das relações
socioeconômicas. As experiências socialistas e comunistas do século XX são plenas de ensinamento nesse sentido, pois, ao serem conduzidas contra o mercado, produziram regimes totalitários com milhões de mortos. A supressão das liberdades democráticas foi a sua primeira manifestação mais visível.
Não se pode, contudo, dizer que o mercado não comporte um leque muito variado de políticas, algumas muito distantes entre si. (...)
Quem quer determinadas políticas, e não outras, são os agentes econômicos, sociais e políticos que, dependendo das orientações seguidas, não "querem" a sua implementação. Como não se assumem diretamente, apresentam os seus interesses sob uma forma impessoal, como se uma entidade coletiva e mirabolante não quisesse certas ações. Toda política favorece determinados interesses e contraria outros, sem que se possa dizer que exista uma política de custo zero que beneficiaria todos os agentes envolvidos. Uma política que favoreça as exportações e a substituição de importações, por exemplo, irá contrariar outros interesses que são hoje satisfeitos. Uma política de redistribuição de renda necessariamente tirará de alguns para favorecer os mais carentes.
A especulação que temos observado no mercado financeiro obedece precisamente a esse jogo de interesses contrariados ou favorecidos, em que simples rumores de subida ou de descida de determinados candidatos nas
pesquisas de opinião produzem lucros para alguns e prejuízos para outros. Em alguns casos, os rumores relativos a essas pesquisas nem se confirmam, porém lucros e perdas não cessam de ser produzidos. E o que é pior: os prejuízos dizem respeito a todo o País.


(Denis Lerrer Rosenfeld, O Estado de S. Paulo, agosto
de 2002)

De acordo com o texto, o vocábulo mercado, de largo uso nas áreas política e econômica,

Alternativas
Comentários
  • Traduz, de forma impessoal,(IMPOSIÇÃO NA BUSCA DO LUCRO),interesses de agentes financeiros, muitas vezes opostos entre si.
  • Tendo um entendimento divergente ao gabarito, gostaria apenas de registrar um comentário. 

    Creio que a resposta transcende o conteúdo restrito ao texto, tampouco é possível inferir que "mercado" seja o resultado de interesses  de um grupo restrito e muito especifico: a dos  "agentes financeiros"; salvo se o examinador,  por sua conta própria, atribui-lhe erroneamente a sinonímia de uma entidade  coletiva muito maior a que o texto cita :   'grupos econômicos, sociais e políticos' , cuja significância já lhes fora atribuída pela ciência econômica (macro e micro economia) .
     
    Lê-se: "Quem quer determinadas políticas, e não outras, são os 'agentes econômicos', 'sociais' e 'políticos' que ... " .
    Desta feita, imputar a autoria da volição a  'agentes financeiros ' (banqueiros e acionistas) é não só pecar pela elisão excessiva deste objeto,  como também  atribuir um caráter sectário aos reais  autores volitivos conforme argumenta o autor do texto.
     
    Grupos econômicos e sociais  são as famílias (da economia), o governo, o resto do mundo, ou os consumidores, os produtores, pessoas que compartilham conjunto de preceitos éticos, morais e políticos próximos, etc.  

    Por fim, entendo ainda que  idéia de agente  "financeiro"  ao final do texto foi mera exemplificação em  caráter persuasivo de argumentação de  uma tese em que o correlaciona a candidatos ,  provavelmente políticos. O  'mercado financeiro' é , pois,  apenas um palco  em que se observa essa relação entre candidatos (agentes políticos ? , agentes econômicos privados? ) e ganhos e perdas de capitais dos agentes financeiros.  

     A assertiva d não está correta.

     
     

  • "Quem quer determinadas políticas, e não outras, [2] são os agentes econômicos, sociais e políticos que, dependendo das orientações seguidas, não "querem" a sua implementação. Como não se assumem diretamente,[1] apresentam os seus interesses sob uma forma impessoal, como se uma entidade coletiva e mirabolante não quisesse certas ações.[3] Toda política favorece determinados interesses e contraria outros"

    d) traduz, [1] de forma impessoal, [2] interesses de agentes financeiros, [3] muitas vezes opostos entre si.