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ID
1171969
Banca
FCC
Órgão
TRT - 16ª REGIÃO (MA)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

[Do espírito das leis]
          Falta muito para que o mundo inteligente seja tão bem governado quanto o mundo físico, pois ainda que o mundo inteligente possua também leis que por sua natureza são invariáveis, não as segue constantemente como o mundo físico segue as suas. A razão disso reside no fato de estarem os seres particulares inteligentes limitados por sua natureza e, consequentemente, sujeitos a erro; e, por outro lado, é próprio de sua natureza agirem por si mesmos. (...)

          O homem, como ser físico, tal como os outros corpos da natureza, é governado por leis invariáveis. Como ser inteligente, viola incessantemente as leis que Deus estabeleceu e modifica as que ele próprio estabeleceu. Tal ser poderia, a todo instante, esquecer seu criador - Deus, pelas leis da religião, chamou-o a si; um tal ser poderia, a todo instante, esquecer-se de si mesmo − os filósofos advertiram-no pelas leis da moral.


                     (Montesquieu − Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 33 e 34)

De acordo com a lógica do texto, as afirmações O homem esquece seu criador e Deus chama-o para si estão clara e corretamente articuladas na seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  • Vejo uma incoerência nesta questão. O texto diz: "Tal ser poderia, a todo instante, esquecer seu criador - Deus." Veja que trata-se de uma possibilidade, é usado o vocábulo "poderia". Contudo o enunciado afirma que categoricamente que "O homem esquece seu criador", ou seja, uma certeza. Ora, no momento de escolher a opção correta deve-se usar como parâmetro qual situação? A do texto ou a do enunciado? Se seguir o texto o gabarito é letra 'C' e se seguir o enunciado o gabarito é letra 'B'. Alguém concorda ou discorda? Além disso, não encontrei no texto a idéia de "Deus chama-o para si". Cheguei a pesquisar se a questão foi anulada ou se o gabarito foi modificado, mas de fato não foi modificado ou anulada.

  • O enunciado não pede que você extraia do texto informações implícitas, mas apenas pede para que assinale a alternativa que apresenta a frase modificada sem perda de clareza e articulação. Do fragmento "O homem esquece seu criador e Deus chama-o para si" chega-se a conclusão de que quem esquece Deus é o homem, mas apesar desse esquecimento e abandono, Deus sempre chama o homem para si. Agora vamos destrinchar cada questão para buscar essas informações que já obtemos.

    (A) Ainda quando se esqueça de seu criador, o homem busca seu chamado. Sabemos apenas que Deus chama e não que o homem busca esse chamado. Portanto, alternativa errada. 

    (B) Embora Deus o chame para si, o homem esquece seu criador. O homem primeiro esquece para depois ser chamado por Deus, portanto, o certo seria: Embora o homem esqueça o criador, Deus o chama para si. Alternativa errada.

    (C) Não obstante o homem possa esquecer seu criador, este o chama para si. Essa é a "B" na ordem correta. Veja que primeiro o homem esquece o criador, mas nem por causa disso o criador não chama ele para si. Alternativa certa. 

    (D) Deus chama o homem para si, conquanto ele não deixe de esquecê-lo. Essa diz que apesar de Deus chamar o homem para si, esse ainda continua a esquecer Deus. Portanto, está errada, pois o homem pode até esquecer para depois ser chamado, mas nada se sabe se ele continua a esquecer. 

    (E) Mesmo que viesse a esquecê-lo, o chamado de Deus seria ouvido pelo homem. Ninguém sabe se esse chamado realmente é ouvido, apenas sabe que Deus chama. Portanto, está errada.

    _________________________________________________________


  • No enunciado temos fatos: O homem esquece seu criador. Deus os chama para si.

    C) (Hipótese) Não obstante o homem possa esquecer seu criador, este o chama para si.

    B) Embora Deus o chame para si (fato), o homem esquece seu criador (fato). Deveria ser o gabarito.

  • No texto de Montesquieu, lemos:

    "Tal ser poderia, a todo instante, esquecer seu criador - Deus, pelas leis da religião, chamou-o a si; um tal ser poderia, a todo instante, esquecer-se de si mesmo − os filósofos advertiram-no pelas leis da moral".

    "Poderia" está no futuro do pretérito do indicativo - o condicional presente que vem "depois" do pretérito imperfeito. Ou seja, algo possível de acontecer na posteridade (o atual presente) de uma situação passada, mas dependente de uma condição.

    Agora notem o verbo "chamou". Pretérito perfeito. O imperfeito não nos ilumina acerca do término de uma ação. Mas o perfeito nos diz claramente: sabemos que Deus chamou o homem. Mas não temos certeza da capacidade do homem de esquecer o criador "a todo instante".

    O homem poderia, a todo instante, esquecer-se do criador, mas há o chamado de Deus, mediante leis da religião, que pode impedir que isso aconteça.

    Nas frases a serem analisadas a pedido da questão, já notamos verbos diferentes:

    "O homem esquece seu criador e Deus chama-o para si"

    A capacidade do homem de esquecer-se de Deus já não aparece mais condicionada. Ele não só é capaz, como o esqueceu. Pela lógica do texto aplicada às frases, se Deus o chama, é porque o homem esqueceu; Deus precisará chamá-lo a si se ele se esquecer do criador; e só o chamado de Deus pode fazê-lo lembrar do criador.

    Agora vamos às alternativas:

    A) Errada: são frases mutuamente excludentes. Se o homem busca o chamado do criador, então ele não o esqueceu. Se ele esqueceu, não vai buscá-lo.

    B) Errada porque aprendemos no texto o seguinte condicional: o homem só esquece o criador "a todo instante", se não houver chamado algum. Se Deus o chama a si, mediante as leis da religião, o homem vai sair do esquecimento. Mas a alternativa diz que mesmo com o chamado de Deus, o homem continua esquecido, o que contraria a lógica do texto.

    C) No texto, Montesquieu usa o "poderia", porque para ele o chamado de Deus impede o esquecimento "a todo instante" do homem. Nesta alternativa, lemos que é possível o homem esquecer do criador. Mas possibilidade remete ao campo da conjectura e suposição. O verbo "possa" tem um tempo verbal que também indica caráter hipotético. Segundo o texto, podemos supor que o homem pode esquecer o criador em alguns momentos, só não pode esquecê-lo o tempo inteiro, por causa do chamado de Deus pelas leis da religião. Em suma: Há a possibilidade de o homem esquecer o criador, mas isso não impede que Deus o chame a si. Tal chamado é o que impede que o olvidamento se realize "a todo instante". A resposta correta é essa alternativa.

    D) Errada, porque se tratam de frases mutuamente excludentes. O chamado de Deus é para fazer o homem se lembrar do criador. Se o homem "não deixa de esquecê-lo", ou seja, se a todo instante se lembra de si e do criador, não é necessário o chamado divino.

    E) Outra alternativa que expressa ideias contraditórias, pois o chamado de Deus anula o esquecimento.