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ID
119047
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              O cosmopolita desenraizado

      Quando Edward Said morreu, em setembro de 2003, após batalhar por uma década contra a leucemia, era provavelmente o intelectual mais conhecido do mundo. Orientalismo, seu controvertido relato da apropriação do Oriente pela literatura e pelo pensamento europeu moderno, gerou uma subdisciplina acadêmica por conta própria: um quarto de século após sua publicação, a obra continua a provocar irritação, veneração e imitação. Mesmo que seu autor não tivesse feito mais nada, restringindo-se a lecionar na Universidade Columbia, em Nova York - onde trabalhou de 1963 até sua morte ?, ele ainda teria sido um dos acadêmicos mais influentes do final do século XX.


      Mas ele não viveu confinado. Desde 1967, cada vez com mais paixão e ímpeto, Edward Said tornou-se também um comentarista eloquente e onipresente da crise do Oriente Médio e defensor da causa dos palestinos. O engajamento moral e político não chegou a constituir um deslocamento da atenção intelectual de Said - sua crítica à incapacidade do Ocidente em entender a humilhação palestina ecoa, afinal, em seus estudos sobre o conhecimento e ficção do século XIX, presentes em Orientalismo e em obras subsequentes. Mas isso transformou o professor de literatura comparada da Universidade de Columbia num intelectual notório, adorado ou execrado com igual intensidade por milhões de leitores.

      Foi um destino irônico para um homem que não se encaixava em quase nenhum dos modelos que admiradores e inimigos lhe atribuíam. Edward Said passou a vida inteira tangenciando as várias causas com as quais foi associado. O "porta-voz" involuntário da maioria dos árabes muçulmanos da Palestina era cristão anglicano, nascido em 1935, filho de um batista de Nazaré. O crítico intransigente da condescendência imperial foi educado em algumas das últimas escolas coloniais que treinavam a elite nativa nos impérios europeus; por muitos anos falou com mais facilidade inglês e francês do que árabe, sendo um exemplo destacado da educação ocidental com a qual jamais se identificaria totalmente.

      Edward Said foi o herói idolatrado por uma geração de relativistas culturais em universidades de Berkeley a Mumbai, para quem o "orientalismo" estava por trás de tudo, desde a construção de carreiras no obscurantismo "pós-colonial" até denúncias de "cultura ocidental" no currículo acadêmico. Mas o próprio Said não tinha tempo para essas bobagens. A noção de que tudo não passava de efeito linguístico lhe parecia superficial e "fácil". Os direitos humanos, como observou em mais de uma ocasião, "não são entidades culturais ou gramaticais e, quando violados, tornam-se tão reais quanto qualquer coisa que possamos encontrar".

            (Adaptado de Tony Judt. "O cosmopolita desenraizado". Piauí, n. 41, fevereiro/2010, p. 40-43)

A afirmação de Edward Said, citada por Tony Judt no final do último parágrafo do texto, busca enfatizar a

Alternativas
Comentários
  • Os direitos humanos,quando violados, tornam-se tão-- reais --quanto qualquer coisa que possamos encontrar".
  • ALGUÉM PODERIA, POR FAVOR, EXPLICAR QUAL O ERRO NA LETRA "B", OBRIGADO.

    QUEM RESPONDER, POR FAVOR, AVISA-ME!
  • TALVEZ O ERRO DA ALTERNATIVA ESTEJA EM DIZER QUE É TRAÇADA UMA EQUIVALÊNCIA ENTRE A VIOLAÇÃO DO DIREITO (O ATO DE VIOLAR) E A REALIDADE, QUANDO, NA VERDADE, A EQUIVALÊNCIA É ENTRE OS DIREITOS VIOLADOS E A REALIDADE.
  • Não entendi ainda o problema da alternativa B. Não percebi ainda a diferença entre violação dos direitos humanos e direitos humanos violados?


  • Eu analisei da forma de interpretar o texto , ou seja, qual conclusão ela busca com a frase. Então a correta seria a letra "a".

  • O meu entendimento foi o seguinte:

    Conforme o autor, os direitos humanos não são entidades culturais ou gramaticais, e quando violados, tornam-se reais como qualquer coisa por nós encontrada.

    Alternativa B: fala de equivalência entre violações (violação dos direitos humanos e violação de outros aspectos da realidade). 

  • Gabarito A, então vejamos: quando ele diz: "Os direitos humanos não são entidades culturais ou gramaticais... (Entendo que ele esta concluindo  que D.H não é apenas uma lei escrita ) , e quando violados, tornam-se tão reais quanto qualquer coisa que possamos encontrar" ( entendo que seria o efeito real que a violação do D.H causa na vida) . Logo, não seria uma relação de equivalência entre a violação do direito humano e outros aspectos da realidade. (como esta na alternativa B). Para mim seria uma relação de causa e efeito. onde a causa ( violação dos D.H) , efeito (  tão reais quanto qualquer coisa que possamos encontrar) ou seja a própria realidade nua e crua. Portanto iria na letra A , Pois foi uma questão de interpretação , observem quando diz : "busca enfatizar..."

  • Eu também errei na letra B. O erro da B é que ela é mais particular, ela não reflete o réu sentido da expressão. Veja:

    A) concretude do sofrimento e da dor daqueles que têm seus direitos violados. --> Esse é o sentido da expressão. Ao afirmar que não são entidades gramaticais ou culturais, o autor busca dizer que as violações são reais, que elas realmente acontecem, dando concretude ao compara-las com qualquer outra coisa que seja real.

    B) equivalência entre a violação dos direitos humanos e outros aspectos da realidade. --> O autor não está querendo apenas igualar a violação de direitos humanos a outros aspectos da realidade. Ele busca, antes disso, mostrar a concretude dessas violações ao dizer que elas não se resumem a entidades culturais ou gramaticais.

    Acho que isso, se tiver errado comenta ai!