- ID
- 1230076
- Banca
- IBFC
- Órgão
- TRE-AM
- Ano
- 2014
- Provas
-
- IBFC - 2014 - TRE-AM - Técnico de enfermagem
- IBFC - 2014 - TRE-AM - Técnico Judiciário - Área Administrativa
- IBFC - 2014 - TRE-AM - Técnico Judiciário - Higiene Dental
- IBFC - 2014 - TRE-AM - Técnico Judiciário - Operação de Computador
- IBFC - 2014 - TRE-AM - Técnico Judiciário - Programação de Sistemas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto
Gente-casa
Existe gente-casa e gente-apartamento. Não tem nada a ver com tamanho: há pessoas pequenas que você sabe, só de olhar, que dentro têm dois pisos e escadaria, e pessoas grandes com um interior apertado, sala e quitinete. Também não tem nada a ver com caráter. Gente-casa não é necessariamente melhor do que gente-apartamento. A casa que alguns têm por dentro pode estar abandonada, a pessoa pode ser apenas uma fachada para uma armadilha ou um bordel. Já uma pessoa- apartamento pode ter um interior simples mas bem ajeitado e agradável. É muito melhor conviver com um dois quartos, sala, cozinha e dependências do que com um labirinto.
Algumas pessoas não são apenas casas. São mansões. Com sótão e porão e tudo que eles, comportam, inclusive baús antigos, fantasmas e alguns ratos. É fascinante quando alguém que você não imaginava ser mais do que um apartamento com, vá lá, uma suíte, de repente se revela um sobrado com pátio interno, adega e solário. É sempre arriscado prejulgar: você pode começar um relacionamento com alguém pensando que é um quarto-e-sala conjugado e se descobrir perdido em corredores escuros, e quando abre a porta, dá no quarto de uma tia louca. Pensando bem, todo mundo tem uma casa por dentro, ou no mínimo, bem lá no fundo, um porão. Ninguém é simples. Tudo, afinal, é só a ponta de um iceberg (salvo ponta de iceberg, que pode ser outra coisa) e muitas vezes quem aparenta ser apenas uma cobertura funcional com qrt. sal. avab. e coz. só está escondendo suas masmorras.
(VERlSSIMO, Luís Fernando.O Melhor das Comédias da Vida Privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004)
O texto é uma crônica. Gênero em que o autor faz uso de várias estratégias lingüísticas para se aproximar do leitor. Todas as opções abaixo podem ser entendidas como uma dessas estratégias no texto de Veríssimo, menos uma. Assinale-a.