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ID
1238149
Banca
FCC
Órgão
TCE-PI
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                        Fundas canções

        “Existirmos, a que será que se destina?" - pergunta um verso de Caetano Veloso em sua bela canção “Cajuína", nascida numa visita a amigo em Teresina. Que faz numa canção popular essa pergunta fundamental sobre o propósito mesmo da vida humana? - perguntarão aqueles que preferem separar bem as coisas, julgando que somente os gêneros “sérios" podem querer dar conta das questões “sérias". O preconceito está em não admitir que haja inteligência - e das fulgurantes, como a de Caetano Veloso - entre artistas populares. O fato é que a pergunta dessa canção, tão sintética e pungente, incide sobre o primeiro dos nossos enigmas: o da finalidade da nossa existência.

        Não seria difícil encontrarmos em nosso cancioneiro exemplos outros de pontos de reflexão essencial sobre nossa condição no mundo. Em “A vida é um moinho", de Cartola, ou em “Esses moços", de Lupicínio Rodrigues, ou ainda em “Juízo final", de Nelson Cavaquinho, há agudos lampejos reflexivos, nascidos de experiências curtidas e assimiladas. Não se trata de “sabedoria popular": é sabedoria mesmo, sem adjetivo, filtrada por espíritos sensíveis que encontraram na canção os meios para decantar a maturidade de suas emoções. Até mesmo numa marchinha de carnaval, como “A jardineira", do Braguinha, perguntamos: “Ó jardineira, por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu?" - para saber que a tristeza dela vem da morte de uma camélia. Essa pequena tragédia, cantada enquanto se dança, mistura-se à alegria de todos e funde no canto da vida o advento natural da morte: “Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu..."

        Mesmo em nosso folclore, compositores anônimos alcançaram um tom elevado na dicção aparentemente ingênua de uma cantiga de roda. Enquanto se brinca, canta-se: “Menina, minha menina / Faz favor de entrar na roda / Cante um verso bem bonito / Diga adeus e vá-se embora". Não será essa uma expressão justa do sentido mesmo de nossa vida: entrar na roda, dizer a que veio e ir-se embora? É o que cantam as alegres crianças de mãos dadas, muito antes de se preocuparem com a metafísica ou o destino da humanidade.


(BARROSO, Silvino, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto.

Alternativas
Comentários
  • A letra C está errada pelo seguinte motivo e não pleo explicado pela colega acima, até porque "uma" não é pronome, mas artigo indefinido. 
    Não se usa crase:

    Antes do Artigo Indefinido [Uma]: Foi submetido a uma cirurgia.

    Exceção: Quando "uma" designa hora: Chegou à uma hora (verificação: Chegou ao meio-dia).

  • O cometário da colega quanto ao item E também está errado, favor jamais é um verbo, pelo amor de Deus, é um sbstantivo: o favor. A rase tá errada pois não pode vir antes de palavra masculina.

    A gente paga esse Qconcursos para ter acesso aos comentários errados é?

    Cadê as questões comentadas por professores???

  • Só uma observação: quando se diz, por exemplo, "chegou à uma hora", o 'uma', no caso, é NUMERAL, não artigo indefinido, razão por que se pode usar a crase.  

  • Qual o erro da letra b?

  • Mário acho que o erro da alternativa B é o "lhes" pois eu acho que diz repeito ao cancioneiro, então deveria ser "lhe".

    Gentileza me corrigir se estiver errado.

     

  • A) GABARITO

    B) O cancioneiro popular é com frequência vítima de preconceitos, segundo o qual lhes (o certo seria lhe) cabe apenas deter-se nos limites já lhe consignados.

    C) É comum e preconceituoso o entendimento de que o compositor popular, atendo-se à (não há crase quando a palavra seguinte é artigo indefinido) uma função que lhe é própria, não se arvore em temas de maior envergadura.

    D) O conceito mesmo de inadequação não se aplicaria à arte, mesmo popular, quando esta se dispor (acredito que o correto seria dispuser, no futuro do subjuntivo) a vencer barreiras em prol de maior seriedade.

    E) Frequentemente surge o preconceito que o compositor popular, uma vez despreparado para os altos temas, deveria aboná-los à favor de (é uma locução prepositiva, logo não precisa da crase por já ter a preposição de) sua própria arte.

    Só pra complementar que o termo "a favor de" também pode ser usado na forma "em favor de".

    Se alguma explicação estiver errada, por favor, avisem-me.