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ID
1239859
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Vaidade do humanismo

        A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor
esforço, pelo nosso trabalho de humanistas.
        Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico,
esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas. 

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Atente para as seguintes afirmações:

I. A condição de humanistas define-se quando o homem mesmo é tomado como a medida essencial das coisas, razão pela qual um humanista deve desconsiderar parcerias com os avanços da tecnologia.

II. Para Edward Said, no ato de ler o leitor busca compreender o ponto de vista do autor, não para necessariamente concordar com ele, mas para reconhecer e ponderar a perspectiva própria do outro.

III. Acima das representações virtuais, oferecidas pela perspectiva tecnológica, está a busca de conhecimento efetivo, da beleza real das coisas e de uma melhor distribuição de justiça social.

Em relação ao texto, está correto o que consta em

Alternativas
Comentários
  • A questão pede que analisemos "em relação ao texto" portanto encontraremos no texto a resposta, ainda que com outras palavras(sinonímia). Nesse tipo de questão não podemos fazer inferências, mas coletar dados superficiais no texto.

    Analisando cada alternativa:

    I. A condição de humanistas define-se quando o homem mesmo é tomado como a medida essencial das coisas, razão pela qual um humanista deve desconsiderar parcerias com os avanços da tecnologia. 

    FALSA, encontramos no texto:

    Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. 

    ->Depreende o texto que é preciso fazer da tecnologia uma aliada preciosa e não a desconsiderar como traz a alternativa. 

    II. Para Edward Said, no ato de ler o leitor busca compreender o ponto de vista do autor, não para necessariamente concordar com ele, mas para reconhecer e ponderar a perspectiva própria do outro. 

    CORRETA. Essa informação está explicita no texto:  “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro.

    III. Acima das representações virtuais, oferecidas pela perspectiva tecnológica, está a busca de conhecimento efetivo, da beleza real das coisas e de uma melhor distribuição de justiça social.

    CORRETO. Também encontramos de forma explícita no texto: Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade.



  • A alternativa I está errada pois: Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa... E não ... desconsiderar parcerias com os avanços da tecnologia.


    As demais está Certas!

  • O gabarito está como letra E, mas achoque o certo é letra A. Os comentários abaixo não levaram em consideração que o gabarito está errado. Alguém poderia me explicar?

  • Como sempre com a FCC nesse tipo de questão, as afirmativas certas são a II e III. 

  • Me desculpem a impertinência, mas nunca vou deixar de sentir um certo desprezo pela FCC quando ela tenta 'inventar moda' na interpretação de texto. Na assertiva III, 'efetivo' não pode ser considerado sinônimo de real, senao de maneira muito vaga; real não pode ser considerado sinônimo de consistente, senão de maneira ainda mais vaga que no primeiro caso e 'mundo mais justo' tem significado mais amplo que 'justiça social'. Logo, a FCC faria muito bem em  formular a questão da seguinte maneira: "Em relação ao texto, está correto, ainda que em termos gerais, o que consta em(...)". Felizmente, nesse caso, não havia opção que desse apenas a II como certa, o que reduz o dano desse mal hábito da FCC. Mas não reduz o receio de ficar à mercê de assertivas discutíveis. Perdoem o desabafo.

  • Luana Campos e demais colegas, descordo do item II. Achei a assertiva falsa, pois quem chega a esta conclusão é o autor do texto e não Edward Said. O que vocês acham?

  • Rafael, concordo com vc. Fiquei mt na dúvida pq já sei q a FCC adora extrapolar o texto (mas se o candidato faz isso..........). Mas acabei marcando a errada. como vc disse, não é Edward q chega nessa conclusão e sim o autor. Não posso deduzir q o Edward queria dizer o q o autor do texto disse. Mas fazer o q.....

  • Estou com Eliza e Rafael. A FCC errou com toda a certeza, uma vez que não podemos extrair do texto que a opinião de seu autor seria a mesma do professor Said. 

    A questão mais séria para nós é: teremos sangue frio de raciocinar assim em uma prova? Levando em conta que a FCC extrapola o texto em suas interpretações, nós candidatos marcaríamos a errada para "acertar" com a FCC? 


    Inclusive, a parte em que se mostra o pensamento de Said está entre aspas, e inclui somente “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. 


  • kkkk

    FCC ta de zoeira. 

  • GAB A

  • Alguém auxilie o tio aqui.

    I. A condição de humanistas define-se quando o homem mesmo é tomado como a medida essencial das coisas, razão pela qual um humanista deve desconsiderar parcerias com os avanços da tecnologia. 

    ERRADO - No texto o autor deixa claro que nesses tempos o desafio é tornar a tecnologia uma aliada. Vejamos o marcados do texto.

    "Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico, esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade.".

    II. Para Edward Said, no ato de ler o leitor busca compreender o ponto de vista do autor, não para necessariamente concordar com ele, mas para reconhecer e ponderar a perspectiva própria do outro. 

    Minha observação: Entre aspas está a seguinte informação: "O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. 

    A partir dai para a opinião de Edward Said e inicia a opinião do autor: "Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas.".

    EU NÃO CONSEGUI ENTENDER COMO A OPINIÃO DO AUTOR PODE SER RELACIONADA DIRETAMENTE À OPINIÃO DE EDWARD, PARECE-ME QUE EMBORA VERDADEIRA A PROPOSIÇÃO, ELA NÃO PERTENCE A EDWARD E SIM AO AUTOR. A NÃO SER QUE ESSA SENTENÇA SEJA UM A CITAÇÃO INDIRETA FEITA PELO AUTOR, EM RELAÇÃO AO QUE PENSA EDWARD, MAS NÃO HÁ NENHUM MARCADOR DE CITAÇÃO NO TEXTO, NÃO AO MENOS NESSE PONTO, O QUE, EM MINHA HUMILDE OPINIÃO, TORNA O GABARITO ERRADO.

    ALGUÉM CONSEGUE ME EXPLICAR ISSO?

  • Acredito que quando o autor faz uso de ''Nesse Sentido'' ele resume ou conclui a frase de Edward Said. Por isso, a banca deu como certa a II.

    '' Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente por adesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas.".

    Bem estranha mesmo.