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ID
1239868
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Vaidade do humanismo

        A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor
esforço, pelo nosso trabalho de humanistas.
        Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico,
esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas. 

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Considerando-se o contexto do primeiro parágrafo, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:

Alternativas
Comentários
  • Letra E

    no texto ->  Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar 

    Antes reconhecer do que descartar = admitir em vez de rejeitar.

  • Não se trata de uma questão exata de alternativas certas e erradas. Mas me parece que se pede a alternativa mais adequada, ou seja, na dúvida, marque a "mais certa".

  • A alternativa correta encontra-se no próprio texto (como tenho percebido na vasta maioria de questões sobre interpretação e compreensão da FCC - tudo está no texto, por vezes com palavras diferentes. Portanto, evitem subjetividade). Como já dito, o trecho é "Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar ".

    A letra "e" nada mais é que uma sinonímia do trecho supra e sua tradução é óbvia.

  • A minha dúvida ficou justamente em afirmar que "Antes reconhecer" pode ser equiparada com "admitir". Mas está correto, pois,outro sentido seria  se fosse usado "conhecer" em vez de reconhecer, ou seja, conhecer dá margem para outra conclusão e reconhecer já dá a ideia de concordância.

  • D) Contingência

    1 - Qualidade do contingente; 

    2 - Eventualidade, possibilidade de que alguma coisa aconteça ou não.

    3 - Incerteza se algo acontecerá ou não.

    Uma contingência é algo que pode acontecer (definição metafísica) ou algo que não sabemos se pode acontecer ou não (definição epistemológica). (wikipedia)

  • só uma dúvida...nesse caso não deveria ser "ao invés"?

  • LUIS PRATO,

    "em vez de" - significa "no lugar de". Enxergo a expressão como um "caso geral" em relação ao "ao invés de" (já explico o porquê).

        Ex.: Comi pizza em vez de salada.

     

    "ao invés de" - é utilizado em casos de ideias contrárias. Não poderia ser utilizado no exemplo anterior (pizza não é o contrário de salada, por exemplo).

        Ex.: Mandei ele falar ao invés de ficar calado (falar <> ficar calado)

     

    OBS.: poderia ter usado "Mandei ele falar em vez de ficar calado" - por isso a ideia "caso geral" do "em vez de".

     

    Bons estudos!!!

  • Interpretações de texto sempre estarão no campo da subjetividade. Pra quem é da área de exatas, como eu, acaba sofrendo um pouco mais com essa complexa disciplina!