SóProvas


ID
1250647
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Vaidade do humanismo

        A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor
esforço, pelo nosso trabalho de humanistas.
        Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico,
esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas. 

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • O erro da letra "e" está em ao atribuir - deveria ser ao atribuirem 

  • Letra (b)


    Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalhoHumanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”.

  • Alguns comentários viajantes... Vou tentar me manter na Terra, especificamente na prova da FCC:

    a) Incorreta. "... de trabalho já parece ali consolidado, tal uma plataforma de altas sugestões". ( Sem sentido. Ficou incompleto: "tal qual" deveria ter sido usado para que o intuito de comparação se efetive. É possível usar "tal" sozinho, porém em outro contexto. Ex. "Tal homem se diz um profeta".)

    b) Correta. Conjugação do verbo dispor no presente do subjuntivo, usando quem como sujeito. (Ainda tenho dúvidas e será muito bem vinda uma ajuda)

    c) Incorreto. Depois de cujo (ideia de posse) não se usa pronome. "cujo o". Regra básica do português para você rezar para a sua banca deus!

    d) Incorreta. Uso de "onde" sem a presença de indicação de lugar. Poderia ter trocado por "pelo qual".

    e) Incorreta. Achei a mais difícil. Vejam se entendem assim também: a frase começa falando de Edward Said, coloca uma vírgula para citar coisas paralelas referente ao livro dele e, ao longo da frase, continua falando das coisas paralelas e o Edward Said ficou esquecido, coitado! A frase dá uma sensação de que irá nos contar algo sobre ele e de repente: cadê ele?

  • Adriana, em relação à letra D, outro erro da questão é a conjugação do verbo dispor. No caso, o correto seria: "Quem se DISPUSER a desenvolver...".

  • Apenas para acrescer: acredito que o erro da letra "E" também esteja no uso inadequado da vírgula, separando incorretamente as orações o que acarretou  a confusão

  • Acredito que o erro da letra e tb está na desconformidade com seu complemento: atribuir é um verbo transitivo direito e indireto (quem atribui, atribui algo a alguém) logo requer como complemento um OD e um OI. Na frase "ao atribuir a seu livro o título", faltou a preposição do OI, o certo seria "ao atribuir ao seu livro o título"

  • a) Um autêntico sentido de prática humanista se infere do título do livro de Edward Said, pelo qual uma inspiração de trabalho já parece ali CONSOLIDADA, tal uma plataforma de altas sugestões. ERRADO - CONCORDÂNCIA NOMINAL - UMA INSPIRAÇÃO... CONSOLIDADA

    b) O título mesmo do livro de Edward Said é considerado uma inspiração, uma plataforma de trabalho para quem se disponha a exercer o papel de um autêntico humanista. CORRETO

    c) Já pela sugestão, o livro de Edward Said, cujo o título é tão inspirador, torna-se também uma plataforma de trabalho para quaisquer humanistas que dele se acerquem e por ele se interessem.ERRADO. 
    NÃO SE COLOCA ARTIGO NEM ANTES NEM DEPOIS DE "CUJO" - O LIVRO CUJO TÍTULO..

    d) Quem se DISPUSER a desenvolver uma plataforma de trabalho encontrará plena inspiração já no título do livro de Edward Said, ONDE (errado) sugestão de humanismo é inequívoca. ERRADO - só se usa o termo "ONDE" que é pronome relativo quando o termo que o anteceder for um lugar físico.

    e) Edward Said, ao atribuir a seu livro o título que tanto condiz com sua plataforma de trabalho, já por SI MESMO o fez inspirador para quem o instigue como meta de um verdadeiro humanismo. ERRADO - o termo 
    "já por si mesmo" é ambíguo, assim não tem como saber a que termo se refere.


  • O título mesmo do livro de Edward Said é considerado uma inspiração, uma plataforma de trabalho para quem se disponha a exercer o papel de um autêntico humanista.

    Porque o "mesmo" está correto?

  • camila sampaio me confundi na questão também, mas acredito que achei a resposta na gramatica do Bechara:

    Segundo as palavras dele: usa-se MESMO como reforço de demonstrativo preso a substantivos ou pronomes.

    O que confunde na questão é a adição de vários Adj Adnominais em uma ordem não direta. Se fossemos tirar esses complementos, a frase ficaria "O titulo mesmo é considerado uma inspiração". Ou num exemplo mais recorrente: "Ele mesmo é uma inspiração".

  • O verbo dispor pode vir na forma conjugada "disponha" nos seguintes casos: presente do subjuntivo, com os pronomes retos eu e ele(a) - 'Que eu disponha, 'que ele(a) disponha'. Ou no imperativo afirmativo e negativo, ambos conjugados com o pronome você - 'disponha você', 'não disponha você'.

    No caso em tela, há conjugação pronominal do verbo (dispondo-se) no presente do subjuntivo (se disponha) na terceira pessoa do singular (ele se disponha), sendo equivalente na frase ao 'ele', o pronome interrogativo 'quem', ficando, portanto, correto o trecho 'QUEM SE DISPONHA'.

    OBS: é minha primeira colaboração aqui no QC explicando mesmo uma resposta. Espero que esteja correta e espero ter ajudado, assim como tantos de vocês me ajudam com suas respostas. Era nesse nível que eu queria chegar.

  • CORREÇÃO DAS ALTERNATIVAS:

    LETRA A) Um autêntico sentido de prática humanista se infere do título do livro de Edward Said, pelo qual uma inspiração de trabalho já parece ali consolidado, tal uma plataforma de altas sugestões.

    Correção: A alternativa apresenta erro de concordância nominal, sendo que o certo é CONSOLIDADA, pois se refere à INSPIRAÇÃO. (palavras no feminino).

    LETRA C) Já pela sugestão, o livro de Edward Said, cujo o título é tão inspirador, torna-se também uma plataforma de trabalho para quaisquer humanistas que dele se acerquem e por ele se interessem.

    Correção: É inadmissível artigo antes ou depois do pronome relativo cujo.

    LETRA D) Quem se dispor a desenvolver uma plataforma de trabalho encontrará plena inspiração já no título do livro de Edward Said, onde a sugestão de humanismo é inequívoca.

    Correção: O certo é quem se DISPUSER, sendo que este verbo conjuga-se igual o verbo PUSER.

    LETRA E) Edward Said, ao atribuir a seu livro o título que tanto condiz com sua plataforma de trabalho, por si mesmo o fez inspirador para quem o instigue como meta de um verdadeiro humanismo.

    Correção: Já por si mesmo o está se referindo a quem? A informação está vaga e imprecisa, refere-se a Edward Said? A livro? A título?

    GABARITO: LETRA B.