SóProvas


ID
1260391
Banca
VUNESP
Órgão
FUNDUNESP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

Foi no pátio da escola, à hora do recreio. Eugênio abaixou-se para apanhar a bola de pano, e de repente atrás dele alguém gritou:

- O Genoca tá com as carça furada no fiofó!

Os outros rapazes cercaram Eugênio numa algazarra. Houve pulos, atropelos, pontapés, cotoveladas, gritos e risadas: eram como galinhas correndo cegas a um tempo para bicar o mesmo punhado de milho. No meio da roda, atarantado e vermelho, Eugênio tapava com ambas as mãos o rasgão da calça, sentindo um calorão no rosto. Os colegas romperam em vaia frenética:

Calça furada!
Calça furada!
Calça furada-dá!

Gritavam em cadência uniforme, batendo palmas. Eugênio sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Balbuciava palavras de fraco protesto, que se sumiam devoradas pelo grande alarido.

Calça furada-dá!
No fio-fó-fó-fó!
Oia as calça dele, vovó!
Calça furada-dá!

Do outro lado do pátio, as meninas olhavam curiosas, com ar divertido, pulando e rindo. Em breve começaram a gritar também, integrando-se no coro, num alvoroço de gralhas.

O vento da manhã levava no seu sopro frio aquelas vozes agudas, espalhava-as pela cidade inteira, anunciando a toda a gente que o menino Eugênio estava com as calças rasgadas, bem naquele lugar... As lágrimas deslizavam pelo rosto do rapaz e ele deixava que elas corressem livres, lhe riscassem as faces, lhe entrassem pela boca, lhe pingassem do queixo, porque tinha ambas as mãos postas como um escudo sobre as nádegas. Agora, de braços dados, os rapazes formavam um grande círculo e giravam de um lado para outro, berrando sempre: Calça furada! Calça furada! Eugênio cerrou os olhos como para não ver por mais tempo a sua vergonha.

Soou a sineta.

Terminara o recreio. Na aula, Eugênio sentiu-se humilhado como um réu. Na hora da tabuada, a professora apontava os números no quadro-negro com o ponteiro, e os alunos gritavam em coro:

Dois e dois são quatro!
Três e três são seis!

E o ritmo desse coro lembrava a Eugênio a vaia do recreio. Calça furada-dá!

Que vergonha! O pai estava devendo o dinheiro do mês passado, a professora tinha reclamado o pagamento em voz alta, diante de todos os alunos. Ele era pobre, andava malvestido. Porque era quieto, os outros abusavam dele, botavam-lhe rabos de papel... Sábado passado ficara de castigo, de pé num canto, por estar de unhas sujas. O pior de tudo eram as meninas. Se ao menos na aula só houvesse rapazes... Meu Deus, como era triste, como era vergonhoso ser pobre!

(Erico Verissimo, Olhai os lírios do campo, Companhia das Letras, 2005. Adaptado)

Releia o período a seguir.

Porque era quieto, os outros abusavam dele, botavam-lhe rabos de papel...

Assinale a alternativa que indica a relação que a conjunção Porque estabelece entre as orações e apresenta a substituição correta da expressão em destaque, sem alte ração do sentido do texto

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra A

    Porque junto e sem acento é conjunção com sentido de causa ou motivo (=já que, visto que, uma vez que, etc.)

  • Letra A

    Causa: era quieto

    Consequência: os outros abusavam dele

  • Porque pode ser conjunção explicativa nas orações coordenadas e conjunção de causa nas orações subordinadas. As conjunções são praticamente iguais. Tomar cuidado!!

  • Nem era necessário saber que "como" é uma conjunção subordinativa causal, atenham a regra de que TODO "porque" junto e sem acento exprime ideia de causa. 

    Gabarito letra A.

  • A causa antecede o fato principal. Qual é o fato principal? Os outras abusavam dele. Causa é motivo. Já que, visto que, uma vez que, porquanto era quieto, os outros abusavam dele.

  • Alguém pode explicar, por favor, por que não é explicativa?

    Então, a causa dele ser quieto é que "os outros abusavam dele, botavam-lhe rabos de papel"? Não faz sentido essa ideia para mim.

  • Jéssica,


    Não é explicativa porque as orações não são independentes sintaticamente. Para ser explicativa, a oração deve ser coordenada(independente sintaticamente) e não subordinada(dependente sintaticamente). Vamos lá:


    "Porque era quieto, os outros abusavam dele"

    Se você tentar escrever os trechos separados, um deles não terá sentido. Observe:

    - "os outros abusavam dele": essa tem sentido, só fica a pergunta no ar: por quê?

    - "Porque era quieto": Veja que este trecho não tem sentido se não estiver relacionada à anterior.


    Neste caso temos um período composto por subordinação e, já que identificamos que a oração é subordinada, só falta verificar que tipo de subordinação ela exerce em questão.


    Aí vai a pergunta:


    Qual é a causa de "os outros abusarem dele"?

    R: "Porque (ele)era quieto" ==> é a causa, logo, temos uma oração subordinada adverbial causal.



    Espero ter esclarecido sua dúvida.

  • Nossa lindo e emocionante texto - Erico Verissimo, uma realidade ainda muito presente nas escolas, da qual se constitui engendra o Bullying

    Letra A. Os outros abusavam dele, por quê? Por que era quieto (causa).

  • Alt(A)

    BIZU

    Não confundir CAUSAL com EXPLICATIVO

     

    Causal - Verbo no indicativo

    Exemplos :Ele não se atrasa, pois não deseja ser demitido.

    Ele não chegou, pois está preso no trânsito

    Explicativo - Verbo no imperativo preferencialmente no futuro 

    Exemplos: Pega a cerveja, pois estou sede.

    Volta logo, pois está tarde.

  • FATO de Fez com que ......... causal 

  • Causa SEMPRE tem consequência e vice versa.

    A

  • Marcelo Braga, Parabéns!!!

  • Assertiva A

    Causa; Como era quieto, ...